Em 24 de janeiro de 2018, o cientista espacial James L. Burch recebeu um email de um tecnólogo em eletrônica canadense, Scott Tilley. Na mensagem, a resposta para uma pergunta de 13 anos: a que fim havia levado o satélite IMAGE da NASA? Tilley localizou-o.
Ele é apenas um entre milhares de astrônomos amadores que vasculham os céus atrás de satélites perdidos, desaparecidos, abandonados e, principalmente, "inexistentes" – pelo menos, oficialmente.
A IMAGE trouxe fama a Tilley. Lançada para medir partículas na magnetosfera terrestre e estudar sua interação com os ventos solares em março de 2000, ela funcionou perfeitamente até 2005, quando deixou de se comunicar com a Terra.
Esse não foi o único achado entre os chamados “satélites zumbis” que orbitam o planeta – o resultado da última busca de Tilley ele anunciou no Twitter, em fins de março.
Well folks, here's what appears to be a new ZOMBIE SAT!
— Scott Tilley (@coastal8049) March 25, 2020
LES-5 [2866, 1967-066E] in a GEO graveyard orbit.
Confirmation will occur at ~0445 UTC this evening when the satellite should pass through eclipse.
If so this is definitely the oldest emitting GEOsat I know of. pic.twitter.com/QFSRb5bT1I
Um entre milhares
Integrantes do site Space conversou com o grupo que se reúne em uma lista de discussão, a SeeSat-L. Criada em dezembro de 1994, ela reúne quem queira "observar, atualizar o paradeiro de objetos espaciais, desenvolver estratégias para encontrar satélites recém-lançados, escrever software de computador e tentar descobrir a missão das sondas com base em suas órbitas", segundo a descrição da lista.
"É comum que um participante esteja envolvido em várias atividades ao mesmo tempo”, disse ao site Ted Molczan, atualmente um dos que gerenciam a lista.
Molczan passou boa parte dos anos 1980 rastreando satélites espiões do governo. Uma de suas missões mais memoráveis aconteceu no Ártico: ele e outros testemunharam, em fevereiro de 1990, o ônibus espacial Atlantis lançar em órbita o MISTY, o satélite secreto USA-53 destinado a espionar os adversários da América.
Desprezo e respeito
Desde a Operação Moonwatch que amadorismo e profissionalismo se complementam. A ideia do diretor do Observatório Astrofísico Smithsoniano, Fred Whipple, era que cada astrônomo amador do planeta se juntasse ao esforço mundial para rastrear os satélites lançados ao Ano Geofísico Internacional de 1957-1958.
A Operação Moonwatch engajou amadores do mundo inteiro, como esses estudantes japoneses.Fonte: Twitter/Patrick McCray/Reprodução
Primeiro menosprezada, a Operação Moonwatch ganhou respeito quando os satélites russos Sputnik 1 e 2 foram lançados. Sem que houvesse programas de rastreamento operacionais, as observações dos times amadores da iniciativa se tornaram a principal fonte de informação.
Esforço amador pela Ciência profissional
Desde meados dos anos 1990, virou um hobby respeitado apontar telescópios para encontrar e rastrear o que está em órbita baixa. Em 2010, astrônomos amadores ajudaram a identificar todos os grandes objetos em órbita terrestre e mais:
“Em 2011, a Rússia pediu nossa ajuda para encontrar a sonda Phobos-Grunt, com amostras do solo marciano a bordo, antes que ela caísse no oceano Pacífico depois de sua reentrada", contou Molczan, acrescentando que, em 2015, o rastreamento óptico e por rádio de amadores ajudou a Planetary Society a rastrear seu satélite LightSail.
Agora, esse batalhão de anônimos pelo mundo está fornecendo aos astrônomos dados sobre o brilho dos Starlink. Isso ajudará a determinar o potencial da constelação de satélites da SpaceX para interferir nas imagens obtidas por telescópios terrestres.
Um exemplo do "estrago" que a constelação de satélites da SpaceX faz em imagens de telescópios.Fonte: Twitter/Cliff Johnson/Reprodução
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