Ampliar (Fonte da imagem: Wikimedia Commons)
Uma evolução dos trajes pressurizados para voos em grandes altitudes, as roupas de astronauta são, para muitos, um símbolo da capacidade de adaptação para o ser humano, uma vez que seria simplesmente impossível alcançar o espaço sem elas.
Várias décadas depois da criação do traje, esses equipamentos já evoluíram muito, ganhando sistemas de propulsão e aguentando períodos ainda maiores no espaço. Mas o fato é que, embora sejam um milagre da engenharia, os primeiros trajes tiveram uma origem um tanto humilde, de acordo com o livro Fashioning Apollo, do escritor Nicholas de Monchaux.
De sutiãs a trajes espaciais
A maioria das pessoas que está lendo este texto deve pensar que os primeiros modelos de roupas espaciais usados pelos astronautas foram projetados pela própria NASA ou alguma agência semelhante. Mas a verdade é muito mais simples: a empresa criadora do traje foi na verdade uma fabricante de sutiãs e cintas, chamada Playtex.
Formado por um pequeno grupo de costureiros e engenheiros, liderados por um mecânico de carros e um ex-reparador de TVs, o projeto da Playtex (na época, “International Latex Corporation” ou ILC) não poderia ser considerado uma piada maior.
Isso porque, para conseguir um contrato com a NASA, o grupo precisaria vencer outras duas empresas muito maiores e com mais recursos. Além disso, os trajes das outras companhias eram compostos de partes sólidas (que as faziam parecer armaduras com capacetes), enquanto a roupa da Playtex era quase que completamente maleável.
(Fonte da imagem: Wired Magazine)
Para a época, a ideia era completamente ridícula, já que ninguém acreditava na possibilidade de um traje sem várias placas sólidas conseguir proteger os astronautas da pressão do espaço. Mas a roupa resistiu aos testes e sua qualidade se provou superior à das outras duas empresas, o que foi suficiente para que o projeto da Playtex ganhasse um contrato.
Uma vitória não tão difícil
A Playtex pode ter vencido a “competição” entre as três companhias de forma exemplar, mas a verdade é que o traje apenas precisava ter protegido os astronautas para conseguir o contrato. O motivo? As outras roupas nem mesmo poderiam ser usadas no espaço.
Cada traje rejeitado tinha falhas estúpidas, a ponto de ser fácil pensar que eles nem mesmo foram testados. O primeiro deles era grande demais para passar pela porta da cápsula espacial. Já o outro teve uma falha ainda mais grave: seu capacete simplesmente explodiu quando submetido à pressão, algo que certamente não agradaria nenhum astronauta no meio do vácuo.
Uma construção árdua
Depois de seis semanas trabalhando quase 24 horas por dia, o grupo da Playtex podia comemorar. Mas nada de descanso, pois assim que conseguiu o contrato, veio a parte mais difícil de todo o projeto: adaptar o traje às especificações da NASA.
E isso certamente não foi tarefa fácil. A tolerância nas costuras, por exemplo, era extremamente pequena: elas podiam ter um máximo de um quarto de milímetro de largura. Até mesmo alfinetes eram extremamente problemáticos, inutilizando uma roupa inteira caso furassem o ponto errado. Por esse motivo cada um deles vinha em caixas numeradas, que precisavam ser entregues ao fim do dia sem um único alfinete faltando.
Eram necessárias enormes máquinas de costura especiais para montar os trajes (Fonte da imagem: Wired Magazine)
Os problemas burocráticos vinham aos montes, devido ao fato das peças precisarem ser catalogadas separadamente para cada astronauta, uma vez que elas eram feitas sob medida. E qualquer alteração, por menor que fosse, precisava que todas as partes fossem registradas do zero.
Mesmo com tantas dificuldades, o projeto dos trajes foi completado com sucesso, aproximadamente dois anos depois de seu início. A roupa foi usada pelos astronautas durante a famosa missão Apollo, em que o primeiro homem foi à Lua.
As roupas do futuro
Desde as primeiras ideias de trajes para grandes altitudes, era comum que eles contassem com um revestimento de cor metálica (geralmente prata). E o mesmo foi feito com as roupas de astronauta.
(Fonte da imagem: Pieces of Science)
Mas não pense que isso tinha algum objetivo funcional, como refletir os raios do sol e diminuir o calor de quem os vestia; de fato, o branco é melhor para essa função. A verdade é que aquilo era a mais pura estratégia de marketing: naquela época, objetos prateados eram sinônimos de “futuro”. Então, cobrir os trajes dessa forma fazia com que o povo achasse as roupas ainda mais avançadas.
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Dos projetos que pareciam verdadeiras armaduras futuristas até os primeiros trajes usados pelos astronautas da Apollo, a criação dessas roupas passou por situações bastante complicadas (para não dizer cômicas). Mesmo assim, essa história deixa uma mensagem bem clara: às vezes, nem mesmo projetos avançados precisam ser uma “ciência de foguetes”.
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