Um menino de três anos com rubéola foi o início de uma missão espacial que tinha tudo para ser lembrada como o maior fracasso da agência espacial americana, mas se tornou o símbolo da engenhosidade humana – nas palavras da própria NASA, “a Apollo 13 é o nosso fracasso mais bem-sucedido”.
Charles Duke era um dos seis astronautas treinados para a missão – ele, Jack Swigert e John Young eram os reservas, enquanto Jim Lovell, Fred Haise e Ken Mattingly formavam a equipe principal.
A tripulação original da Apollo 13 (a partir da esquerda): Haise, Lovell e Mattingly posam em frente ao foguete Saturno V.Fonte: NASA/Divulgação
Duas semanas antes do lançamento, o filho de um casal de amigos da família Duke foi diagnosticado com rubéola (todos passaram as férias juntos). Sem saber ter sido contaminado, Duke treinou e participou de reuniões com os outros cinco tripulantes até sexta-feira, 3 de abril. Quando os exames de sangue chegaram, revelaram que ele e Mattingly tinham rubéola.
Mattingly (à esquerda) e Lovell treinam manobras dentro de um simulador.Fonte: NASA/Divulgação
E, assim, Swigert foi promovido à equipe principal, enquanto o rebaixado Mattingly assistia ao lançamento do foguete Saturno V, em 11 de abril, da sala de comando da missão em Houston, Texas.
Sequência de lançamento do foguete Saturno V, levando a bordo os astronautas da missão Apollo 13.Fonte: NASA/Divulgação
O que deveria ser o terceiro pouso bem-sucedido na superfície lunar teve um início entediante. Joe Kerwin, o técnico responsável pela comunicação com a cápsula, chegou a dizer aos astronautas que ele e os outros na sala de controle estavam “entediados até a morte aqui embaixo."
O diretor de vôo Eugene Kranz (em primeiro plano) assiste à equipe da Apollo 13 em uma transmissão de TV apenas alguns minutos antes da explosão.Fonte: NASA/Divulgação
Na Galeria de Visitantes em Houston, a mulher de Lovell, Marilyn, conversa com o médico da missão, Charles Berry.Fonte: NASA/Divulgação
Alguns minutos depois de encerrada a transmissão pela TV dos astronautas no espaço, a explosão do tanque de oxigênio número dois fez a missão entrar para a história, chutando a porta com violência.
"Tínhamos treinado para resolver qualquer problema, mas nunca pensamos em uma explosão. Normalmente, ela levaria à perda do veículo e da tripulação, e antes de iniciar uma missões dessas você assume necessariamente que não vai voltar", disse Haise em entrevista ao site collectSPACE.
Luzes de advertência acenderam na cabine do módulo de serviço e Lovell disse a (quase) icônica frase: “Houston, tivemos um problema.” O “problema” havia sido a explosão do tanque número 2 de oxigênio, que teve, como efeito imediato, a perda de duas das três células de combustível e o vazamento de oxigênio do tanque número 1 para o espaço.
O estrago causado pela explosão do tanque de oxigênio no módulo de serviço, visto do Aquarius.Fonte: NASA/Divulgação
A desgraça no momento certo
"Se a explosão tivesse acontecido quando acionamos o motor em direção à Lua não teríamos nada no módulo lunar para voltar para casa. Se o tanque explodisse quando estivéssemos em órbita lunar ou mesmo na superfície da Lua, o Controle da Missão teria que descobrir por que tínhamos ficado por lá. "
Sem ar e sem combustível, os tripulantes também ficariam eventualmente sem energia elétrica e água. Pousar na Lua havia-se tornado uma questão acadêmica: era preciso achar uma maneira de fazer os três sobreviverem e, talvez, trazê-los de volta à Terra.
Os operadores no Controle da Missão em Houston discutem soluções durante as 24 horas finais da missão Apollo 13.Fonte: NASA/Divulgação
Apertados dentro do módulo lunar Aquarius (projetado para duas pessoas, mas com seu suprimento de oxigênio intacto), os três começaram a enfrentar os problemas que surgiam à medida que as providências para o voo de volta eram executadas. Não havia água (a ração diária de cada um se resumiu a 200ml, ou um copo), eletricidade e ar.
A cabine do Aquarius às escuras; de luz, apenas a do sol, entrando pela escotilha.Fonte: NASA
A necessidade é a mãe da invenção
O ar se tornava cada vez mais viciado: os filtros de hidróxido de lítio, projetados para remover do ar o CO2 do módulo de serviço, eram quadrados, enquanto as aberturas no módulo lunar eram redondas. Os engenheiros da NASA criaram então adaptadores para que o quadrado se encaixasse no círculo (sim, os engenheiros da NASA deveriam ser estudados pela NASA).
Engenheiros tiveram que adaptar um filtro de ar quadrado para caber em uma abertura redonda.Fonte: NASA/Divulgação
Em Houston, os técnicos levaram três dias para fazer os cálculos de como trazer o módulo em segurança – em condições normais, seria trabalho para três meses.
Café e cigarros, o combustível que impulsionou os técnicos a fazerem, em três dias, o trabalho de três meses em cálculos.Fonte: NASA/Divulgação
De volta para casa
Quatro dias depois do lançamento, a equipe deixou o Aquarius e voltou à Terra. A bordo do módulo de comando Odyssey, foram resgatados em segurança perto de Samoa, no dia 17 de abril, pelo USS Iwo Jima.
O módulo de comando pousa no Pacífico, sendo resgatado pelo USS Iwo Jima.Fonte: NASA/Divulgação
Dos três astronautas, apenas John Swigert não está mais vivo (ele morreu de câncer ósseo em 1982). Haise se aposentou, depois de anos como diretor de uma empresa de aviação, e Lovell escreveu o livro no qual o diretor Ron Howard se baseou para fazer o filme Apollo 13 (e sim, Marilyn Lovell realmente perdeu sua aliança durante o banho, mas isso aconteceu antes da explosão. E ela a recuperou, depois.)
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