Será que viajaremos em tubos no futuro? (Fonte da imagem: Reprodução/ET3)
Quando bate aquela vontade de comer uma bela macarronada, não há nada mais legal do que ter a chance de ir até um restaurante bem tradicional e pedir o melhor, maior e mais gostoso prato que você aguentar comer (e que o seu bolso permitir, é claro!).
Mas e se você pudesse fazer a sua refeição lá mesmo, na Itália, não seria uma beleza? Pois é, seria uma maravilha, mas é algo impossível nos dias de hoje, afinal de contas, quem é que gasta 15 horas em uma aeronave somente para comer um prato de macarrão?
Contudo, há quem acredite que esse tempo poderia ser reduzido para menos de duas horas. Por mais louca que a ideia possa parecer, um novo meio de transporte que está em estudo nos Estados Unidos promete ser capaz de permitir que você viaje até a Europa somente para ter um belo jantar.
Chamado de Evacuated Tube Transport ou simplesmente ETT, o veículo funcionaria com base nos já utilizados maglevs – uma espécie de trem que opera “planando” sobre trilhos magnéticos. Aqui, entretanto, essa tecnologia seria adaptada a alguns túneis gigantescos – e sem uma partícula de ar. Segundo eles, com os “carros” operando no vácuo tudo seria mais rápido, seguro e barato. Será?
Sem resistência
A ideia dos desenvolvedores do ETT (e donos da empresa ET3, por trás do projeto) pode ser traduzida em um conceito simples: eliminar todo tipo de atrito e/ou resistência que possa impedir o veículo de transitar na maior velocidade possível.
Cápsula de transporte (Fonte da imagem: Reprodução/ET3)
Assim, eles pensaram bem na hora de escolher o modal de transporte, selecionando a opção magnética, pois, com o vagão “voando”, a resistência do terreno já é eliminada. Entretanto, outro obstáculo bem conhecido por todos os outros tipos de transporte ainda estaria no caminho: o ar.
Seja um carro, um trem, um navio ou mesmo um avião, a resistência do ar sempre estará ali para atrapalhar a condução de um meio mais rápido. Assim, a única opção é eliminá-lo do caminho. E é aí que vem o grande diferencial do ETT.
Viajando em tubos
O projeto consiste em desenvolver um meio de transporte que se locomova dentro de tubos sem nenhum sopro de oxigênio, ou seja, em um caminho literalmente fechado a vácuo. Isso, como dito acima, funcionaria como o principal diferencial do Evacuated Tube Transport, afinal de contas, eliminaria a resistência do ar no caminho do veículo.
Isso também permitiria que a força gravitacional exercida sobre os vagões também mostrasse um comportamento totalmente diferente. Mesmo com o carro viajando a mais de 4 mil quilômetros por hora, a força exercida seria de aproximadamente 1 G, algo muito parecido ao que você sente quando está viajando em um automóvel de passeio.
Os tubos poderiam ser construídos tanto sobre a superfície quanto também embaixo do terreno. Segundo os criadores da ideia, isso poderia ser feito de acordo com as exigências de cada lugar ou país e não influenciaria diretamente no funcionamento do ETT.
Esses invólucros também não exigiriam muita especificidade na hora de se escolher o material para a sua elaboração. De acordo com o site do projeto, plástico, cimento, aço, alumínio, enfim, qualquer coisa capaz de manter o vácuo dentro dos túneis.
Túneis selados a vácuo (Fonte da imagem: Reprodução/ET3)
Para permitir que os tubos não tenham ar, as células seriam “embarcadas” nos túneis por meio de estações de ar. Motores elétricos moveriam os carros e a sua energia seria recarregada sempre que eles se aproximassem das estações e utilizassem os freios – mais ou menos como o KERS de um carro de Fórmula 1.
Voando baixo
Os tubos e o fechamento a vácuo proporcionariam uma condição perfeita para que o Evacuated Tube Transport atingisse velocidades extraordinárias. Daryl Oster, fundador e CEO do projeto, afirma que as células de transporte do ETT poderiam ultrapassar os 6.400 quilômetros por hora.
Com isso, uma viagem saindo de Nova York, nos Estados Unidos, e indo até Beijing, na China, poderia ser feita em cerca de duas horas. Essa rapidez, contudo, só seria utilizada em viagens internacionais, sendo que, em transportes domésticos, o ETT rodaria com velocidade média de 600 quilômetros por hora.
Bem mais barato
Os desenvolvedores do Evacuated Tube Transport garantem que ele é o meio de transporte de longas distâncias mais barato já desenvolvido pelo homem. Segundo eles, essa garantia é dada por especialistas em economia e que estudam o mercado de transportes no mundo todo.
Viagens longas e baratas (Fonte da imagem: Reprodução/ET3)
Os custos seriam muito mais baratos do que o dinheiro gasto para se construir uma autoestrada nos Estados Unidos, por exemplo, alcançando somente 25% do que o governo gasta em obras desse tipo. Em um estudo já um pouco antigo, feito em 2003, o ETT estimava os gastos em 2 milhões de dólares por cada milha construída (cerca de 4 milhões de reais a cada 1,6 quilômetro).
Os custos de mobilidade também seriam absurdamente mais baixos. Segundo o site do projeto, os carros do ETT poderiam transportar 50 vezes mais cargas e pessoas por kWh gasto do que um trem movido à energia elétrica.
Carros de até seis passageiros
O site do Evacuated Tube Transport afirma que os seus criadores, após analisarem todos os modais de transportes populares utilizados pela humanidade, resolveram “copiar” o modelo mais popular de todos os tempos: os automóveis particulares.
Vamos embarcando! (Fonte da imagem: Reprodução/ET3)
Por isso, as células de transporte utilizadas dentro do ETT terão uma capacidade de passageiros bem semelhante à desses veículos, levando seis por viagem. Esses carros terão geradores de ar e bagageiros para que você leve as suas malas.
Como a viagem aconteceria em tubos totalmente fechados, janelas artificiais dariam mais “vida” às viagens, mostrando não só paisagens de várias partes do mundo, mas também permitindo que você veja filmes ou jogue video game, por exemplo. Toda a viagem acontecerá de maneira automatizada e não haverá nenhum motorista nas células.
Estou preso no meio de um tubo!
O projeto do Evacuated Tube Transport cita paradas de emergência a cada milha de trajeto. Se qualquer problema surgir no carro ou no caso de algum passageiro ficar doente, por exemplo, ele automaticamente se encaminhará para a estação desse tipo mais próxima.
Para evitar acidentes, o ETT também deve contar com sistemas de freio sobressalentes. Assim, no caso de surgir algum imprevisto e houver falhas nesse sentido, automaticamente as ferramentas reservas deverão entrar em ação.
Perguntas sem resposta
Os artigos sobre o Evacuated Tube Transport impressionam todo mundo que os lê nos mais diversos sites da internet por todo o planeta. Não é para menos, afinal de contas, a ideia realmente empolga, pois promete revolucionar os meios de transporte a longa distância em todo o planeta.
Entrando no túnel. Processo é complexo. (Fonte da imagem: Reprodução/ET3)
Contudo, há uma grande lista de perguntas sem resposta. A garantia de segurança dentro dos tubos selados a vácuo, por exemplo, é talvez a principal delas. Qualquer problema nesse sentido poderia fazer toda uma linha de túneis desaparecer. Desastres naturais, atentados e uma manutenção imprecisa também trariam riscos muito maiores para os passageiros do que uma estrada esburacada, por exemplo.
O vácuo ainda traz outros questionamentos. Como o ar seria mantido fora dos túneis constantemente? Haveria supermotores sugando toda e qualquer partícula de oxigênio ao longo do caminho? E o custo de tudo isso?
As estações que fariam os carros passar para dentro dos túneis evitariam que o ar entrasse no trajeto. Porém, o Evacuated Tube Transport cita que devem existir também diversas estações de emergência ao longo do caminho. Será que todas elas teriam esse processo de “transferência” da célula para fora dos túneis? Isso também elevaria consideravelmente os custos do projeto.
Os projetos do ETT não explicam quais aprimoramentos seriam necessários ao maglev para que ele pudesse funcionar nos túneis. O intervalo de “saída” de uma célula até que outra possa ser lançada não é explicitado no projeto.
Canos de gás ou viagens ultrarrápidas? (Fonte da imagem: Reprodução/ET3)
O funcionamento dos carros também não é detalhado e não há informações sobre as tecnologias utilizadas nessas células ou se haverá um banheiro disponível. Se houverem líquidos, como será a administração desses materiais e para onde vai o “suor” dos sistemas de ar condicionado?
Os exemplos utilizados pela página citam, em alguns casos, a Estação Espacial Internacional, contudo, nesse caso, será que as mesmas tecnologias seriam aplicadas? Vale lembrar que a EEI é considerada a construção mais cara da história, ou seja, tais “ferramentas” não seriam nada baratas de serem instaladas.
Como serão utilizados carros pequenos para um modal de transporte para longas distâncias, o trânsito dentro dos túneis seria intenso e teria que haver uma espécie de comunicação entre eles para que grandes desastres não acabassem acontecendo.
Sem interessados
Os grandes mistérios que ainda cercam o Evacuated Tube Transport talvez estejam impedindo que os governos adotem o meio de transporte. No site do projeto, há diversas citações dando a entender que o projeto “incomoda” algumas gigantes multinacionais, principalmente as indústrias de combustíveis fósseis.
Licenças são baratas (Fonte da imagem: Reprodução/ET3)
Assim, para viabilizar um protótipo em escala real do ETT, os idealizadores do meio de transporte criaram um sistema de venda de licenças. Qualquer pessoa pode comprar uma, que funciona como uma espécie de ação do projeto. Com ela você passa a ser um associado e colabora para que o trabalho aconteça.
No próprio site do Evacuated Tube Transport, você é capaz de se tornar um licenciado – e há, inclusive, diversas “categorias” disponíveis e com os mais diferentes preços. Se você quiser uma licença pessoal, por exemplo, pode adquiri-la desembolsando a bagatela de 100 dólares. Se o ETT fizer tudo o que promete, o investimento tem retorno garantido. Vai arriscar?
Bônus: essa ideia já é velha!
O conceito e todas as ideias por trás do Evacuated Tube Transport podem até ser incrivelmente revolucionários, contudo, essa maneira de transportar cargas e passageiros já foi idealizada muito antes do que qualquer um de nós jamais poderia imaginar.
Robert Goddard, um engenheiro norte-americano bastante famoso, chegou a desenvolver protótipos do que ele chamava, em 1910, de Vactrain. A ideia seria selar um trem e fazê-lo ir de Boston até Nova York em 12 minutos, algo que o faria atingir uma velocidade média de 1.600 quilômetros por hora. Vale lembrar que Goddard é também o inventor do conceito de foguete espacial que conhecemos até os dias de hoje.
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