Wei “CaoMei” Han-Dong já foi um jogador top de League of Legends (LoL). Tendo começado “por baixo”, como dizem, o sujeito viu seu salário como praticante de eSports saltar de US$ 491 anuais para US$ 1.636 anuais em bem pouco tempo. Entretanto, é “aposentado” dos campos de batalha virtuais que ele tem feito o seu “pé de meia”.
Wei é um dos muitos ex-jogadores de games em massa que ganhou a vida transmitindo jogos de campeonatos. Tendo iniciado como participante da equipe World Elite em 2012, esse jovem jogador de LoL fez fortuna em poucos anos, ganhando a aceitação familiar e até certa devoção social. Afinal, se mais de um milhar e meio de dólares já lhe parece bastante “apenas” para jogar video game, o que dizer de um salário anual equivalente a US$ 817 mil?
27 milhões de jogadores diariamente
O salário de Wei pode parecer muito, pelo menos até o momento em que se confrontam os números da atual indústria movida pelo eSport. Considerando apenas a “coqueluche” de League of Legends, por exemplo, há 7,5 milhões de jogadores simultaneamente online em horas de pico — valor apenas inferior ao recorde de World of Warcraft em seus melhores anos, em que 10 milhões de jogadores dividiam em um mesmo momento os servidores da Blizzard.
Por dia, um total de 27 milhões de jogadores consegue dar pelo menos uma passada pelo universo do game. De qualquer forma, apenas os jogadores do horário dos horários de pico já são suficientes para encher duas vezes a cidade de Berlin (Alemanha), por exemplo.
Com jogabilidade semelhante à do igualmente célebre DotA, LoL tem conquistado cada vez mais jogadores mundo afora... E isso, naturalmente, tem feito crescer a coisa toda como uma gigantesca indústria bilionária. Olhando de perto, duas equipes de cinco sujeitos dividem uma mesma arena, coletando itens, digladiando e ampliando as habilidades de seus heróis. Ao afastar o olhar, entretanto, é fácil perceber que se desenvolveu todo um ecossistema.
Preparado para dormir quatro horas por dia?
Em reportagem recente, a revista chinesa Portrait tratou de registrar a trajetória de sucesso Wei “CaoMei” Han-Dong, embora tenha frisado: ele é, obviamente, apenas um caso isolado entre centenas de milhares de jogadores que tentam a sorte anualmente nos eSports. E o preço pela falha em conseguir essa promoção de fim de carreira — como apresentador — pode ser bastante alto.
De fato, é comum que muitos pretendentes ao competitivo e cruel espaço dos esportes virtuais acabem negligenciando tudo o mais, a fim de experimentar o que promete ser uma jornada apoteótica. Conforme diz o referido veículo, muitas vezes o próprio estudo formal é colocado de lado. Isso porque absolutamente não sobra tempo pra mais nada — e um jogador cujo rendimento caia é rapidamente substituído por outro pretendente cheio de entusiasmo.
“O treino era tanto que eu só conseguia dizer ‘Boa noite’ à minha namorada todos os dias”, disse Han-Dong à referida revista. De acordo com ele, durante os meses mais puxados, era impossível dormir mais do que quatro horas por dia. E, é claro, caso não estivesse comendo, dormindo ou fazendo suas necessidades, Wei com certeza seria encontrado com mouse e teclado em punhos.
Sorte, habilidade...
Han-Dong é, de fato, um dos poucos sortudos cuja rotina de jogatinas foi substituída pelo prolífico posto de transmissor de partidas via streaming. É verdade que ele foi considerados um dos melhores do mundo nos campos de batalha. Entretanto, considerando-se a imensa leva de jogadores talentosos que ingressa anualmente nos eSports, é fácil perceber que apenas isso não deve ser suficiente.
Afinal, caso você não descole um emprego desses após aproximadamente cinco anos de campeonatos — média de duração da carreira de um desportista virtual —, é provável que a falta de um diploma ou mesmo de um investimento em qualquer outra carreira surja para cobrar seus proventos.
... E aparência (“Tenha um bebê comigo!”)
No caso de Wei, entretanto, outro fator pesou igualmente na balança. Inicialmente, até mesmo sua mãe enxergava com suspeitas a escolha profissional do rapaz. Atualmente, entretanto, não é incomum que Wei ouça de telespectadoras fissuradas frases como “Tenha um bebê comigo!”.
Sem falsa modéstia, ele admite: o seu apelo visual certamente teve seu peso, permitindo-lhe trocar a pressão dos campeonatos por transmissões que hoje juntam facilmente mais de 100 mil telespectadores. “Talvez não seja legal dizer isso, mas talvez nem todos os jogadores tenham a minha aparência”, confessou ele ao referido site.
“Alguns apresentadores nem são bons jogadores”
Mas a “boa vida” levada por apresentadores como Wei tem gerado impactos também entre os desportistas. Conforme disse o administrador do World Elite (ex-equipe de Wei), Pei “King” Le, o fato de alguns poucos sortudos ganharem muitas vezes — sem nem mesmo precisar jogar — mais tem feito muitos astros em potencial questionarem o modelo atual do eSport.
“Alguns desses apresentadores de streaming nem são bons jogadores mas, mesmo assim, ainda conseguem fazer mais de 10 mil RMB [US$ 1,636] por mês”, disse Pei Le. “Isso deixa outros jogadores em uma situação desconfortável” — o que, de fato, tem feito “triplicar” os gastos com equipes profissionais nos últimos anos.
Uma nova tendência
Assim como a mãe de Wei, demorou, mas a parcela mais conservadora da sociedade percebeu que o eSport se organizou como uma indústria impossível de se ignorar — e isso, naturalmente, para o “bem” e para o “mal”. Dessa forma, o estrelado de alguns poucos jogadores (com ou sem “boa aparência”) parece até algo bastante natural, sobretudo em regiões do Leste asiático.
De fato, as transmissões de campeonatos online se tornaram uma verdadeira tendência, tornada tanto maior quanto mais crescia a competitividade entre países como China e Coreia do Sul. E a quem quiser comprovar as dimensões do “barulho” feito por esse nicho, basta acessar o canal de Web TV ZhanQi, em que Wei “CaoMei” Han-Dong faz diariamente suas transmissões — às vezes para mais de 160 mil pessoas.
Fontes
Categorias