Em março do ano passado, o Brasil perdeu a certificação de país livre do sarampo, conferido pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS) e conquistada em 2016. Não estamos sozinhos nisso: segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de crianças contaminadas pela doença em 2019 foi o maior em 23 anos. Pior: as mortes globais por sarampo aumentaram quase 50% desde 2016, chegando a 207.500 vidas (quase 25% dos casos registrados no ano passado).
Esse e outros dados constam de um estudo publicado agora pela OMS e os Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC). Segundo o levantamento, o combate ao sarampo avançou entre 2010 a 2016. A partir daí, o número de notificações começou a subir progressivamente, graças principalmente às falhas nas coberturas vacinais.
“Sabemos como prevenir o sarampo, mas esses dados mostram que não estamos conseguindo fazer isso”, disse o diretor-geral da OMS, o médico Tedros Adhanom Ghebreyesus.
Para que os surtos não aconteçam, a OMS estima que 95% da população de uma comunidade precisem ser imunizados. Porém, desde 2016 a cobertura vacinal não cresce: a da primeira dose da vacina (MCV1, cujo principal alvo são as crianças de até um ano) está estagnada globalmente há mais de uma década em 85%, enquanto a da MCV2 (para crianças de 15 meses) tem aumentado, mas ainda está em 71%.
Uma luta à custa de outra
Por conta da pandemia de covid-19 e as ações de distanciamento social, os casos de sarampo em 2020 são menores do que os do ano passado, mas esta não é uma boa notícia. Os esforços para deter a pandemia resultaram na interrupção das campanhas de vacinação, paralisando ações de prevenção e contenção de surtos da doença.
As vacinas são entregues, muitas vezes, na garupa de uma moto.Fonte: OMS/S. Gborie/Divulgação
Este mês, 94 milhões de pessoas em 26 países (muitos, enfrentando surtos contínuos da doença) poderão não ser imunizadas por causa da suspensão das campanhas de vacinação.
“Antes da pandemia, o mundo já estava lutando contra o sarampo. Agora, os sistemas de saúde estão sobrecarregados, mas a luta contra uma doença mortal não pode acontecer às custas de outra frente de batalha”, disse a diretora executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Henrietta Fore.