O mítico Planeta Nove pode ser somente isso: um mito. A conclusão de astrônomos da Universidade da Pensilvânia se baseou em dados do Dark Energy Survey, programa de pesquisa que usa o infravermelho para estudar, entre outras coisas, como acontece a expansão do universo.
Segundo eles, não há evidências de um "objeto transnetuniano” na área onde deveria estar o Planeta Nove. "A ideia de um Planeta Nove não teria sido formulada se os dados do Dark Energy Survey fossem os únicos existentes”, declarou à New Scientist o físico brasileiro Pedro Bernardinelli, principal autor do artigo enviado no início de abril para o repositório de pesquisas arXiv (onde não há revisão do trabalho por outros profissionais).
Uma coisa os astrônomos concordam: existe algo além da órbita de Netuno – só não se sabe o quê. "A hipótese sobre a existência do Planeta Nove foi construída de tal modo que é completamente impossível falsificá-la. A única maneira de provar que ele não existe é procurar em cada centímetro quadrado do céu e não encontrá-lo", disse à New Scientist a astrofísica da Universidade de Regina, no Canadá, Samantha Lawler.
Corpos estranhos com órbitas esquisitas
São muitas as hipóteses para explicar o comportamento errático dos corpos que orbitam o Sol depois de Netuno. Os defensores do Planeta Nove alegam que ainda não há dados suficientes que comprovem que ele não existe.
A existência de um nono planeta é uma das explicações para a causa das órbitas esdrúxulas de seis objetos transnetunianos.Fonte: Caltech/R. Hurt (IPAC)/Divulgação
A busca se expandiu agora com o uso do telescópio espacial Transiting Exoplanet Survey Satellite (Satélite de Pesquisa por Trânsito de Exoplanetas, ou TESS), segundo um artigo publicado no Research Notes of the AAS.
O TESS encontra planetas medindo o brilho de uma estrela. Ao orbitá-la, o planeta provoca o decaimento regular da luz captada. Esse método seria impossível de usar (o Planeta Nove não está entre o Sol e o telescópio), mas o TESS observa e captura áreas específicas do firmamento por longos períodos de tempo.
O TESS mede a intensidade do brilho de uma estrela, registrando o decaimento da luz se um objeto se interpõe à sua frente.Fonte: Tumblr/NASA
Para tentar achar um planeta orbitando o sol nos confins do sistema solar é preciso calcular sua órbita e direcionar o TESS para acompanhar sua hipotética trajetória, sobrepondo depois as milhares de imagens para captar o planeta em movimento. A técnica já foi usada pelo telescópio Hubble, levando à descoberta de objetos além da órbita de Netuno.
Planeta ou buraco negro?
Os pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) Mike Brown e Konstantin Batygin foram os autores da hipótese do Planeta Nove em 2016. Três anos depois, os astrônomos Jakub Scholtz, da Universidade de Durham, e James Unwin, da Universidade de Illinois, publicaram um estudo sugerindo que o que existe, na verdade, é um buraco negro primordial (PBH), formado pela extrema densidade da matéria encontrada nos primórdios da expansão do universo.
Nas cercanias do sistema solar haveria não um planeta, mas um buraco negro primordial.Fonte: NASA James Webb Space Telescope/Divulgação
Scholtz e Unwin argumentam que "a captura de um planeta errante pela gravidade do Sol é uma das explicações para a existência do Planeta Nove, e pode ser também para um buraco negro primordial".
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