Titã (o maior satélite de Saturno) é o único corpo planetário, além da Terra, que tem líquido estável em sua superfície, composto de metano e etano; porém, esses mares tóxicos estão concentrados nos polos do satélite. Perto da Linha do Equador somente se capta misteriosos pontos brilhantes, cada um com mais de 5 mil quilômetros de diâmetro. Pesquisadores da NASA parecem ter descoberto o que eles são: bacias secas de antigos lagos.
Há 2 décadas que esses estranhos e brilhantes sinais, emitidos a partir do equador de Titã, intrigam radioastrônomos. Chamados de reflexos especulares, eles são produzidos quando as ondas eletromagnéticas batem em uma superfície plana e voltam (como a luz refletida em um espelho).
A explicação mais plausível — grandes corpos líquidos na região equatorial — foi descartada em 2004, quando a sonda Cassini-Huygens chegou a Saturno. Há sim grandes mares e lagos lá, mas eles estão concentrados nos polos, logo, essa região é surpreendentemente seca.
Titã tem mares e centenas de lagos em suas regiões polares (as pequenas manchas azuis), mas nenhum em seu equador; na imagem, o polo norte da lua.Fonte: NASA/JPL-Caltech/ASI/USGS
Solução em dados do passado
Pesquisadores precisaram "voltar no tempo" para analisar os principais aspectos da geografia de Titã (chuvas, dunas e leitos secos de lagos) que pudessem produzir os estranhos sinais luminosos. Para isso, recorreram às informações coletadas pela Cassini e aos dados captados ao longo de 20 anos pelos observatórios americanos Arecibo e Green Bank.
A busca se estreitou com a eliminação das chuvas (que acontecem raramente em Titã) e das dunas (a localização delas não coincide com a de onde os sinais aparecem), sobrando as bacias de lagos há muito tempo extintos. Eles então perceberam que todos os reflexos especulares se originavam de duas regiões específicas parecidas com leitos de lagos vazios e localizadas perto dos polos da lua.
Em publicação no site Science News, o cientista planetário Jason Hofgartner, do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA (Pasadena, Califórnia) diz: “O líquido na superfície de Titã poderia ter viajado do equador para os polos como parte de um padrão climático chamado de ‘ciclo do metano’ ou ainda ter evaporado como resultado da radiação do Sol. Eu não ficaria surpreso se ambos estiverem acontecendo”. Hofgartner também é o principal autor do estudo publicado agora na revista Nature Communications.
Solução não será comprovada in loco
“É ótimo ter uma resposta para essa pergunta, entendendo mais um pouco de Titã” comentou a cientista planetária Elizabeth "Zibi" Turtle, do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore.
A pesquisadora lidera a equipe que prepara a missão Dragonfly, a ser lançada pela NASA em 2034 com destino a Titã. A pequena nave (na verdade, uma sonda quadricóptero de aterrissagem com asa rotativa), porém, não visitará a região de origem dos reflexos especulares.
Seu itinerário começará nos campos equatoriais das dunas Shangri-La. Desse ponto, partirá para exploração da região em voos curtos, estendendo seu raio de ação até voos mais longos (para mais de 8 quilômetros) e parando ao longo do caminho para colher amostras. A Dragonfly, então, pousará na cratera de impacto Selk, onde há evidências de ter existido água líquida, além de moléculas orgânicas complexas e energia — os ingredientes para gerar vida.
"Mesmo não sobrevoando os locais, há sempre uma geologia comparativa que pode ser usada de um lugar para outro", disse Turtle em publicação no site Science News.
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