O método mais usado para se encontrar exoplanetas é aquele que observa o decaimento do brilho de uma estrela em intervalos regulares de tempo – o chamado método de trânsito. Dois astrônomos, porém, resolveram reverter essa perspectiva e imaginar quais planetas cujas estrelas estejam em linha direta com a Terra, se fossem habitados, estariam em posição de usar esse mesmo recurso para nos descobrir.
O exercício rendeu uma lista de mais de mil estrelas próximas cujos planetas em sua órbita podem abrigar vida inteligente o bastante para fazer o mesmo que nós: tentar detectar vida extraterrestre.
“Revertemos o ponto de vista para o de outras estrelas e nos perguntamos de que perspectiva outros observadores poderiam encontrar a Terra como um planeta em trânsito. Se os observadores estivessem procurando planetas orbitando estrelas como a nossa, eles seriam capazes de ver sinais de uma biosfera na atmosfera de nosso planeta?", disse, em comunicado, a astrônoma e diretora do Instituto Carl Sagan da Cornell University, Lisa Kaltenegger, principal autora do estudo publicado agora na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society: Letters.
Quem pode nos ver?
Ela e o astrônomo da Lehigh University Joshua Pepper identificaram em um raio de 300 anos-luz da Terra 1.004 estrelas semelhantes ao nosso Sol que poderiam ter, orbitando à sua volta em zonas habitáveis, planetas parecidos com o nosso – e, se tem gente por lá, eles seriam capazes de nos captar por telescópios e detectar vestígios químicos de vida em nossa atmosfera.
O método de trânsito é o usado pelo Transiting Exoplanet Survey Satellite (TESS) da NASA, cuja missão é varrer o Cosmos em busca de exoplanetas. A dupla de astrônomos usou, para criar sua lista das mil estrelas mais próximas, o catálogo do observatório espacial, respondendo à pergunta “Quais sistemas estelares podem nos encontrar?”.
O ponto de partida para determinar quem pode estar nesse exato momento nos encarando foi o plano da órbita da Terra ao redor do Sol: uma eclíptica. É nela que os exoplanetas com vista para a Terra estariam localizados. Observadores extraterrestres veriam o que nós vemos: um planeta passando em frente à sua estrela e efetivamente mostrando como descobrir se há por aqui uma biosfera.
“Apenas uma pequena fração dos exoplanetas estará alinhada aleatoriamente com nossa linha de visão para que possamos vê-los em trânsito. Mas todas as mais de mil estrelas na vizinhança solar que identificamos em nosso artigo podem ver nossa Terra passando em frente ao Sol”, disse Pepper.
Mapa estelar
Até agora, nosso catálogo de exoplanetas conta com mais de 4 mil nomes, descobertos através do método de trânsito. Ele detecta a mais ínfima queda no brilho de uma estrela, causada quando um planeta passa em frente à luz, interpondo-se entre a estrela e as lentes dos telescópios espaciais – tanto o Kepler quanto seu sucessor, o TESS.
Se tudo der certo, depois de muitos atrasos chegará ao espaço aquele que tomará para si a tarefa de achar vida lá fora: o Telescópio Espacial James Webb, que deve ser posto em posição a 1,5 milhão de quilômetros da Terra e ativado em meados do ano que vem.
Com ele, os astrônomos serão capazes de examinar a atmosfera de alguns planetas em trânsito mais próximos, procurando sinais de vida. A ele se juntará, no futuro, o monumental Telescópio Gigante de Magalhães, hoje sendo construído pela Universidade do Arizona.
“Acabamos de criar o mapa estelar de onde devemos olhar primeiro”, resumiu Kaltenegger.
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