No início era o caos. Encontrar qualquer coisa na confusão endereços da internet era complicado, e frequentemente suas pesquisas não chegavam até os conteúdos mais relevantes. Um sistema simples, visualmente limpo e sem grandes maquiagens mudou a maneira de se procurar qualquer coisa na rede, e assim surgiu o Google.
Grandes sucessos
Do verbo “googlar” (sinônimo moderno para “procure no Google”), novos serviços surgiram. O Gmail, que pela primeira vez permitiu ao usuário não se preocupar em receber anexos na sua caixa de entrada online com seu 1 GB de espaço inicial – hoje, uma caixa normal desse serviço tem 7 GB de espaço – e também ofereceu a solução para agrupar emails sobre um mesmo assunto: as conversações, ou conversas.
Seguindo o rumo natural – buscando a interação social de quem está online – da web 2.0, depois de renovar as buscas por conteúdo e facilitar a troca de informação privada, dois passos foram dados em Mountain View.
Primeiro – em 2007 – veio o Google Talk, ferramenta de mensagens instantâneas que, apesar de não ser mais popular, no Brasil, que o MSN ainda assim tem seus usuários fiéis. Logo no ano seguinte um dos maiores fenômenos da internet – em termos de usuários nacionais – surge. O Orkut começa suas operações e, seguindo o modelo de convites do Gmail, acaba por tornar-se referência em rede social em países tão diferentes quanto o Brasil e a Índia.
Diversos outros serviços da empresa são reconhecidamente grandes sucessos no mercado online. A plataforma AdSense é usada em um universo de sites e blogs como maneira de capitalizar o conteúdo ali apresentado, enquanto o Analytics ajuda donos de sites a melhorar a navegação de suas páginas. A suíte de aplicativos Google Docs é uma das mais estáveis e funcionais da ainda incipiente cloud computing pessoal.
Isso tudo, claro, é só uma parte da história do Google. Além dos serviços desenvolvidos em Mountain View, a empresa também tem a cultura de comprar sucessos online. Foi o que aconteceu com o YouTube e o Earth Viewer, que você conhece como Google Earth.
Novas apostas
Com o crescimento da empresa e a popularização das plataformas móveis de conexão, a Google começou a investir mais em mercados diferentes do seu campo inicial. Além das buscas na internet, a visão de Mountain View sobre como deve ocorrer o acesso à informação online criou o Google Chrome. O navegador apareceu com várias inovações em termos de processo, e rapidamente ganhou espaço nos discos rígidos da maioria dos internautas.
Mesmo que não seja o navegador mais popular na web – não tendo tanta aceitação quanto o Internet Explorer ou o Firefox, por exemplo – o Chrome cresce continuamente em funções e na preferência do público conectado.
A experiência Chrome é tão bem vista que os princípios usados na programação do navegador estão se expandindo. Em breve deve-se conhecer o Chrome OS, sistema operacional completo baseado no Linux voltado principalmente ao cloud computing e aos netbooks.
Na mesma linha de raciocínio, o Googleplex – como é chamada a sede da empresa – também compete em alto estilo no mercado de smartphones com o Android. O sistema é inclusive a primeira ameaça real ao encanto do iPhone e apresenta um crescimento impressionante no competitivo segmento de celulares inteligentes.
Reveses
Mas mesmo os gigantes podem cair. Apesar de a Google ainda se manter como um dos principais jogadores no cenário de tecnologia, a concorrência está atenta e não pretende ser deixada para trás.
A Microsoft, por exemplo, lançou seu próprio serviço de buscas, o Bing, e tem obtido resultados expressivos com este sistema.
Apesar das enormes diferenças, os resultados de pesquisas no Bing são bons, mesmo que inferiores aos do Google, e algumas funcionalidades – principalmente na busca por imagens – do serviço de Bill Gates são até mais interessantes que as soluções de Mountain View.
Se no caso do Bing o Google precisa se firmar novamente como líder, o mesmo não acontece no âmbito dos smartphones. O Android é um dos novatos na área, competindo com os já estabelecidos Symbian, BlackBerry e iPhone no status de recém-chegado. Com isso, o Google precisa estar sempre um passo à frente da concorrência, para ganhar mercado de seus rivais.
Direitos no bolso
Uma das alternativas que Mountain View percebeu para alavancar seu sistema móvel foi a produção de um aparelho próprio. Em parceria com a HTC a equipe do Google criou o Nexus One, primeiro celular com a marca Google, além do sistema Android.
O que não se esperava era que o aparelho – que há muito tempo era alvo de especulações pelos antenados em tecnologia e fãs da empresa – fosse afundar no mercado. Com vendas irrisórias quando comparado com concorrentes – 135 mil unidades, contra um milhão de iPhones e 1,05 milhão de Motorola Droid vendidos nos mesmos 74 dias a partir do lançamento –, o Nexus One encarou vários problemas.
Como a Google é uma empresa da web, espera-se que seus lançamentos estejam disponíveis através da rede. Não foi o que se viu no lançamento do “Google Phone”. Muitos países, entre eles o Brasil, recebiam o aviso “este produto ainda não está disponível na sua área” ao entrar na loja online do Nexus One. Graças a isso e à existência de alternativas igualmente interessantes rodando o mesmo Android, o telefone de Mountain View perdeu público.
Pouco depois, um novo empecilho ao Nexus One apareceu, na figura dos herdeiros de Phillip K. Dick, escritor de ficção científica e autor de “Do Androids Dream of Electric Sheep?” (“Será que androides sonham com ovelhas elétricas?”, em tradução livre), novela que inspirou o filme Blade Runner – o caçador de androides.
O espólio de Philip K. Dick questiona a utilização do nome Nexus One, já que esse é o nome dos primeiros modelos dos androides da obra. Apesar de nenhum indivíduo deste modelo aparecer, eles são mencionados por um dos Nexus Six, personagens da trama. O próprio sistema Android recebeu críticas – a partir do lançamento do Nexus One – por também remeter diretamente à obra de Dick.
O Google ainda está tentando lidar com o problema, e a solução não parece próxima.
Maré baixa
A busca por convites foi incessante. No Twitter, era quase impossível passar mais do que alguns instantes sem receber uma mensagem implorando pela entrada no Google Wave.
O serviço que – segundo seus criadores – revoluciona a maneira com que as pessoas trocam informação é até agora incompreendido. Enquanto a Google insiste que o Wave é a versão 2.0 do email, os usuários que correram para experimentar o serviço tiveram – quase todos – a mesma reação: “mas para que serve?”.
Misturando elementos de correio eletrônico, mensageiro instantâneo e rede social, o Wave sofreu duras críticas por parte das mesmas pessoas que estavam desesperadas para experimentar a novidade. “Adiante do seu tempo” ou não, é certo que o serviço não atingiu nem de longe o objetivo de substituir o email.
Zumbido incômodo
Quando um novo serviço busca juntar tudo em um único lugar, a chance de surgirem problemas é grande. Mountain View descobriu isso da pior maneira ao lançar o Google Buzz.
O serviço – integrado ao Gmail – buscava reunir em um único lugar um microblog semelhante ao Twitter, interação social como a encontrada nas comunidades do Orkut e funcionalidades de outras ferramentas do Google, como o Picasa e o Latitude.
O grande problema veio da maneira com que o Buzz foi implementado. Ao invés dos tradicionais convites – utilizados por Gmail, Orkut e Wave quando de seus lançamentos – o Buzz foi liberado aos poucos nas contas de email dos usuários. Sem a opção de escolher utilizar o serviço, que simplesmente aparecia logo abaixo da caixa de entrada do Gmail, problemas de privacidade surgiram em questão de segundos.
Blogs e canais de notícias online mostraram casos de usuários que reataram – involuntariamente, devido ao autofollow do Buzz – relações com ex-maridos abusivos e profissionais de saúde que tiveram suas listas de clientes descobertas a partir de quem eles seguiam no serviço, por exemplo.
Novo nem sempre é melhor
Que o digam os usuários que fizeram a passagem para o novo Orkut, não é mesmo? A interface da rede social mais usada no Brasil ficou mais complicada e diversos problemas surgiram na plataforma. Usuários relatam problemas com o carregamento de fotos e vídeos, mensagens e até mesmo para a troca de mensagens – característica básica de um serviço de interação social.
Apagando incêndios
Claro que uma empresa do porte da Google não deixa que problemas a impeçam de crescer. Como o Wave funciona exatamente como planejado, não há o que consertar em sua estrutura. Talvez mostrar melhor para as pessoas como elas podem se aproveitar do serviço ajude a alavancá-lo, mas mesmo assim ele está lá e – para os poucos que o utilizam – tudo está bem.
O Nexus One já tem problemas maiores. Aumentar a distribuição do aparelho para outros países antes de resolver a questão jurídica sobre direitos autorais pode acarretar maiores prejuízos, então o que resta a Mountain View é esperar.
Na parte em que algo podia ser feito – os problemas com o Buzz – tudo se resolveu rapidamente. À medida que problemas eram relatados, os engenheiros e programadores da Google – ao longo de um fim de semana – se prepararam para receber todo o feedback sobre as falhas e consertá-las.
O Facebook, quando encontrou problemas semelhantes, levou quase um mês para arrumar a casa. Resultado: ponto para o Google e suas ideias inventivas. Mesmo que a gigante tropece, ela ainda não caiu.
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