As pessoas infectadas pelo novo coronavírus e que sofrem de esquizofrenia têm 2,7 vezes mais probabilidade de morrer de covid-19 do que quem não apresenta o transtorno mental, de acordo com estudo feito pela Universidade de Nova York (NYU), nos Estados Unidos, publicado na revista médica JAMA Psychiatry na última quarta-feira (27).
Essa descoberta coloca o distúrbio psiquiátrico como o segundo fator de risco mais perigoso para a doença que já matou mais de 2 milhões de pessoas em todo o mundo, atrás apenas da idade — os idosos são mais propensos a apresentar complicações depois de contrair o vírus.
De acordo com o professor de psiquiatria da Escola de Medicina da NYU Donald Goff, o resultado da pesquisa era esperado, mas mesmo assim não deixou de ser surpreendente. Estudos anteriores já indicavam uma ligação entre os transtornos psiquiátricos e o aumento do risco de morte em caso de covid-19, mas não desvendaram a relação entre a esquizofrenia e o coronavírus.
Alucinações, delírios e outros episódios de psicose são comuns entre os esquizofrênicos.Fonte: Unsplash
Uma das possibilidades levantadas por ele é de que a doença conhecida por afetar o humor e a percepção da realidade ou algum dos remédios usados para tratá-la esteja perturbando o sistema imunológico, facilitando a ação do Sars-CoV-2. Porém, ainda não há prova definitiva disso.
Descobertas
Para chegar a tal conclusão, os pesquisadores da NYU analisaram um total de 7.348 registros de adultos com covid-19 em Nova York, atendidos em 260 clínicas e quatro hospitais, entre os dias 3 de março e 31 de maio do ano passado, no pico da pandemia na cidade.
Deste total, 14% dos pacientes apresentaram diagnóstico de transtorno psiquiátrico e foram divididos em três grupos: os que sofrem de esquizofrenia, os de ansiedade e os com transtornos de humor. Na sequência, os pesquisadores compararam os dados deles com os de infectados sem tais distúrbios, calculando as taxas de mortalidade dos doentes em até 45 dias após testarem positivo.
Os pesquisadores analisaram mais de 7 mil registros de pacientes infectados.Fonte: Unsplash
Os diagnosticados com esquizofrenia apresentaram uma taxa de mortalidade 2,7 vezes maior, enquanto a ansiedade e os transtornos de humor acabaram não aparecendo como fator de risco. E como outros parâmetros também foram levados em conta, a equipe fez mais descobertas.
Segundo o estudo, pessoas com idade entre 45 e 54 anos têm 3,9 vezes mais chances de morrer de covid-19 do que os mais jovens, com o risco dobrando a cada 10 anos após os 54 anos, independente de qualquer problema de saúde mental. Já os diabéticos e aqueles com insuficiência cardíaca tiveram o risco de morte aumentado em 1,65 e 1,28 vezes, respectivamente.
Prioridade na vacinação
Conforme os autores, são necessários novos estudos para verificar se há algum motivo biológico específico pelo qual os esquizofrênicos correm um risco maior de morte após se infectarem com o novo coronavírus. Eles também pretendem verificar se o momento em que os registros foram feitos influenciou de alguma forma no resultado.
Na época da coleta das informações, a cidade de Nova York vivia o seu momento mais difícil da pandemia, com o sistema de saúde sobrecarregado e altas taxas de mortes. Além disso, os tratamentos não eram tão eficazes quanto agora.
Mesmo com essas dúvidas, Goff acredita que a descoberta já é suficiente para colocar as pessoas que sofrem de esquizofrenia no grupo prioritário para receber a vacina contra o novo coronavírus o quanto antes.
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