Robert L Berg, autor do livro The Second Fifty Years, define isolamento social como “a ausência de interações sociais, contatos e relações com família, amigos, vizinhos ou mesmo no nível individual quando se considera a sociedade em um nível mais amplo”. Muito além do “hoje eu quero ficar um pouco quieto”, o estresse causado pelo fenômeno pode trazer problemas sérios à saúde, tanto mentais quanto emocionais e até mesmo físicos. Por isso, especialistas buscam esclarecer a importância do contato, mesmo que à distância, durante a pandemia do coronavírus.
Segundo relatório da Cigna, companhia global dedicada à manutenção do bem-estar psicológico da população, em 2020, três em cada cinco norte-americanos relataram um sentimento persistente de tristeza – um aumento de 7% em relação ao documento de 2018. Os mais afetados pela situação são jovens de 18 a 22 anos, presentes frequentemente em redes sociais, mas mais propensos a sentirem-se sozinhos. E isso é preocupante.
(Fonte: Pixabay)Fonte: Pixabay
“Há fortes evidências de que isolamento social e solidão aumentam consideravelmente o risco de mortalidade prematura, algo que vai muito além de indicadores de saúde”, explica a Dra. Julianne Holt-Lunstad, professora de psicologia e neurociência da Universidade Brigham Young, nos Estados Unidos. Como exemplo, ela cita um estudo que indica maior propensão ao abuso de álcool e consumo excessivo de cigarros nessas situações, resultando em riscos duas vezes maiores que os decorrentes de obesidade.
“Estar conectado socialmente a outras pessoas é considerado uma necessidade humana fundamental. É crucial para o bem-estar e a sobrevivência”, ressalta a pesquisadora.
Leia também: Distanciamento social? Não, distanciamento físico, segundo a OMS
Não é uma questão propriamente física
Em 2012, uma pesquisa realizada na Suíça revelou que, independentemente da idade, indivíduos que se consideravam mal integrados socialmente sofriam com saúde debilitada, desordens musculoesqueléticas, depressão e abuso de drogas. Além disso, em 2019 a Sociedade Americana do Câncer revelou que isolamento social aumenta o risco de morte para qualquer pessoa. Mais de 580 mil perfis foram analisados.
Entretanto, não é preciso estar fisicamente isolado para sentir os efeitos, de acordo com o Dr. Lawrence Palinkas, professor da Universidade do Sul da Califórnia. “Tomemos como exemplo aqueles que vivem em lares assistidos ou de idosos com vários outros moradores. Pode ser que haja interação constante e, ainda assim, persista o sentimento de isolamento social, pois esse contato carrega a ideia de separação do restante da sociedade – especialmente se não houver aproximação psicológica, somente a física”, explica.
Lawrence ressalta que as pessoas podem se sentir incluídas socialmente mesmo com a distância física, citando como exemplo o uso de redes sociais. Segundo ele, o que importa é a percepção pessoal de pertencimento, sendo que, às vezes, distanciamento físico não é o fator determinante para a solidão – chegando a nem ser um fator em vários casos.
Leia também: 6 dicas para controlar a ansiedade durante pandemia com ajuda da tecnologia
(Fonte: Pixabay)Fonte: Pixabay
Como o cérebro reage?
O hipocampo, região responsável pelo aprendizado e pela memória, não apenas diminui de tamanho quando exposto ao isolamento a longo prazo, mas também perde a plasticidade e pode acabar se “desligando” completamente. Ao mesmo tempo, a amígdala, que regula a resposta ao medo e à ansiedade, entra em ação. Quanto mais tempo o confinamento dura, mais pronunciadas essas mudanças se tornam.
Robert King, que viveu 29 anos em um confinamento prisional solitário, explica como era passar cerca de 23 horas por dia sem contato físico algum e estímulo sensorial mínimo. Ao sair da prisão, ele tinha grandes dificuldades para até mesmo entender o que eram os rostos de outras pessoas que ele via – sendo incapaz de reconhecê-los. Se deslocar por caminhos comuns também era um desafio que exigia apoio, já que as capacidades de orientação e navegação estavam comprometidas.
(Fonte: Pixabay)Fonte: Pixabay
De acordo com o Dr. Craig Haney, professor de psicologia da Universidade da Califórnia, paranoia, alucinações e ataques de pânico são frequentes nos casos de isolamento social prolongado. Anthony Graves, um outro ex-detento, relembra: “Eu via pessoas chegarem à prisão completamente sãs e que, três anos depois, não vivam mais no mundo real. Não tenho noites tranquilas de sono desde que fui liberado. Tenho transtornos de humor que causam colapsos mentais”.
Astronautas, apesar de treinados, também sofrem com a ausência de estímulos quando estão em missão.
Leia também: 5 formas de se manter ativo em casa durante quarentena
Distanciamento físico é diferente de isolamento social
Uma das medidas-chave para combater o coronavírus é o distanciamento físico – e isso não quer dizer que o mundo inteiro deva sofrer as consequências do isolamento social. Um exemplo para aplacar o sentimento de solidão é justamente desenvolver atividades conjuntas que dispensem a presença física de pessoas.
Vídeos de vizinhanças inteiras cantando juntas de suas varandas ou janelas viralizaram recentemente e são um ótimo exemplo disso. Dr. Phyllis Johnson, professor de sociologia da Universidade da Colúmbia Britânica, explica que o indivíduo pode se sentir pertencente a esses “rituais” sem necessariamente estar próximo dos outros integrantes.
Johnson também recomenda atividades como preparar pratos diferentes do habitual, assistir a programas diversificados, aprender novas habilidades e por aí vai. É de suma importância estabelecer uma rotina para manter o senso de objetivo.
“Todos os dias, eu e minha esposa levamos o cachorro para passear pela vizinhança. Vemos muitos vizinhos com quem normalmente não interagíamos antes da pandemia e que agora parecem muito mais cordiais – em parte porque eles sentem a necessidade de interagir e em parte porque eles estão passando muito tempo sozinhos. Acho que a lição que tiramos disso é que a experiência que estamos tendo é coletiva. Estamos nessa juntos!”, finaliza.
Leia também: Vacina contra o coronavírus pode ficar pronta até dezembro
Em respeito à crítica situação causada pela pandemia da covid-19, o TecMundo não fará qualquer brincadeira de 1° de abril. Entendemos que, em face da onda de fake news que passa por toda a internet, especialmente agora, não é o momento para seguirmos com nossa tradicional pegadinha para a data. O corpo editorial do TecMundo acredita que a imprensa desempenha um papel crucial nessa crise, tendo o dever de manter seus leitores informados sem qualquer margem para dúvidas quanto ao seu conteúdo. Prometemos algo especial para o ano que vem.
Fontes
Categorias