Não adianta querer negar. Você, assim como eu, já deve ter reclamado de algum jogo lançado recentemente. Acontece que nossa mente evoluiu num ritmo acelerado, tanto que nem mesmo os games mais caprichados nos impressionam. Ficamos tão exigentes que fabricamos defeitos em quaisquer títulos.
Cansamos do alto nível de dificuldade, nossos olhos não se satisfazem com os belos gráficos e só aplaudimos um game quando ele nos diverte sem causar estresse excessivo com mistérios impossíveis. Enfim, esses e outros aspectos nos motivaram a criar a ilustração acima para identificar algumas mudanças nossas e de nossos amados games.
Era uma vez... A melhor história do mundo
Quem não desfrutou de ao menos um jogo do Super Nintendo, do Mega Drive ou do PlayStation pode não compreender muito bem a frase acima. Era raro encontrar amigos que não tivessem ficados boquiabertos com a incrível história de Metal Gear Solid ou que não tivessem se emocionado com o enredo de Final Fantasy VII.
Pois é, o tempo passou e muitas coisas mudaram. A história, que outrora desenvolvia papel fundamental, agora, não passa de um detalhe secundário. O público gamer evoluiu de tal forma que a emoção do jogo não é mais tão importante. Claro, a diversão é o aspecto principal para muitos jogadores, mas essa característica nem sempre está atrelada à história.
Como exemplo, posso lembrá-los do episódio de Skyrim. O quinto game da série The Elder Scrolls chegou para marcar um salto fantástico no gênero dos RPGs. A história do jogo é muito bem elaborada e o jogador pode fazer parte do incrível universo criado pela Bethesda. Agora, pergunto: quem não ouviu a piada da flechada no joelho? Provavelmente poucos.
Basicamente, boa parte dos jogadores deixou de adquirir um jogo para viver uma experiência, trocando a história por momentos de muita gargalhada. Se isso é errado? De forma alguma! É muito divertido rir das piadas, erros e outros tantos detalhes que destoam do contexto do jogo. Contudo, o problema realmente aparece quando nós apenas damos importância aos memes e nos esquecemos de aproveitar o game como um todo.
Os gráficos pra mim são tudo!
Bons tempos em que jogávamos pelo simples prazer de nos divertir. Era uma época feliz em que ninguém comparava os gráficos de Donkey Kong Country com os de Super Mario Bros.. De fato, o problema apareceu com a chegada do PlayStation. O público gamer começou a reparar que gráficos 3D poderiam melhorar os jogos e todo mundo ficou impressionado com os visuais.
Mente quem diz que não ficava surpreso com a incrível qualidade de Silent Hill, Tomb Raider, Metal Gear Solid e outros tantos jogos que despontaram como novo padrão de qualidade gráfica. Não demorou muito para que o sucessor do console da Sony e o primeiro Xbox chegassem para estabelecer um novo padrão de qualidade.
Hoje, não importa o quão detalhado seja o game, sempre alguém vai reclamar. Não posso mentir, sou muito crítico e, ainda que eu não prefira gráficos à história, acho sensato que os games tragam visuais cada vez mais bem elaborados. Aliás, muitas pessoas pensam assim e acham inadmissível Crysis 2 não reproduzir a perfeição em todos os aspectos.
Os video games também evoluíram
Ainda me lembro do dia em que ganhei meu primeiro controle DualShock para PlayStation. O acessório parecia abrir um leque de possibilidades. Os analógicos do joystick permitiam explorar os jogos de forma diferente. A função de vibração garantia uma forma de contato com o conteúdo da tela, como se eu pudesse sentir parte do game em minha mão.
Tudo mudou com a chegada do controle do Wii, um acessório que proporcionou diferentes formas de interação. Não posso dizer que esse tipo de periférico me agrada por suas funções inovadoras, tanto é verdade que comprei meu console da Nintendo apenas para desfrutar de jogos como Donkey Kong Country Returns e New Super Mario Bros. Wii.
É possível que você também tenha demonstrado um pouco de relutância quanto à evolução nos controles, ainda mais no caso do revolucionário Kinect. O acessório da Microsoft veio para eliminar o uso de joysticks e fazer com que o jogador seja o controle. Essa novidade é fenomenal, mas não é necessariamente algo que agrada a gregos e troianos.
Internet: a biblioteca dos detonados em vídeo!
Eu poderia enumerar uma lista extensa de títulos do SNES que me levaram a passar horas seguidas jogando para passar uma única parte. Mega Man é um bom exemplo de game extremamente difícil que levava os jogadores a continuar insistindo em uma única parte para conseguir dar sequência à história.
Alguns games que apareceram em gerações futuras não deixaram de desafiar a inteligência dos jogadores. Silent Hill, por exemplo, trazia muitos puzzles de alta complexidade e você não poderia prosseguir sem desvendar alguns mistérios. Essas charadas estavam diretamente atreladas à história, o que levava o jogador a prestar muita atenção.
Determinados títulos perderam essa característica, mas ainda existem alguns como Portal 2 que oferecem missões muito difíceis. Essa evolução dos jogos resultou em um novo tipo de conteúdo na internet: os detonados. Hoje, o Baixaki Jogos e o YouTube estão recheados de inúmeros artigos e vídeos para você nunca mais se perder.
Posso dizer com convicção que não me recordo da última vez que busquei ajuda para algum jogo, pois prefiro não finalizar o jogo a trapacear. Todavia, existem jogadores que são o oposto e não podem perder cinco minutos com um desafio que já buscam ajuda na web.
Forever Alone
Assim como tantos outros aspectos foram alterados ao longo dos anos, a jogatina em galera também mudou. No Super Nintendo, você podia chamar um amigo, o Aristóteles, por exemplo, e zerar um game de forma mais divertida. Para nossa alegria, o multiplayer deixou de ser local, possibilitando a conexão entre amigos que vivem em diferentes partes do planeta.
Isso é bom? Com certeza! Mas, claro, sempre existem os que aparecem para contrariar. Da mesma forma que diverte, o multiplayer online pode irritar os jogadores, principalmente os menos habilidosos — muitos tem pavor de jogar Battlefield 3. Parece que algumas pessoas ficaram mais egoístas e abandonaram a ideia de jogar com os amigos.
Legal, savegames infinitos!
Com a diminuição na dificuldade dos jogos, muitas desenvolvedoras tiveram a “brilhante” ideia de inserir a opção de salvamento infinito. Se antes, nos primórdios de Silent Hill, tínhamos de passar horas seguidas até encontrar um ponto específico para salvar, hoje podemos progredir um minuto e já salvar para evitar a perda de progresso.
Óbvio, nem todos os jogos são assim, mas alguns parecem querer oferecer benefícios sem limites. Em Skyrim, por exemplo, você tem essa liberdade de usar infinitos savegames. Existem também aqueles que liberam vidas infinitas, ou seja, você pode tentar incessantemente até conseguir. Alguns, como Braid, são exceções que oferecem um recurso diferente: a impossibilidade de morrer — nesse caso, o recurso é algo compatível com o sistema de jogo.
A metamorfose da jogatina
Enfim, essa não é apenas uma opinião minha, mas é também um quadro geral da evolução dos video games e dos jogadores. Os consoles apresentaram modificações, as desenvolvedoras amadureceram e nós também mudamos — às vezes para melhor e outras para pior.
Seja como for, é interessante acompanhar esse quadro para observar nosso comportamento e perceber que talvez devamos dar mais importância para determinados aspectos que estreitam nossas experiências com os games. Afinal, de nada adianta ter games cada vez mais fáceis e engraçados, pois isso pode diluir o real conceito dos video games.
Via BJ
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