Uma cratera de impacto quase sempre é sinônimo de destruição e extermínio. Um estudo de pesquisadores da Western University, publicado na revista Astrobiology, mostra que nem sempre é assim. Se o choque de um meteoro massivo dizimou a vida na Terra, um evento anterior e similar pode tê-la impulsionado ao trazer para o planeta os ingredientes necessários e, com o impacto, criar as condições ideais para que ela surgisse.
O estudo abre possibilidades não apenas para explicar a evolução da vida na Terra como também para a busca de indícios na Lua e em Marte, onde as crateras de impacto não desapareceram por conta do movimento das placas tectônicas ou via intemperismo.
“É tipicamente destrutivo imaginar o que acontece quando rochas de 1 quilômetro atingem a Terra – é um evento de extinção como o que matou os dinossauros. Porém, se impacto é inicialmente destrutivo, também fornece os elementos para a vida, criando novo hábitat para ela”, disse em comunicado o cientista planetário Gordon Osinski, da Western University, e principal autor do estudo.
Vida depois da destruição
Depois de arrefecido o ambiente de caos causado pela queda do meteorito, na bacia de impacto começam a se combinar água, calor, minerais e produtos químicos – sedimentos, nutrientes e fontes hidrotermais surgidas com o impacto, que criariam um hábitat com energia e alimentos abundantes, fornecendo as condições ideais para a reprodução de micróbios.
“Eles essencialmente criam um oásis para a vida. Depois de bilhões de anos de erosão e outras atividades geológicas, pode ser impossível descobrir como a vida na Terra começou, mas as missões a Marte têm a possibilidade de achar oásis semelhantes enquanto procuram vestígios de vida”, disse o pesquisador.
Para produzir um ambiente com água e calor suficientes para o desenvolvimento da vida (além de rochas de impacto vítreas e porosas cujo interior seria abrigo aos micro-organismos para se multiplicarem), a cratera de impacto deve ter cerca de 5 quilômetros de diâmetro. Para produzi-la, o corpo (cometas e asteroides conhecidos como condritos carbonáceos, onde se encontram material orgânico) deve ter ao menos 270 metros de largura.
Primeiro lugar onde procurar
Se na Terra um asteroide com essas especificações traria morte e destruição (e por isso as agências espaciais mantêm vigilância constante), em outros lugares pelo sistema solar eles são bem-vindos e avidamente esperados.
As missões espaciais em andamento têm em comum a tarefa de procurar sinais de vida na Lua e em Marte. O planeta vermelho foi no passado maciçamente bombardeado por asteroides, e suas bacias de impacto estão praticamente intactas – uma delas será o local de pouso do rover Perseverance, da NASA, que deve chegar em 18 de fevereiro de 2021.
Formação de vida hoje
“Em teoria, todos os hábitats que discutimos podem estar presentes na cratera Jezero. Sabemos por dados coletados pelos orbitadores que existe material argiloso, que pode inclusive ter sido gerado pelo impacto do asteroide que a criou", explicou Osinski.
Em Marte, o pesquisador deduz que o “oásis gerador de vida” teria que ser uma cratera de ao menos 10 quilômetros de diâmetro. O asteroide precisaria cair em uma área com gelo subterrâneo, fazendo surgir sistemas hidrotermais – a Jezero, com 49 quilômetros de diâmetro e tendo abrigado um lago há 3,5 bilhões de anos, satisfaz com folga esses requisitos.
“Mesmo os menores impactos que observamos atualmente em Marte podem resultar na formação de hábitat. Se a vida realmente se formaria, é outra questão”, conclui Osinski.
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