Hoje não é difícil encontrar uma pessoa que possua acesso a internet e já tenha utilizado um smartphone ou um computador. Na verdade, a tendência é que seja cada vez mais raro dar de cara com alguém que esteja totalmente alheio aos avanços tecnológicos que estão acontecendo nos últimos anos. Contudo, parece que esses passos largos não chegaram a um dispositivo popular e que ainda é facilmente encontrado na casa de milhões de brasileiros: a TV com sinal analógico.
Apesar da popularização de planos de televisão pagos, smart TVs e conversores que estão trazendo o sinal digital, ainda é grande o número de pessoas que consome o conteúdo exibido na TV pelo tradicional meio analógico. E isso não acontece apenas no Brasil, mas em diversos países que se apoiam no uso dessa rede arcaica.
O problema
Apesar de planejar uma migração segura para o padrão digital, o Ministério das Comunicações adiou novamente a extinção da TV analógica em nosso país. Porém, o problema é ainda maior do que a mudança tardia para o formato mais moderno: a grande barreira da TV é a falta de padrão – ou interpolaridade – entre o conteúdo que é produzido em todo o mundo.
Diferente do que acontece com a internet, os consumidores não podem comprar um televisor em outra país e ter certeza de ele vai conseguir capturar o sinal oferecido aqui no Brasil. Mesmo que criado com o padrão digital, ainda é preciso ajustar o formato do conteúdo para que ele consiga ser suportado para cada um dos tipos específicos de eletrônicos.
"Hoje, você não pode comprar uma TV nos Estados Unidos e trazer ao Brasil para assistir a programação da TV digital aberta, ela não vai funcionar pois os sistemas (linguagem, navegador) são diferentes," explica Marcelo Knörich Zuffo, professor da Escola Politécnica (Poli) da USP e um dos coordenadores brasileiros do Global ITV.
Zuffo destaca que a televisão tem a mesma característica da internet, são pequenos pacotes de dados que chegam digitalmente aos aparelhos. A diferença é que internet é interoperável e a TV digital não. Isso significa que a pessoa pode acessar pela internet o mesmo conteúdo em qualquer país, em qualquer aparelho ou meio tecnológico, o que contribui para o avanço da grande rede em detrimento do conteúdo televisivo: "Isso é um problema mundial, por isso o Global ITV não se restringe aos mercados brasileiros e europeus que participam do projeto. Acreditamos que ele terá impacto global".
"Hoje, você não pode comprar uma TV nos Estados Unidos e trazer ao Brasil para assistir a programação da TV digital aberta"
A solução
O Global ITV é um projeto que reúne pesquisadores e instituições europeias para desenvolver um sistema compatível de transmissão e recepção digital de áudio e vídeo de TV, além de uma plataforma de interatividade. Em resumo, a proposta é tornar a televisão tão globalizada quanto a internet.
"A nossa contribuição técnica é conceber um navegador, browser, capaz de harmonizar todas essas tecnologias de diferentes sistemas de televisão digital, permitindo que qualquer conteúdo brasileiro desenvolvido aqui seja comercializado em escala global e vice-versa", afirma o professor da Poli.
O projeto Global ITV foi finalizado em 2015 e já há cidades que implementam essa solução com sucesso. O funcionamento é muito semelhante ao de smart TVs, com uma interface que cria um meio de campo entre o consumidor e o conteúdo. Dessa forma, tudo que é produzido deve atender aos padrões especialmente criados para esse formato.
Dificuldades
Apesar de já estar implementado e em fase de testes, o Global ITV agora tem que competir com dispositivos ainda mais competentes. A mudança tardia permitiu que smart TV tornassem o nicho muito mais inteligente, e, com a chegada de conteúdo por streaming, é como se tivéssemos a internet diretamente em nossa televisão.
Netflix, YouTube, Twitch.tv e muitas outras plataformas já ganharam o coração de muitos consumidores que nem ligam mais a televisão. Mesmo com a adoção do padrão digital mundial não há garantias de que o conteúdo produzido vá conseguir se tornar popular usando apenas o projeto Global ITV. Para dar um fim correto para essa proposta, ela deve vir para complementar e não para substituir o que já veio para ficar.
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