Uma pesquisa recente revelou que algumas espécies de pássaros tendem a fazer um amigo diferente do seu núcleo familiar quando migram, decidindo viajar juntos por milhares de quilômetros, e, mais do que isso, tomando decisões ao mesmo tempo durante o voo.
Essa é uma das primeiras evidências registradas de pássaros que migram por longas distâncias, no mesmo bando, com indivíduos de núcleos não familiares e de distinta idade e sexo. Muitos, inclusive, enquanto no período de criação, preferem a companhia de outro passarinho, que normalmente se torna o amigo com quem migrarão no futuro.
Apesar de sabermos muito sobre os trajetos e as formas de viagem das espécies, sabemos pouco sobre a composição dos grupos. Por isso, a pergunta que os cientistas do Instituto Ornitológico Suíço queriam responder era: os pássaros escolhem com quem viajarão ou a definição é aleatória?
Tecnologia
Com a tecnologia de geolocalizadores, é possível rastrear o trajeto dos pássaros. Desta vez, os pesquisadores ainda adicionaram sensores de pressão aos equipamentos, o que os permitiu reconhecer o comportamento espacial de cada um dos indivíduos do bando, determinando até mesmo os indicadores de altitude.
Com isso, o estudo publicado pelo jornal Current Biology identificou que bandos de abelharucos costumam passar longos períodos viajando com o mesmo indivíduo, inclusive se reencontrando após longas separações.
Números
Os abelharucos são conhecidos por serem sociáveis e viajarem em grandes grupos. Há casos em que eles cooperam com espécies similares para se protegerem de predadores. Com esse currículo, os números confirmaram a teoria: os pássaros não somente estavam voando ao mesmo tempo, mas atingindo altitudes específicas simultaneamente.
Na prática, isso quer dizer que os indivíduos compartilhavam a decisão de subir, descer, trocar de direção ou permanecer na mesma altitude. O movimento não é aleatório, já que por meses o padrão se repetiu a cada intervalo de 30 minutos.
Descobriu-se, ainda, que 49% desses pássaros migraram juntos por 14 mil km, da Alemanha até o Congo, e retornaram. Do restante que se dissipou, 89% voltaram a se encontrar na África Subsaariana após viajarem 5 mil km separados. O mais surpreendente é que nenhum desses "amigos de migração" faz parte do mesmo grupo familiar, são sempre indivíduos que se encontram durante o crescimento e decidem viajar juntos.
Comportamento
A diferença desse comportamento para aquilo que já se sabia vem do fato de que, normalmente, pássaros que migram em bandos multifamiliares tendem a se separar depois de chegarem ao destino. Além disso, é comum que os mais jovens tenham comportamentos distintos dos mais velhos, por exemplo, ao errarem o momento de trocar de corrente termal, algo que os adultos fazem com precisão.
Isso quer dizer que é muito difícil que pássaros com diferentes níveis de experiência consigam permanecer juntos por tanto tempo. Porém essa parece ser uma estratégia especial dos abelharucos.
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