A sonda espacial Cassini da NASA pode ter mergulhado para a morte há quase 3 anos em Saturno, mas os levamentos realizados pelo equipamento continuam rendendo estudos. O último, apresentado recentemente, revelou que os anéis do gigante gasoso “vibram” e que esse fenômeno está relacionado à atividade gravitacional saturniana – e não à ação das múltiplas luas que orbitam o planeta e que, consequentemente, interferem com e impactam o seu sistema de anéis.
Mundo de gás
De acordo com Nola Taylor Redd, do site Space.com, o estudo das perturbações detectadas pela Cassini nos anéis apontou que elas são provocadas pela gravidade de Saturno que, por sua vez, produz ondas que viajam até as imensas estruturas, indicando que o interior do planeta é composto por mais camadas do que se pensava – o que é fascinante, em se se tratando de um gigante gasoso e, portanto, de um mundo desprovido de uma superfície sólida.
No caso de mundos rochosos, como seriam a Terra e Marte, por exemplo, uma das formas que os cientistas usam para estudá-los consiste na medição de ondas sísmicas que viajam através das diferentes camadas, chegam até a superfície e se propagam por todo o astro, formando padrões. Então, a partir da análise do comportamento das ondas, é possível determinar a composição, o formato e as dimensões dos planetas – e até identificar propriedades ocultas sob a superfície.
Desafios científicosFonte: ZME Science / NASA / JPL-Caltech / Reprodução
Só que Saturno não é um planeta rochoso – e essa característica, por sinal, torna a investigação de sua estrutura interna um pouco mais desafiadora, visto que não podemos simplesmente enviar rovers e dispositivos até lá para percorrer a sua superfície, explorá-la, coletar amostras – ou medir sua atividade sísmica. Aliás, segundo Nola, até que fosse possível enviar sondas para investigar os gigantes gasosos, a crença era a de que esses planetas continham núcleos quentes e fluidos que forçavam o calor para suas camadas mais externas.
Entretanto, no caso de Saturno, simulações e pesquisas foram indicando a presença de materiais mais pesados, como o gelo e fragmentos de rocha, sob sua camada mais exterior – composta por hidrogênio e hélio em suas formas gasosas –, e a existência desses ingredientes mais densos poderia limitar a movimentação do coração fluido do planeta e gerar ondas gravitacionais capazes de causar interferências em seus anéis.
Vibração
A celebrada Cassini chegou a Saturno em 2004 e, de acordo com Nola, não demorou muito para que ela começasse a registrar oscilações nos anéis do planeta. Na verdade, os cientistas já haviam previsto que essas estruturas apresentariam anomalias, só que as perturbações detectadas pela sonda espacial eram diferentes do esperado.
Já era fato conhecido dos astrônomos que a força gravitacional das dezenas de satélites naturais de Saturno (são pelo menos 82 deles!) provocam interferências na dinâmica dos anéis. Os cientistas também sabiam que podem ocorrer colisões entre as partículas que formam essas estruturas, resultando em perturbações. Contudo, no lugar de ondulações individuais, conforme os astrônomos tinham antecipado observar, a Cassini capturou grupos de pequenas tremulações – e foram mais de 20 eventos registrados em pontos específicos dos anéis.
Coração pulsante e anéis tremeluzentesFonte: NASA Jet Propulsion Laboratory / Caltech / Reprodução
O que a análise das observações realizadas pela sonda revelou foi que essas perturbações em especial não têm relação com as luas saturnianas, nem são provocadas por colisões de material nos anéis. Na verdade, elas são geradas por oscilações no campo gravitacional saturniano, resultantes da “pulsação” do coração do planeta – e sugerem algo mais sobre o interior do gigante gasoso.
Para que os tremores nos anéis ocorram, ademais de Saturno ser mais estratificado do que se pensava, os cientistas acreditam que o planeta deve contar com uma camada relativamente estável que, conforme estimaram, possivelmente abrange cerca de 25% do raio do gigante gasoso. Esse resultado contradiz estudos anteriores que indicavam que esse estrato mais calmo ocuparia entre 5 e 10% do interior de Saturno, e aponta que a dinâmica por trás do processo responsável pela produção do campo magnético saturniano difere da dos demais gigantes gasosos do Sistema Solar.
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