Que a Xiaomi não tem conseguido fazer muito sucesso no Brasil desde que chegou aqui, você já deve ter percebido. Afinal, a empresa não trouxe mais nenhum lançamento, e é muito difícil ver alguém usando um aparelho da marca pelas ruas. Mas você sabia que chinesa estaria considerando sair do Brasil?
Pode parecer um pouco surpreendente, mas não é difícil entender o porquê disso. Essa informação chegou à internet através de fontes anônimas do Manual do Usuário e não há como ter certeza nenhuma sobre isso.
O pessoal dessa publicação parece bem confiante com as revelações, mas a assessoria da Xiaomi negou veementemente que a companhia esteja a fim de abandonar o mercado brasileiro. De qualquer forma, confira agora os possíveis motivos pelos quais a Xiaomi estaria fracassando no Brasil.
1. Moto G
O primeiro erro da Xiaomi ao chegar ao Brasil foi apostar todas as suas fichas no Redmi 2, um smartphone consideravelmente inferior ao Moto G de segunda geração, que era de longe o mais vendido no Brasil na época.
Não bastasse isso, o aparelho da Motorola era o sucessor de um legado enorme, o do Moto G da primeira geração, o smartphone que conseguiu colocar a marca americana novamente no gosto do brasileiro, o que perdura até hoje.
Redmi 2 e Moto G 3ª geração
Simplesmente não dá para chegar a um mercado relativamente saturado como o brasileiro e não oferecer uma opção melhor ou no mínimo equivalente ao principal concorrente. A ASUS topou a peleja com o Zenfone 5 e tem se dado melhor que a Xiaomi desde então, mas só a Samsung pôde bater de frente os Moto G no Brasil, aproveitando a sua linha Galaxy J.
A Xiaomi até tentou chamar mais atenção com o seu Redmi 2 Pro, mas parece que o novo dispositivo com hardware um pouco melhorado também não agradou.
2. Focaram no público errado
Antes da chegada da Xiaomi ao Brasil, havia uma enorme expectativa sobre a marca, especialmente entre os usuários mais interessados em tecnologia, como nós da comunidade do TecMundo. Contudo, a nossa expectativa era poder comprar um smartphone poderoso da Xiaomi, não um aparelho de entrada mais simples que o tão falado Moto G.
Pessoas como eu e você são os early adopters do Brasil, mais propensos a provar marcas e coisas novas. O mais natural, portanto, seria uma estreante como a Xiaomi focar seus primeiros esforços no nosso grupo para, com isso, conseguir iniciar o tão almejado marketing boca a boca.
Os chineses preferiram dar atenção ao segmento mais baixo e foram ignorados
Contudo, os chineses preferiram dar atenção ao segmento mais baixo, das pessoas que compravam seus primeiros smartphones e que não estavam a fim de gastar muito. Esse público que adquire produtos de entrada normalmente só faz isso em lojas físicas (ou pelo menos vai a uma loja física para pegar o aparelho na mão) e tem preferência por marcas famosas, que aparecem na TV e que passam certa “segurança”.
Como essas pessoas nunca tinham ouvido falar da Xiaomi e não puderam encontrar os smartphones dela nas lojas físicas por muito tempo, elas simplesmente ignoraram o Redmi 2 e o Redmi 2 Pro, assim como nós os deixamos de lado também, achando que um dia a empresa traria os seus top de linha para cá. Até hoje, isso não aconteceu.
3. Gargalo inicial
Acreditando que criaria alguma espécie de hype sobre seus produtos no lançamento inicial, a Xiaomi resolveu adotar a tática dos “eventos de vendas”, nos quais o Redmi 2 só podia ser comprado em datas específicas e com horário marcado.
Eles não poderiam ter inventado algo mais diferente daquilo a que o brasileiro está acostumado e, apesar de isso ter funcionado muito bem na China, aqui serviu apenas para gerar frustração.
Apesar de funcionar muito bem na China, aqui o gargalo serviu apenas para gerar frustração
Quem queria comprar um Redmi 2 no lançamento não conseguiu, e a empresa perdeu a oportunidade de fazer um primeiro dia de vendas espetacular e de fato chamar atenção do público menos interessado em tecnologia.
O TecMundo e o resto da mídia especializada no Brasil noticiaram com frequência os feitos da Xiaomi inicialmente por aqui, mas quem não nos lê simplesmente deixou os eventos passarem batido. A maioria dos veículos de notícias gerais não deu bola também.
4. Estratégia de comunicação incompatível
Não sabemos se a Xiaomi não fez uma pesquisa de mercado profunda antes de chegar ao Brasil ou se ela resolveu apostar contra os resultados. Porém, estava na cara que seria difícil, ou pelo menos muito demorado, conseguir a confiança do público brasileiro sem fazer um anúncio sequer sobre o Redmi 2.
Por muito tempo, só foi possível comprar um Redmi no site oficial da marca
A cultura da empresa é gastar o mínimo possível em publicidade para conseguir lucrar mesmo vendendo muito barato. No fim das contas, os preços da Xiaomi nem foram tão baratos quanto era imaginado, e a marca enfrentou forte concorrência das grandes, que estão na mídia o tempo todo.
Essa mesma cultura importada da China impediu que a companhia quisesse fazer parcerias com as grandes varejistas nacionais para distribuir seus produtos de forma mais disseminada.
Por muito tempo, só foi possível comprar um Redmi no site oficial da empresa. Mais tarde, percebendo o erro, a Xiaomi começou a fazer acordos com grandes lojas online e também colocou seus celulares nas lojas da Vivo. Ao que parece, a mudança demorou demais para acontecer.
Segundo as fontes anônimas do Manual do Usuário, a Xiaomi deixou de produzir smartphones há meses na fábrica da Foxconn no Brasil e está com seus estoques lotados. Essas fontes também afirmam que a chinesa tem vendido cerca de 10 mil unidades dos Redmi por mês, o que é muito pouco.
Os estoques estão lotados
Segundo o IDC, em 2015, foram vendidos 47 milhões de dispositivos do tipo no Brasil, uma média de 3,9 milhões por mês. E não há tantas marcas aqui como na China competindo por esse bolo. Vale destacar também que esses números estão refletindo a atual recessão econômica.
5. Problemas com a Receita Federal
A Xiaomi tem enfrentado problemas com as normas brasileiras de importação. Essa dificuldade era desconhecida por nós e foi trazida à tona pelas tais fontes anônimas que já mencionamos. Novamente, não há como ter certeza disso, mas a situação seria a seguinte:
A Mi Powerbank — a bateria portátil monstruosa e superbarata que a Xiaomi começou a vender no Brasil quase ao mesmo tempo que seus smartphones — era fabricada na China e importada para o nosso país. Contudo, parece que esse processo estava sendo feito de forma irregular, tendo a fabricante classificado o produto em uma categoria da qual ele não fazia parte e declarado isso erroneamente à Receita Federal.
A Receita teria emitido uma multa bem pesada à Xiaomi do Brasil
Essa irregularidade teria sido descoberta, e a Receita teria emitido uma multa bem pesada à Xiaomi do Brasil. Não temos nenhuma informação sobre valores, mas parece que a chinesa até registrou um processo para pedir a redução da multa, de tão alta que ela era.
Como esses documentos são sigilosos, só foi identificada a existência de um pedido de “reconsideração de cobrança”, mas que não pode ser atribuído com certeza a esse acontecimento. Mais uma vez, não temos como garantir isso.
Mi Powerbank
6. Problemas com a Anatel
Embora a Xiaomi afirme com todas as letras que seus smartphones e outros produtos são produzidos com os padrões de qualidade mais exigentes da indústria, a Anatel parece discordar.
Além dos problemas de importação, a Mi Powerbank não teria passado pelos testes de estresse para a homologação por parte da agência, e a empresa foi proibida de continuar vendendo o produto no Brasil. Por isso, não é mais possível encontrá-lo no site da marca há tempos.
A bateria da Xiaomi teria apresentado vazamentos e explosões
As fontes anônimas do Manual do Usuário afirmaram que, já nos testes preliminares da agência, a bateria da Xiaomi teria apresentado vazamentos e explosões. Por isso, ela não conseguiu nem a homologação prévia, que dá ao fabricante o direito de vender o produto no Brasil enquanto testes mais elaborados são feitos, os quais poderiam durar até seis meses.
Baterias portáteis passaram a entrar na mira da Anatel pelo fato de elas interferirem na forma como smartphones interagem com redes sem fio. Dessa maneira, a agência agora impede a venda sem que elas sejam devidamente testadas em seus laboratórios.
Conferindo o site da Anatel, é possível ver também que o Redmi Note 4G não passou pelos testes preliminares e, por enquanto, não pode ser vendido por aqui. Contudo, não temos qualquer informação sobre o que teria acontecido com o phablet da Xiaomi.
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Ao Manual do Usuário, a Xiaomi emitiu uma nota oficial dizendo que não tem planos para sair do Brasil e chamou atenção para o conturbado fim da Lei do Bem, que ainda está sendo discutido na Justiça. Esse teria sido outro problema enfrentado pela marca por aqui, que chegou com a expectativa de vender com incentivos fiscais, mas acabou ficando sem eles em pouco tempo.
Mesmo com isso, os rumores são de que a Xiaomi pode deixar o mercado brasileiro ainda em 2016, talvez até mesmo sem completar um ano de atuação no país. Infelizmente, “o Brasil não é para principiantes”, e Hugo Barra com certeza sabia disso.
[ATUALIZAÇÃO]
Depois da publicação desta notícia, a assessoria da Xiaomi emitiu uma nota ao TecMundo esclarecendo alguns pontos. Confira:
É absolutamente improcedente a alegação de que o carregador portátil Mi Power Bank tenha apresentado problemas, quer seja na Anatel, quer seja na Receita Federal. O produto jamais apresentou qualquer falha em testes como as alegadas, tampouco a Xiaomi foi multada por quaisquer irregularidades. O site Manual do Usuário não conseguiu confirmar a informação dessas fontes anônimas porque elas não procedem.
Quanto à também inverídica alegação de que a Xiaomi teria sido multada por classificação incorreta no processo de importação, esclarecemos que o processo citado se refere a uma análise de compensação de tributos federais que passou por averiguação quanto à sua validade, tendo seu mérito reconhecido e arquivado, conforme descrito no próprio documento. Esse processo não tem qualquer relação com importação de produtos, que é realizada diretamente por empresas especializadas ou parceiros varejistas.
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Fontes