Se o Big Bang foi o nascimento do Universo, uma pergunta permanece sem resposta: o que havia antes? O que causou a concentração, em um ponto infinitamente pequeno e denso, de tudo o que conhecemos hoje, há 14 bilhões de anos? Se o Big Bang criou o tempo, não havia o “antes” nem uma causa, já que efeito é produto do tempo; o que havia, então?
Sir Roger Penrose, físico e filósofo, tem uma resposta, e ela atende pelo nome de Cosmologia Cíclica Conformada (CCC), que postula haver um tempo antes do Big Bang, e que este se formou sobre os escombros de outro universo, anterior ao nosso.
"O Cosmos não sabe o quão grande é. No que diz respeito ao Universo, seu começo pequeno e quente é fisicamente idêntico a seu futuro enorme e frio, e exatamente esse futuro remoto se tornará outro Big Bang", diz Penrose.
Um universo (quase) estável
De acordo com ele, um universo surgiu da morte do outro, em um período transitório que o físico denominou de éon. Os éons recuam cada vez mais no tempo, sem precisar de um momento denominado “começo”.
A ideia de Penrose lembra a chamada Teoria do Estado Estacionário, lançada em 1948. Ela dizia que o Cosmos, enquanto se expande, também cria matéria no espaço cada vez maior entre as galáxias, mantendo assim a densidade de matéria constante e fazendo com que o Cosmos durasse eternamente. Esse modelo já foi desacreditado pela cosmologia moderna.
Ao contrário do estado estacionário, a ideia de Penrose pode ser testada por meio de experimentos e observações. Segundo o físico, nosso éon e o anterior não são isolados ou independentes. "A informação é transmitida na forma de uma onda de choque, arrastando com ela matéria escura inicial do nosso universo."
Marcas na luz fóssil
Penrose calcula que ela teria deixado marcas na radiação cósmica de fundo em micro-ondas (o fóssil da luz liberada apenas 380 mil anos depois do Big Bang).
"Você veria anéis nela, que são ligeiramente mais quentes ou mais frios do que a temperatura média. Várias ondas de choque podem até ter produzido uma série de anéis concêntricos na radiação cósmica de fundo. Comecei a me perguntar se alguém estava procurando por eles no Cosmos", disse Penrose.
Neste mapa da radiação cósmica de fundo em micro-ondas, as cores representam as pequenas flutuações de temperatura do brilho remanescente do universo em sua infância as regiões vermelhas são mais quentes e as azuis, mais frias.Fonte: NASA/WMAP Science Team/Divulgação
A resposta é sim. "Essas estruturas são reais. Nossos cálculos são confiáveis e corretos”, disse o físico Vahe Gurzadyan, do Instituto de Física de Yerevan e colaborador de Penrose na CCC. “Ninguém acreditou em nós." (Pesquisadores poloneses e canadenses confirmaram a presença dos anéis com um nível de certeza de 99,7%.)
Dados-fantasmas
A transição entre éons criaria erebons, a forma inicial da matéria escura. Um erebon levaria 100 bilhões de anos para decair, despejando sua energia no Universo na forma de ondas gravitacionais.
Captadas pela primeira vez em 2015, essas distorções na estrutura do espaço-tempo teriam como origem a colisão e a fusão de buracos negros e o choque entre estrelas de nêutrons.
Porém, em 2017, pesquisadores do Instituto Niels Bohr publicaram um estudo em que sugeriram ser as ondas gravitacionais apenas "dados-fantasmas", sem correlação com eventos cosmológicos.
Para Penrose, o que esses cientistas captaram foi "a decomposição do erebon", e futuros detectores de ondas gravitacionais, mais sensíveis, poderiam confirmar sua teoria.
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