(Fonte da imagem: Reprodução/Threat Post)
Conforme noticiamos na última segunda-feira (10), a Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET) organizou uma coletiva hoje (13) para demonstrar um estudo feito em parceria com o Laboratório de TV Digital da Universidade Presbiteriana Mackenzie. De acordo com um relatório de 144 páginas produzido ao término da pesquisa, a rede LTE-4G causará graves interferências no sinal de alguns canais de TV digital caso seja alocada na frequência 698 a 806 MHz – que ficou popularmente conhecida como “faixa de 700 MHz”.
Olímpio José Franco, atual presidente da SET, afirmou que a pesquisa foi iniciada em abril de 2013 por um grupo de estudos específico criado dentro do órgão para investigar os possíveis efeitos da implementação do sinal 4G dentro da área da comunicação televisiva. Em parceria com a Mackenzie, foi construído um laboratório capaz de simular em detalhes um cenário no qual a rede 4G já opera na faixa de 700 MHz.
A ideia era testar a influência de estações rádio base e dos próprios dispositivos móveis operantes com essa tecnologia em diferentes modelos de aparelhos televisores e receptores de sinal televisivo. Ao todo, 3,2 mil medições foram efetuadas, com equipamentos fabricados entre os anos de 2007 e 2013.
Interior da estrutura montada para simulação do cenário (Fonte da imagem: SET)
Um futuro perigoso
Os resultados encontrados pelos pesquisadores são “alarmantes”, nas palavras do próprio José Franco. A equipe constatou que o 4G pode causar interferências nos canais 48 a 69 (com leves variações de acordo com o modelo do televisor ou receptor utilizado para captar o sinal de TV), sendo que a força da intromissão depende sobretudo da distância das estações rádio base ou terminais móveis (celulares, tablets etc.).
Em um vídeo demonstrativo, o Prof. Gunnar Bedicks Jr. (responsável pelo laboratório da Universidade Mackenzie) exemplificou que a interferência é capaz de congelar a imagem da TV ou torná-la completamente preta, impossibilitando o acompanhamento de um programa televisivo.
Se levarmos em conta o número de antenas de rádio base presentes em prédios de grandes centros metropolitanos (como a região central de São Paulo capital), temos um cenário ainda mais preocupante em vista.
Torna-se evidente que a interferência não afetará somente as “periferias” das cidades brasileiras (onde a recepção da TV é mais fraca e, logo, mais suscetível a intromissões); moradores de áreas próximas às antenas de rádio base também sofrerão por conta do sinal 4G de maior intensidade. Usar um celular ou tablet (terminal móvel) perto de uma televisão equipada com antena interna também poderá acarretar em fortes interferências no sinal televisivo digital.
Gadgets 4G poderão causar interferências caso sejam utilizados perto de TVs (Fonte da imagem: SET)
Possíveis medidas preventivas
Receptores de TV mais recentes (fabricados a partir de 2013) são mais resistentes a interferências, mas ainda assim não demonstraram um resultado satisfatório durante os testes realizados pela Mackenzie.
O uso de filtros em antenas também não é 100% eficaz, especialmente contra intromissões oriundas de terminais móveis. De acordo com Ana Eliza Faria e Silva, diretora de tecnologia da SET, “a regulamentação atual não assegura uma convivência sem interferências entre o LTE e a TV digital”.
O órgão sugere que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) crie medidas mais rígidas e imponha obrigações às operadoras de telefonia com o intuito de mitigar as interferências que poderão causar um verdadeiro “apagão televiso” na população brasileira. Também é sugerido que os sistemas domésticos de televisão e terminais móveis (gadgets) passem a serem fabricados com especificações facilitadoras para que essas convivência se torne harmoniosa.
“A necessidade de reformular o parque doméstico de antenas de recepção implica em custos expressivos, que ainda precisam ser calculados, e num enorme desafio logístico. Também impõe aos profissionais da SET a responsabilidade de apoiar o desenvolvimento de profissionais e a especificação de equipamentos adequados a essa tarefa”, afirma Franco.
Exemplo de proximidade perigosa entre antenas de TV e antenas rádio base em centros metropolitanos (Fonte da imagem: SET)
O que está sendo feito?
Vale observar que o leilão da faixa 700 MHz está previsto para agosto deste mesmo ano, ocasião em que até quatro operadoras poderão arrematar lotes da frequência para oferecer seus serviços de internet móvel.
A Anatel – que ainda não se pronunciou sobre o estudo divulgado pela SET – afirma que está realizando testes intensos para garantir que o LTE não cause qualquer tipo de problema quando alocado na nova faixa.
Para os pesquisadores da SET, todavia, é importante que a Anatel antes de tudo reveja sua resolução nº 625, aprovada em 11 de novembro de 2013, para que condicione melhor o uso da frequência 700 MHz e evite as temidas interferências. O órgão defende que o atual documento é ineficaz e não impõe normas capazes de criar um cenário de convivência harmoniosa entre a rede 4G e a TV digital.
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