Ver fotografias de família (e pinturas de membros de casas reais) confirma o ditado: “A voz do sangue fala mais alto”. São os genes que falam, na verdade, mas qual deles? Essa foi a pergunta que pesquisadores da Universidade de Pittsburgh se fizeram, examinando o DNA de oito mil pessoas para respondê-la.
O estudo reuniu o antropólogo Seth M. Weinberg e o geneticista John R. Shaffer, empenhados em “descobrir os fatores biológicos que estão por trás das semelhanças e diferenças na aparência facial entre os humanos”.
Casamentos interfamiliares produziram o famoso "Queixo dos Habsburgo", característico dessa casa real.Fonte: Museo del Prado/KHM-Museumsverband/Reprodução
Segundo os autores, “até muito recentemente, os geneticistas não tinham praticamente nenhuma compreensão de quais partes do nosso DNA estavam ligadas até mesmo aos aspectos mais básicos da aparência facial. Essa lacuna em nosso conhecimento era particularmente irritante, uma vez que a aparência facial desempenha um papel tão importante nas interações humanas básicas. A disponibilidade de grandes conjuntos de dados combinando informações genéticas com imagens faciais que podem ser medidas acelerou o ritmo das descobertas”.
Para descobrir como a expressão do nosso genoma se traduz em nossos rostos, o DNA de 8 mil pessoas foi examinado para a identificação, entre 7 milhões de marcadores genéticos, de mais de 130 regiões nos cromossomos associadas a partes do nosso rosto, como queixo, olhos, boca, formato da face, testa etc.
Nariz em destaque
“Quando encontramos uma associação estatística entre uma característica facial e um ou mais marcadores genéticos, isso nos aponta para uma região muito precisa do DNA em um cromossomo”, disse Weinberg, em artigo recente para o site The Conversation.
Segundo os pesquisadores, se o nariz é o componente da face mais influenciado pelos genes, as bochechas (que mais mudam durante nossa vida) é a parte do rosto menos determinada por eles.
Como o cromossomo 2 influencia na forma de nosso rosto.Fonte: The Conversation/White e Indencleef/Reprodução
“As maneiras como esses genes influenciam o formato facial não são uniformes. Descobrimos que alguns genes tinham efeitos altamente localizados e afetavam áreas muito específicas do rosto, enquanto outros tinham efeitos amplos envolvendo várias partes”, explicou Shaffer.
Outra descoberta é que os mesmos genes que delineiam nosso rosto também sobrepõem sua influência na formação de partes diferentes do corpo, o que, para Shaffer, “fornece uma pista importante sobre por que muitas síndromes genéticas são caracterizadas por malformações do rosto e também das mãos.”
Uma delas é a síndrome de Apert, que provoca o desenvolvimento anormal da caixa craniana. Crianças com esse distúrbio genético nascem com a cabeça e o rosto deformados; muitas ainda apresentam defeitos congênitos nas mãos e nos pés.
Além dos genes
Para Weinberg, a face humana é determinada menos pelos genes e mais pelo ambiente. Traços mais complexos, como o formato do rosto e os ângulos da face, são influenciados por fatores não biológicos, como a idade, a dieta, o clima, a exposição ao sol e traumas sofridos.
Gêmeos idênticos nem sempre têm rostos iguais.Fonte: Hypeness/Peter Zelewski/Reprodução
Em uma época em que muitos acreditam ser possível uma vacina modificar o código genético de um indivíduo (spoiler alert: não pode), Weinberg diz que é impossível alguém, usando uma amostra do seu DNA, reproduzir o seu rosto.
“Prever a aparência de alguém é uma tarefa muito difícil: as mais de 130 regiões genéticas que identificamos explicam menos de 10% da variação na forma facial. No entanto, mesmo se entendêssemos todos os genes envolvidos na aparência do rosto, a previsão ainda seria um desafio monstruoso”, concluiu ele.
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