Se você perguntar a alguém se ela gosta de animes, a resposta pode ser negativa ou positiva, mas provavelmente será rápida. Caso a pergunta se refira ao gosto por hentais, entretanto, há normalmente duas respostas: “O que é isso?”... Ou simplesmente uma risadinha marota.
Não obstante, é inegável que essas versões, digamos, “adultas” dos animes (e conteúdos similares) alimentam desde há muito uma enorme subcultura — independentemente do choque que o tema possa causar caso seja abordado abertamente. E, obviamente, isso não exclui os nossos amados video games... Sobretudo aqueles com personagens com alto potencial para explorações de cunho sexual.
Você conhece o StudioFOW?
Bem, e você conhece o StudioFOW? Novamente, as respostas são “O que é isso?” ou a tal risada marota. Seja como for, a notoriedade do selo, hoje, é absolutamente inegável. E isso começou quando os fundadores da ideia resolveram jogar uma daquelas famosas questões “E se?”. Particularmente, “E se a Lara Croft não tivesse escapado dos seus perseguidores no reboot de Tomb Raider?”.
A questão ganhou um nome — “Lara in Trouble” — e também um conteúdo em vídeo. Uma versão alternativa em que a heroína dos games acaba subjugada pelo tenebroso culto daquela famigerada ilha. Bem pouco adeptos da moral convencional, os sujeitos acabam por mantê-la cativa, unicamente para que possam violentá-la seguidas vezes de forma absolutamente explícita.
Parece o tipo de coisa que, de tão chocante, agradaria a apenas alguns degenerados? Bem, vale dizer que, em um site dedicado a conteúdos do gênero, “Lara in Trouble” foi visto quase 3 milhões de vezes — e isso sem contar o número de downloads do filme no site oficial da produtora ou em outros sites menores dedicados à “poesia” (com o perdão da piada infame).
Mas, justiça seja feita, o aviso vem logo na entrada: “Se você está buscando conteúdos mais suaves, você está no lugar errado”, diz a mensagem postada na home do site da StudioFOW. “Nós estamos sempre forçando os limites e nos assegurando de que as coisas mais inesperadas aconteçam.”
Alguém precisava ocupar o espaço
Em entrevista concedida ao site Lewd Gamer, um dos fundadores do StudioFOW, “Darkcrow” (sabiamente mantendo o anonimato), contou que a ideia da produtora surgiu para cobrir um hiato no nicho de pornografia associada a obras de fantasia.
“[O hentai] estava realmente estagnado no que se refere a uma abordagem mais sombria e com conteúdos mais hardcore ao longo dos últimos anos; então nós quisemos devolvê-lo ao seu período de glória”, disse o sujeito ao referido site, referindo-se à ampla produção de conteúdo do gênero perceptível durante os anos 90 — com obras fortes como “Bible Black”, Discipline, Cambrian e La Blue Girl.
Em entrevista ao referido site, Darkcrow lembra de diversos estúdios que apostavam no mercado do hentai durante os anos — tendo boa parte deles fechado as portas já há cinco ou seis anos.
“Eu acredito que, dada a natureza do conteúdo, parece que nós naturalmente ocupamos o espaço na comunidade”, disse ele. “Ao final dos anos 90 e até a metade da última década, havia uma real abundância de animações hentai sendo produzidas no Japão. E eu estou falando de coisas realmente bem feitas — para não dizer visualmente impressionantes, com animações de estilos únicos e personagens interessantes.”
Não que exista alguma baliza filosófica por trás dos polígonos tridimensionais em movimentos repetitivos ali, é claro. “Para ser honesto, não há filosofias ou razões morais por trás da formação do estúdio”, disse DarkCrow ao LewdGamer. Seja como for, a proposta com certeza vingou.
Kasumi entra na dança erótica
Aparentemente, a aposta não poderia ter sido mais acertada: milhões de visualizações de “Lara in Trouble” não apenas comprovaram que havia um nicho a ser suprido (por mais imoral que possa ser considerado), como o lançamento ainda abriu espaço para uma nova obra derivada dos games.
Igualmente intenso e sombrio, Kunoichi foi lançado ao final do ano passado, colocando uma das protagonistas de Dead or Alive, Kasumi, para ser violentada por todo tipo de criatura demoníaca — em um “gangbang” sobrenatural provavelmente sem precedentes na indústria pornô como um todo.
Não que as hordas demoníacas não tivessem um objetivo, é claro. A ideia era pressionar a mossa psicologicamente até que ela parasse de resistir — passando não apenas a ser conivente com a coisa toda, mas chegando mesmo a obter algum prazer. E isso certamente levanta algumas questões.
Violação... Com um salvaguardo
Simplesmente proferir a palavra “estupro” já faz com que as atenções se voltem para alguém, sobretudo em uma era sabidamente interconectada. Trata-se, afinal, de uma violência física e psicológica de consequências terríveis para a vitima — constituindo um daqueles temas que a maior parte das pessoas reluta em abordar.
E isso vale também para a comunidade de fãs do StudioFOW, acredite. E isso começa por um eufemismo: “sexo não consensual” — obviamente, apenas uma forma de abrandar a coisa, tornando menos pesado o fato de que, inegavelmente, há pessoas que sentem prazer em assistir aos conteúdos fortes da produtora.
Entretanto, conforme colocou Patricia Hernandez em sua coluna para o site Kotaku, a natureza da violência apresentada nos filmes da StudioFOW deixa claro que não se trata apenas de um culto ao estupro. Afinal, sem querer dar spoiler — vá lá —, as animações desenvolvidas pela StudioFOW parecem se focar sempre no mesmo formato: a vitima é coagida, violentada... Até o ponto em que a coisa toda, por fim, se torna consensual.
Ou, em outras palavras, o que começou de forma forçada simplesmente anteviu um desejo que já existia, mesmo que ocultado sob a superfície. Sim, isso ainda joga questões como “imoralidade”, “violência”, “depravação” e “degeneração” naquele bem fixado caldeirão moral. Entretanto, é impossível negar que há ali uma válvula de escape; algo que permite à StudioFOW preencher um espaço do mercado pornográfico que não é acessível apenas por meio da Deep Web, digamos.
Source Filmmaker
A despeito das questões morais envolvendo as criações da StudioFOW, fato é que, do ponto de vista técnico, a coisa é bem mais facilmente explicável e posta em um contexto. Basicamente, a qualidade crescente das produções do estúdio se deve à ferramenta “Source Filmmaker”, desenvolvida pela Valve.
Com base na onipresente Source Engine, a ferramenta possibilita criações estilo machinima — filmes que utilizam modelos criados digitalmente, em vez de atores reais. E, bem, esses modelos podem ser retirados diretamente dos games... E podem ser heroínas de jogos populares, naturalmente.
Uma reflexão para o travesseiro?
A StudioFOW talvez não coloque em seus longas mulheres reais na situação igualmente humilhante e perigosa de um estupro; são modelo digitais, afinal. Entretanto, isso certamente não afasta a controvérsia, já que, por trás dos polígonos digitais, das mulheres de curvas irreais, dos orcs e dos demônios, o que há é ainda algo visceralmente controverso.
Não obstante, seria impossível negar que os números de visualizações dos vídeo do StudioFOW indicam que qualquer proposta moralizante compraria para si um desafio não menos do que aquele descrito no Mito de Sísifo — com o sujeito que empurrava a pedra ladeira acima, unicamente para vê-la despencar, repetindo então o processo infinitamente.
Afinal, a contragosto do politicamente correto, há naqueles números um atestado de que semelhante material encontra seu nicho — um nicho bastante volumoso que, embora afeito às “degenerações” do estúdio, ainda faz questão de encontrar os alívios morais do anonimato e de uma atividade sexual que, no fundo, é consentida (embora a parceira virtual, no caso, não saiba disso antes de atravessar alguns preâmbulos bastante agonizantes, é verdade).
Seja como for, guardadas as devidas proporções, a controvérsia levantada no entorno da StudioFOW ecoa a própria questão da pornografia — essencialmente animalesca e avessa ao que é objetivamente pregado pelo senso-comum... Embora seja preciso andar um bocado para encontrar alguém que não se abrigue sob um telhado de vidro. Talvez algumas coisas simplesmente não devam ser ditas, embora precisem ser mantidas em um acordo silencioso.
BioShock Infinite em breve
E a StudioFOW continua expandindo o seu nicho. Para breve, a produtora promete “três histórias eróticas” centradas no universo de BioShock Infinite. Novamente, há duas possibilidades: há quem vá se indignar com a promiscuidade e com a violência, e há também quem vá olhar calmamente para trás para ver se está sozinho antes de clicar no link abaixo — e há quem pertença simultaneamente aos dois grupos, sem dúvida. É a incoerência maravilhosa do bicho humano, afinal.
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