O modo como o SARS-CoV-2 ataca uma célula foi flagrado por uma equipe de infectologistas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). As imagens dão uma cara ao vírus responsável pela pandemia que atingiu 1,58 milhão de pessoas, matou 95 mil infectados e trancou em casa mais de um terço da população do planeta.
As imagens, feitas por microscópio eletrônico de transmissão, foram registradas no estudo que procura saber como o Sars-CoV-2 se replica no corpo humano. A pesquisa identificou os momentos em que o vírus invade e infecta células saudáveis.
Ele aproveita suas espículas (estrutura como as pontas de uma coroa – corona em latim, daí seu nome) para se ligar à membrana celular, em um sistema conhecido como "chave e fechadura". Já se sabe que ele prefere uma fechadura específica: o receptor ACE2, usado pela enzima da proteína angiotensina-2, que reduz a pressão arterial.
Devorada de dentro para fora
"Quando o vírus reconhece o ACE2, adere a ele e entra na célula, onde usa tudo o que a célula tem para se reproduzir. Quando ela é apenas uma casca vazia, o vírus rompe a membrana e escapa, infectando o corpo com milhares de cópias suas", explicou a professora de imunologia da Universidade Oxford, Sarah Gilbert, à BBC.
Usando sua "coroa", o vírus (os pequenos pontos pretos na imagem) se liga à membrana celular.Fonte: IOC/Fiocruz/Divulgação
Ao enganar o receptor da enzima, o vírus consegue "permissão" para entrar na célula.Fonte: IOC/Fiocruz/Divulgação
O vírus usa tudo o que encontra para produzir cópias de si mesmo (na imagem, a célula, repleta de réplicas do SARS-CoV-2).Fonte: IOC/Fiocruz/Divulgação
Por fim, a célula infectada se rompe e milhares de cópias do SARS-CoV-2, ainda arrastando pedaços da membrana, seguem para reiniciar o ciclo.Fonte: IOC/Fiocruz/Divulgação
Esse receptor pode ser encontrado na superfície das células que compõem os alvéolos, e por isso o vírus é tão perigoso: se reproduz tanto no nariz e na garganta como nos pulmões.
Exatamente por isso é que cientistas do Instituto de Saúde de Berlim e da Clínica Thorax do Hospital Universitário Heidelberg se concentraram em descobrir quais células do sistema respiratório são alvos primordiais do SARS-CoV-2, usando um estudo que buscava determinar por que pessoas que jamais fumaram desenvolvem câncer de pulmão.
Segundo eles, o vírus da covid-12 escolhe células progenitoras (semelhantes às células-tronco), as principais responsáveis pela produção dos receptores do SARS-CoV-2. "Sabendo quais células são atacadas, poderemos desenvolver terapias direcionadas", explicou à BBC o pesquisador Michael Kreuter.
A mais promissora das vacinas a caminho
Usar estudos prévios e cortar caminho na busca por uma vacina foi o que fizeram pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Pittsburgh, nos EUA, para criar a PittCoVacc (acrônimo para Pittsburgh Coronavirus Vaccine). Ela usa, como nas vacinas de gripe atuais, pedaços de proteína viral para desencadear a reação imunológica.
A PittCoVacc provoca a produção de anticorpos específicos para SARS-CoV-2 em quantidade suficiente para neutralizar o vírus. "Depois da SARS-CoV em 2003 e da MERS-CoV em 2014, sabíamos exatamente como combater esse novo vírus. Por isso é importante financiar a pesquisa de vacinas. Você nunca sabe quando virá a próxima pandemia”, disse a microbiologista Andrea Gambotto, da Pitt School of Medicine.
A nova vacina, se aprovada, será aplicada através de um adesivo com microagulhas.Fonte: Georgia Tech Research/Divulgação
A vacina é ministrada através de um adesivo do tamanho da ponta de um dedo. Chamado de “matriz de microagulhas”, ele se parece com um pequeno curativo, onde estão 400 agulhas minúsculas feitas de açúcar e fragmentos da proteína do vírus. Ao serem aplicadas na pele, são totalmente absorvidas pelo corpo.
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