Você já ouviu falar do ferrofluido? Criado pela NASA nos anos 60 para tentar mover mais facilmente combustível pelo espaço, esse combinado de nanopartículas de óxido de ferro, revestimento que impede aglomeração das partículas e líquido à base de água e óleo, mais parece algo vindo da ficção científica: é uma meleca escura que se move e muda de forma com a ajuda de campos magnéticos. E já é visto como um elemento-chave para o futuro da biomedicina, em especial para o tratamento do câncer.
Ok, vamos saber um pouco mais sobre o passado do ferrofluido. Ele foi inventado no comecinho dos anos 60 por Steve Pappell, um engenheiro da agência espacial norte-americana. Sua ideia era adicionar nanopartículas de ferro em combustível. Isso facilitaria seu transporte na gravidade zero, com o auxílio de um campo magnético.
Na época, não deu muito certo. Mas, posteriormente, muita gente passou a aplicar o ferrofluido em outras frentes. Atualmente, você o encontra em discos rígidos, pois pode ser usado para selar objetos com muita eficácia; em skates, ele está nas rodas, com a função de diminuir a fricção; e em alto-falantes, o material amortece as vibrações, o que melhora o som.
Nanopartículas de óxido de ferro
Ferrofluidos podem aquecer e destruir células cancerígenas
Agora, cientistas como Thomas Webster, diretor do Laboratório de Nanomedicina da Universidade do Nordeste dos Estados Unidos, vêm idealizando maneiras de usá-lo para matar células cancerígenas, combater infecções resistentes às medicações e até mesmo ajudar neurônios a se comunicarem mutuamente.
A maioria dos remédios mata células cancerígenas fora do tumor e, assim, ele cresce novamente
“Se você conseguir colocar uma partícula magnética em uma célula de câncer e aplicar um campo magnético, esses materiais podem ser aquecidos e destruir a célula cancerígena. Uma célula normal, sadia, não morre assim tão rápido quando a temperatura aumenta”, explica Webster ao The Verge.
Além disso, há outra grande vantagem. “A maioria dos remédios utilizados no tratamento de câncer matam as células cancerígenas do lado de fora do tumor. Mas se você direcionar seu campo magnético e concentrar uma grande força magnética no centro dele, é possível colocar o ferrofluido no seu interior e destruí-lo pelo lado de dentro. E é preciso fazer isso; caso contrário, ele cresce novamente.”
E eles são especialmente indicados para as doenças neurais
Em muitas das doenças neurais, os neurônios param de se comunicar uns com os outros. “Já vimos em nossos estudos que os ferrofluidos podem ajudar a restaurar essa conexão.” Eles poderiam ser aplicados para um paciente se recuperar de um derrame ou da doença de Alzheimer.
“Sabe, isso é algo muito animador, porque nossos tratamentos para problemas cerebrais estão ainda piores atualmente, se comparados com o que temos para câncer ou infecções”, comenta Webster. Por enquanto, os ferrofluidos foram testados somentes em ratos de laboratório. O maior desafio é torná-los seguros para o corpo humano. Por exemplo, ainda não se sabe o que pode acontecer caso atinjam os órgãos errados.
A saída é pesquisar mais e encontrar parceiros dispostos a investir nesse setor. “Precisamos da indústria envolvida. Podemos passar nossas vidas estudando essas coisas nas universidades, mas, se não houver ânimo na indústria, será apenas um material com potencial e falhas.”
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