Em 2030, um em cada três japoneses terá 65 anos ou mais. Esse dado é preocupante à luz do estudo de uma equipe de pesquisadores da Universidade de Okayama sobre a incidência e mortalidade da doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD) no Japão. Mesmo considerada um transtorno cerebral raro, casos da doença quase dobraram em uma década.
O tecido cerebral humano, visto sob microscópio, exibe os buracos esponjosos causados pela doença de Creutzfeldt-Jakob.Fonte: CDC/Divulgação
A variante mais comum da doença é a CJD esporádica (sCJD), responsável por 85% dos casos e com ocorrência ao fim da meia-idade (por volta dos 60 anos). O estudo, publicado agora no jornal Scientific Reports, é um retrato do progresso da doença no país entre 2005 e 2014.
“Apesar da sCJD ser uma doença rara, o fenômeno do envelhecimento da população pode desencadear um aumento na incidência da CJD”, disse em comunicado o principal autor da pesquisa, o médico especialista em saúde pública Yoshito Nishimura.
Mais idosos
Foram analisadas estatísticas vitais nacionais sobre mortes associadas a sCJD entre indivíduos com mais de 50 anos. Os pesquisadores também recorreram aos dados de vigilância de casos da doença – um serviço financiado pelo governo japonês.
Os resultados mostraram que, em menos de uma década, o número absoluto de mortos aumentou significativamente, assim como os de mortalidade e da incidência de casos de demência associadas à sDCJ. Os registros da doença aumentaram em média 6,4% ao ano, principalmente entre idosos acima de 70 anos.
Hoje, 20% da população japonesa está acima dos 60 anos.Fonte: Getty Images/Reprodução
Outros países têm experimentado um aumento nas taxas de mortalidade anuais de sCJD nos últimos 20 anos, mas o estudo aponta que os números no Japão estão acima daqueles divulgados pela Rede Internacional de Vigilância da Doença de Creutzfeldt-Jakob.
Segundo Nishimura, “ao contrário de outros tipos de demência, que progridem de forma relativamente lenta, os pacientes com sCJD sofrem de uma forma que avança rapidamente. Assim, é urgente encontrar estratégias eficazes para melhorar a qualidade de vida dos pacientes e reduzir a sobrecarga dos cuidadores”.
Há cinco anos, mais de 4,7 milhões de japoneses viviam com demência, e esse número deve crescer para 7 milhões em 2025. ”A sCJD, embora rara, será mais prevalente na próxima década. Legisladores e autoridades de saúde podem usar nossas descobertas para estabelecer políticas de saúde eficazes”, conclui Nishimura.
Destruição silenciosa
A doença de Creutzfeldt-Jakob, degenerativa e fatal, é causada pela deformação de príons, uma proteína que existe em nosso cérebro, de função ainda desconhecida.
Príons deformadas (em vermelho) contaminam neurônios de camundongo através dos axônios, usados pelas células nervosas para se comunicarem.Fonte: NIH/Divulgação
Raramente, elas se deformam mas, quando acontece, levam príons normais a fazer o mesmo. Silenciosa e inexoravelmente, elas destroem o cérebro de dentro para fora, transformando-o em uma esponja repleta de buracos. Príons deformadas podem se tornar infecciosas, espalhando-se entre seres humanos e mesmo em animais.