A sombria previsão de Thomas Malthus (a população do mundo cresceria em progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos seguiria em progressão aritmética) parece que não se concretizará: depois de um pico, a raça humana encolherá até o fim deste século.
A pesquisa, publicada agora na revista The Lancet, traz uma nova modelagem para prever índices geográficos futuros como mortalidade, natalidade e fertilidade, desenvolvida por pesquisadores do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (sigla em inglês, IHME) da Escola de Medicina da Universidade de Washington.
A conclusão a que chegaram mostra que seremos, em 2064, 9,7 bilhões de indivíduos. A partir daí, a tendência é de o crescimento desacelerar: na virada do século, o planeta terá 8,8 bilhões de pessoas graças às taxas de fertilidade totais (TFT) de 183 dos 195 países, que ficarão abaixo do nível de substituição (2,1 nascimentos por mulher).
Sumiço de metade da população
Alguns encolherão dramaticamente: o Japão passará de 128 milhões de pessoas para menos de 53 milhões em 2100. Pelo mesmo caminho seguirão Itália (de 61 milhões para 28 milhões), Tailândia (de 71 milhões para 35 milhões), Espanha (de 46 milhões para 23 milhões), Portugal (de 11 milhões para 5 milhões) e Coréia do Sul (de 53 milhões para 27 milhões). A China, que deve alcançar os 1,4 bilhão de habitantes até 2025, verá sua população cair para 732 milhões em 2100.
Médias altas de nascimentos (principalmente em países da África subsaariana) devem despencar e impactar no declínio da população mundial: de uma média de 4,6 nascimentos por mulher em 2017 para 1,7 em 2100.
O estudo também traz outro dado preocupante: em 2100, seremos um planeta velho, com 2,37 bilhões de indivíduos com mais de 65 anos, contra 1,7 bilhão abaixo de 20 anos. Nos extremos, o número de crianças menores de 5 anos deve diminuir 41% (de 681 milhões em 2017 para 401 milhões em 2100), enquanto indivíduos com mais de 80 anos serão 866 milhões, contra 141 milhões, hoje.
PIB em queda
Uma população mundial envelhecida impactará diretamente a economia: em 2017, a proporção global entre a população economicamente ativa e inativa era de cerca de 0,8; em 2100, ela será de 1,16. Segundo os pesquisadores, a imigração poderá sustentar o crescimento econômico e populacional.
“O declínio no número de adultos em idade ativa reduzirá o crescimento do PIB. Os desafios econômicos surgirão à medida que as sociedades lutarem para crescer com menos trabalhadores e contribuintes e gerar a riqueza necessária para financiar o apoio social e os cuidados de saúde dos idosos", explicou o pesquisador em saúde global e pública do IHME Stein Emil Vollset.
Educação e contracepção
A queda da TFT global (de 4,7 nos anos 1950 para 2,37 em 2017, com projeção de 1,66 em 2100) tem relação direta com a crescente educação das mulheres, sua inserção no mercado de trabalho e o acesso a métodos contraceptivos.
"Para países de alta renda com taxas de fertilidade abaixo da reposição, as melhores soluções para sustentar os níveis populacionais, o crescimento econômico e a segurança geopolítica são políticas de imigração e sociais de apoio às famílias que têm o número desejado de filhos", disse à Science Daily o diretor do IHME, o pesquisador em saúde global e pública Christopher Murray, que liderou o estudo.
Segundo ele, "existe o perigo muito real de que, diante da população em declínio, alguns países considerem políticas que restrinjam o acesso a serviços de saúde reprodutiva, com consequências potencialmente devastadoras".
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