Como a tecnologia está envolvida em desastres iguais ao terremoto mexicano?

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Os últimos dias foram marcados pelo medo e pela apreensão de quem vive nas áreas afetadas pelo Irma, o furacão mais intenso formado nas águas do Oceano Atlântico em pelo menos uma década. Após ter devastado diversas ilhas do Caribe, como Barbados, Barbuda, Porto Rico, Cuba e muitas outras, deixando no mínimo 42 mortos, a tempestade tropical direcionou-se para a costa oeste da Flórida, afetando cidades como Key West, Naples e Tampa.

No dia 19 de setembro, um terremoto de 7,4 pontos na escala Richter atingiu os arredores da Cidade do México, por coincidência no aniversário de outro tremor enorme que abalou a capital mexicana em 1985. Incêndios tomaram conta da área urbana, com queda de energia e destruição de prédios.

Em situações de catástrofes naturais como essas, muitas pessoas se perguntam se existem tecnologias capazes de prever a tempo furacões, terremotos e outros fenômenos, de maneira que as pessoas em risco possam se proteger e evitar acidentes graves e a destruição de patrimônio pessoal e público.

Muita coisa pode ser feita com tecnologia para salvar as vidas de pessoas, mesmo sendo impossível impedir que um terremoto aconteça ou que um furacão se forme e percorra seu caminho de destruição. Seja como for, veja como é possível usar meios tecnológicos para tornar o mundo mais seguro no que diz respeito a algumas catástrofes naturais e remediar muito do estrago feito.

Um perto de uma cachoeiraO furacão Irma, no meio do Atlântico, dirige-se para o Caribe

De onde vêm os furacões?

Enquanto a tempestade tropical cruza o Oceano Atlântico, ela assimila os vapores do mar e vai ganhando tamanho e força nesse percurso

Assim como o furacão Irma, a enorme maioria dos ciclones tropicais formados no Oceano Atlântico possui a mesma origem: o Oeste da África, na costa de países como Mauritânia, Senegal, Guiné, Guiné-Bissau, entre outros, sobre o arquipélago de Cabo Verde. A formação desse fenômeno acontece com a mistura de ventos secos vindos do deserto do Saara e do ar frio e úmido do oceano.

Isso forma ventos de grande altitude que são empurrados na direção Oeste e Noroeste, justamente a direção das ilhas do Caribe, da Flórida e do Golfo do México, as áreas que geralmente são mais afetadas pelos furacões. Enquanto a tempestade tropical cruza o Oceano Atlântico, ela assimila os vapores do mar e vai ganhando tamanho e força nesse percurso.

mapa mundiCaminhos percorridos pelos furacões originados na costa da África

Quanto maior, pior

Para ser considerada um furacão, uma tempestade tropical deve ter vento máximo sustentado – ou seja, o vento contínuo em um intervalo de tempo – com uma velocidade de pelo menos 119 km/h. A partir daí, ela é categorizada como um furacão categoria 1 e pode chegar até a categoria 5, com ventos mais velozes que 252 km/h. O furacão Irma atingiu nível 5 no último dia 5, chegando a ter ventos de 295 km/h e foi um dos ciclones tropicais que se manteve nesse tamanho por mais tempo em toda a História.

Muito já foi tentado para impedir a formação de um furacão ou para neutralizar seus efeitos devastadores, pelo menos teoricamente

Sempre que um furacão chega a um local com terra, ele para de se alimentar dos vapores do oceano e perde força. Foi o que aconteceu com o Irma ao atingir a ilha de Cuba: a tempestade tropical foi reduzida para categoria 3, mas voltou para a 4 ao cruzar o estreito entre o país caribenho e a península da Flórida, nos Estados Unidos.

Muito já foi tentado para impedir a formação de um furacão ou para neutralizar seus efeitos devastadores, pelo menos teoricamente, incluindo voar contra eles com aviões de guerra (para que o estrondo sônico das aeronaves dissipasse a tempestade), entre outras coisas bizarras que incluem o disparo de bombas atômicas e até lasers. Nada disso foi colocado em prática por motivos óbvios – nenhum daria certo e a emenda sairia pior que o soneto.

Um perto de um mapaÁreas de Porto Rico completamente destruídas pelo furacão Irma

De olhos bem abertos

Para ficar de olho nas formações de ciclones tropicais, as agências de controle de clima utilizam uma rede de satélites – muitas vezes com apoio das agências espaciais do mundo todo – para visualizar as formações dessas tempestades e monitorar suas formas iniciais. Outros sensores meteorológicos são usados em parceria com esses satélites para criar uma previsão de trajeto o mais cedo possível e ter tempo suficiente para evacuar áreas ou tomar as precauções devidas.

Os satélites que registram imagens também são usados em larga escala para identificar regiões com potencial de alagamento – outro grande mal causado pelos furacões –, vulcões prestes a entrar em erupção, incêndios florestais e até terremotos, visto que algumas mudanças sutis na superfície da Terra podem ser verificadas antes de um desses tremores.

Um perto de uma ondaImagem feita por satélite mostra o furacão Irma ganhando força sobre o Oceano Atlântico

Abalo nas fundações da Terra

Com o uso de sismógrafos, é possível prever também tsunamis, visto que esses são o resultado de tremores submarinos que deslocam grandes quantidades de água

Terremotos são manifestações naturais que podem causar grandes perdas – tanto de vidas quanto materiais – em muitas regiões da Terra. Causados pelos movimentos das placas tectônicas que revestem nosso planeta, os abalos sísmicos podem ser detectados por diversos tipos de sensores com até alguns dias de antecipação, o que permite um controle maior sobre suas consequências.

Com o uso de sismógrafos, é possível prever também tsunamis, visto que esses são o resultado de tremores submarinos que deslocam grandes quantidades de água. Esses dispositivos são capazes de sentir abalos mínimos, imperceptíveis para os humanos, que geralmente precedem terremotos em grande escala. O uso desses aparelhos permitiu que fossem criados mapas com os locais mais propensos a receber esses fenômenos.

predio terremoto pessoasTerremoto destruiu casas na região central da Itália no último dia 25 de agosto

Big Data contra a fúria da natureza

Uma pesquisa realizada pela Data-Pop Alliance em 2016 analisou o potencial de aplicações e implicações de Big Data no estudo das mudanças climáticas e na resistência contra desastres naturais. Diariamente, fenômenos naturais são testemunhados em todos os cantos do planeta e dados detalhados sobre eles são registrados por meio de dispositivos de monitoramento, como câmeras, sensores e muitos outros.

As tecnologias que utilizam Big Data têm um papel importante no monitoramento de riscos e na determinação da exposição de sociedades humanas ao perigo de desastres

O que fazer com toda essa informação? Tentar entender melhor como a natureza funciona, como reage às ações do ser humano e como catástrofes – desde incêndios e enchentes até terremotos e furacões – podem ser evitadas.

As tecnologias que utilizam Big Data têm um papel importante no monitoramento de riscos, na determinação da exposição de sociedades humanas ao perigo de desastres, no acompanhamento dos impactos das catástrofes e dos esforços para a recuperação, na atenuação das vulnerabilidades e no fortalecimento da resistência das comunidades.

Um mapa da neveA imagem mostra os locais onde ocorreram enchentes a cada ano no mundo inteiro

Dados coletados voluntariamente

A aplicação combinada de acelerômetros em smartphones e computadores ligados à nuvem pode ajudar a detectar mais rapidamente a ocorrência de terremotos. Um grupo de pesquisadores empregou essa abordagem para desenvolver a Quake-Catcher Network (QCN), uma rede sísmica que utiliza os dispositivos de voluntários para obter informações sobre um terremoto através da ligação de estações sísmicas tradicionais com fontes inovadoras de dados.

Em 2009, a equipe demonstrou que é possível detectar pequenos terremotos através de uma rede global de computadores conectados por meio da internet, destacando a capacidade que existe para desenvolver sistemas de alerta rápido sobre terremotos com custos relativamente baixos, graças aos dados distribuídos coletados na web.

Um perto de um mapaOs pontos pretos representam os epicentros de terremotos e tremores ocorridos entre 1963 e 1998

Amenizando os efeitos

Nos Estados Unidos, quem cuida de situações nas quais fenômenos naturais causam destruição é a Agência Federal de Gerenciamento de Emergência, ou FEMA (Federal Emergency Management Agency). Segundo ela, enchentes são o tipo de desastre mais comum nos EUA e a culpa disso são áreas impermeáveis cada vez mais amplas, além da alteração descontrolada dos cursos de rios e outros corpos aquáticos grandes.

A missão do NEIC é determinar o local e o tamanho de um possível terremoto e disseminar imediatamente as informações para agências responsáveis

A FEMA monitora o clima que afeta os EUA por meio da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional e o Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos. Com essa parceria, é possível minimizar os efeitos de grandes tempestades ou outros fenômenos desse tipo, orientando a população sobre quais providências tomar.

O mesmo acontece com os terremotos, mas desta vez o órgão responsável é o Centro Nacional de Informação sobre Terremotos, ou NEIC (National Earthquake Information Center). Sua missão é determinar o local e o tamanho de um possível terremoto e disseminar imediatamente as informações para agências responsáveis, além de manter registros e realizar estudos sobre os abalos sísmicos.

Um perto de um mapaCaminho percorrido pelo furacão Irma e suas intensidades durante o trajeto

O poder da tecnologia

Além de maneiras para prever ou evitar catástrofes naturais, a tecnologia traz meios de ajudar quem está em uma área de risco ou mesmo quem já foi afetado pelo fenômeno. Há menos de um mês, o furacão Harvey devastou regiões do estado do Texas, nos EUA, especialmente a cidade de Houston, e pode ser considerado o desastre mais caro da história dos Estados Unidos, com um custo estimado em US$ 190 bilhões, ou R$ 590 bilhões.

Usuários do Facebook conseguiram arrecadar US$ 1 milhão em doações (cerca de R$ 3,1 milhões) em algumas poucas horas

Isso é equivalente aos gastos somados causados por outros dois furacões catastróficos: o Katrina, que atingiu a região de Nova Orleans em 2005; e o Sandy, que fez muito estrago em Cuba, na Jamaica e chegou a atingir a região de Nova Jersey e Nova York em 2012. Segundo o site AccuWeather, esse valor representa 1% de todo o produto interno bruto dos Estados Unidos.

Sensibilizados com a situação de quem foi afetado pelo furacão Harvey, usuários do Facebook conseguiram arrecadar US$ 1 milhão em doações (cerca de R$ 3,1 milhões) em algumas poucas horas. A Google também conseguiu de seus clientes o mesmo valor, assim como a Amazon, tudo isso em menos de 24 horas. A Apple doou mais US$ 2 milhões, ou R$ 6,2 milhões, para a Cruz Vermelha aplicar nos trabalhos feitos na região.

grupo de pessoas em um carroDoações de dinheiro ou mantimentos ajudam muito as vítimas desse tipo de desastre natural

Check-in de Segurança

Para ajudar as pessoas a se comunicarem e informarem sobre sua situação a parentes e amigos durante e após a passagem do furacão Irma, o Facebook ativou o Check-in de Segurança, o recurso que permite que os usuários que estejam nas regiões afetadas pela tempestade tropical se marquem como “em segurança” ou avisem que precisam de algum tipo de ajuda.

Outra empresa de tecnologia que se prontificou a ajudar as pessoas com problemas na Flórida foi a Uber, que ofereceu caronas gratuitamente para pessoas que quisessem chegar até abrigos na cidade de Tampa após o furacão Irma ter mudado um pouco sua rota prevista e rumar mais para perto da área urbana. O serviço de transporte da empresa foi suspenso após o meio-dia (hora local) do domingo (10) por motivos de segurança.

facebook check in segurançaPágina do Check-in de Segurança do Facebook em inglês

Infelizmente, como sempre, os esforços de ajuda acabaram se focando quase que apenas na população dos Estados Unidos, esquecendo-se de quem também sofreu – e muito – com os efeitos do furacão nas ilhas do Caribe.

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