Plutão sempre foi o nono planeta, até perder o posto para um corpo misterioso cinco vezes mais massivo do que a Terra e com uma órbita 800 vezes mais longe do Sol do que a do nosso planeta. Nenhuma das sondas que hoje seguem para fora do nosso Sistema Solar (as duas Voyagers e a New Horizons) topou com o Planeta Nove — mas a observação de um sistema a 336 anos-luz de distância pode nos dar pistas de como ele seria, por onde anda e por que não conseguimos achá-lo.
Examinando as imagens captadas pelo telescópio espacial Hubble do sistema estelar duplo HD 106906, localizado na constelação do Cruzeiro do Sul, astrônomos da Universidade da Califórnia e do Observatório Europeu do Sul (ESO) determinaram que um exoplaneta do sistema parece reproduzir o mesmo comportamento do pretenso Nono Planeta: sua órbita ao redor da dupla de estrelas é tão aberta que ele leva 15 mil anos para completá-la.
Segundo os pesquisadores, sua órbita pode ser resultado da ação de uma estrela passando pelas redondezas, que estabilizou a trajetória do exoplaneta longe do sistema binário — o mesmo pode ter acontecido há 4,6 bilhões de anos em nosso próprio quintal.
"Esse sistema traça uma comparação potencialmente única com o nosso Sistema Solar. O exoplaneta está amplamente separado de suas estrelas em uma órbita excêntrica e altamente desalinhada, do mesmo jeito que pensamos estar o planeta Nove”, explicou o principal autor do artigo, o astrônomo Meiji Nguyen.
Órbita bizarra
O HD 106906 b é gigantesco (11 vezes maior que Júpiter) e sua órbita está além do disco de detritos semelhante ao nosso Cinturão de Kuiper, um agrupamento de corpos gelados além da órbita de Netuno (o planeta Nove também estaria além desse agrupamento). Os astrônomos já sabiam de sua existência desde 2013, mas não tinha ciência do traçado de sua trajetória ao redor do sistema duplo de estrelas.
Foram necessários anos de medições precisas do Hubble de sua órbita para descobrir que o exoplaneta está bizarramente distante do par de estrelas no centro do sistema — mais de 730 vezes a distância entre a Terra e o Sol.
Além de rastejar pelo espaço, o HD 106906 b faz isso completamente fora do plano onde está o disco de detritos ao redor das estrelas — este também é deformado, provavelmente por conta da atração gravitacional que o planeta exerce sobre ele.
Vazio interestelar
A pergunta seguinte que os astrônomos fizeram foi como o planeta foi parar tão distante das estrelas no centro do sistema e em uma órbita tão inclinada. A conclusão a que chegaram foi que o HD 106906 b deve ter-se formado perto delas, sendo gradativamente puxado para o centro pela força do arrasto do disco de gás do sistema.
Mas ali não havia uma, mas duas estrelas orbitando uma à outra, e a força gravitacional do par jogaram-no para fora e longe do sistema, no vazio do espaço interestelar. Uma estrela que passava teria estabilizado a órbita do exoplaneta, impedindo-o de se tornar um planemo (um planeta sem estrela a qual orbitar).
O paralelo com o HD 106906 b se torna ainda mais forte se levarmos em conta que o afastamento e posterior mudança de rota do planeta Nove podem ter acontecido no início da formação do Sistema Solar, há 4,6 bilhões de anos — aquele que hospeda o exoplaneta tem 15 milhões de anos.
Categorias