O que é preciso para você se transformar em um dos maiores super-heróis já criados até hoje? Poderes fenomenais? Uma fantasia colorida e moderna? Muito dinheiro ou um vilão cruel e poderoso? Apesar de tudo isso ajudar na construção da fama, o que realmente importa é a identificação que acontece entre herói e público.
Nesse quesito, ninguém é melhor que o Homem-Aranha. Depois de ter sido picado por uma aranha geneticamente modificada, o jovem Peter Parker recebeu poderes de um aracnídeo, como a capacidade de escalar paredes, lançar teias, superforça e até mesmo o incrível sentido aranha.
Porém, isso não mudou o fato de ele continuar sendo o nerd de sempre. Mesmo sendo um herói, continuava a sofrer bullying dos colegas e a mulher de seus sonhos nem sequer reparava em sua existência. Quem nunca passou por algo assim?
Além disso, o que fez o Homem-Aranha conquistar o coração das pessoas é o bom humor que ele possui até mesmo no calor das batalhas contra os vilões mais perigosos de Nova York. É por conta desse alto astral que ele é até hoje chamado de o Amigão da Vizinhança.
Como a vida imita a arte, é óbvio que os incríveis poderes de Peter Parker logo iriam se transformar em artigos tecnológicos fora das histórias em quadrinhos. Por mais que as habilidades de aranha fossem decorrência de um acidente genético, isso não é nada que não possa ser adaptado na realidade.
O legado do Aranha
Como todo bom super-herói, o Homem-Aranha teve sua maior lição antes mesmo de lutar contra o crime. Em uma conversa com tio Ben, o homem que o criou como um pai, o jovem Peter Parker ouviu as palavras que norteariam sua vida por baixo da máscara de aranha: “com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”.
É a partir desse momento que ele decide lutar contra o crime e usar suas habilidades para o bem, criando o característico uniforme e a famosa identidade do Amigão da Vizinhança. Mas e na vida real, como isso funciona?
Escalar paredes
Tentar simular os poderes do Homem-Aranha é algo bem recorrente. Quem nunca viu personagens de desenhos animados que escalavam prédios, da mesma forma que o Amigão da Vizinhança, utilizando desentupidores de pias e outros objetos de sucção?
Apesar de parecer absurdo, o conceito não é de todo falso. Diversas tentativas de recriar (ou adaptar) a habilidade a partir dessa proposta foram criadas, mesmo que a maioria delas tenha fadado ao fracasso.
Porém, alguns experimentos realmente funcionaram. É o caso da invenção de Jem Stansfield, um americano que decidiu fazer aquilo que todos já imaginaram quando criança: transformar um aspirador de pó em uma fantástica engenhoca.
Ele retirou os motores de dois eletrodomésticos e adaptou-os em uma espécie de mochila acoplada com duas pranchas de sucção utilizadas em suas mãos. Com isso, ele conseguiu escalar uma parede de nove metros. O único problema é o desconforto de carregar algo tão grande, barulhento e incômodo nas costas.
Um pouco mais profissional
É claro que de todos os poderes do Homem-Aranha, o mais possível de ser recriado é a habilidade de escalar paredes. Além das tentativas caseiras, diversas empresas decidiram reaproveitar a ideia em seus produtos e equipamentos.
A empresa americana BAE Systems, por exemplo, desenvolveu uma espécie de superadesivo, batizado de Synthetic Gecko, capaz de suportar o peso de uma pessoa, o que a permite a escalada. Tudo isso sem deixar qualquer tipo de resíduo, além de poder ser reutilizado.
Porém, a base inspiradora dessa tecnologia não é a aranha, mas a lagartixa. O adesivo, assim como o pequeno réptil, utiliza nanofibras que funcionam como uma espécie de velcro e grudam na superfície da superfície em contato.
Apesar disso, o conceito não foge em nada do universo do Homem-Aranha. Em seu primeiro filme, lançado em 2002, Peter Parker percebe o crescimento de pequenas fibras em suas mãos, o que lhe permite escalar paredes.
A capacidade de aderência do Synthetic Gecko é incrivelmente potente, suportando cerca de 3 mil quilos por metro quadrado. Isso significa que um pedaço de 60 cm² desse elemento é capaz de suportar o peso de um carro de família.
Porém, mesmo que isso possibilite que você aja como o Amigão da Vizinhança, sua utilização não é para o combate ao crime. Até então, o superadesivo foi desenvolvido para ser usado na reparação de tanques de gasolina e conserto da superfície de aeronaves.
Ainda mais perto da ficção
Se a utilização de um adesivo lhe parece pouco heroico ou nada prático para se locomover por uma cidade como Nova York, que tal ter essa habilidade na sola dos seus pés ou na palma de suas mãos? Pois pesquisadores americanos criaram aquilo que chega mais próximo do poder do Homem-Aranha.
Trata-se de uma bota com um dispositivo elétrico em um solado cheio de pequenos orifícios alimentado por uma bateria comum de 9 volts. Ela cria uma espécie de campo magnético em volta do pé do usuário, que passa a escoar água por meio desses pequenos furos, o que cria uma força de sucção capaz de suportar o peso de uma pessoa. Para descer, bastar alterar a polaridade da corrente elétrica para que a aderência acabe.
A grande vantagem desse tipo de tecnologia sobre o Synthetic Gecko é a possibilidade de ser utilizada em vários tipos de superfície. Enquanto o adesivo precisa ser usado em ambientes secos e lisos, a bota elétrica é mais versátil e pode ser “colada” em qualquer tipo de material. Isso sem falar que a proximidade estética com o Homem-Aranha é muito maior.
Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades
Como a grande maioria das criações tecnológicas, o primeiro mercado a estudar os benefícios desse sistema de escalada é o Exército Americano, seja para missões de invasão quanto para de resgate.
Primeiramente, equipamentos como a bota elétrica e o Synthetic Gecko possibilitariam que soldados escalassem prédios sem a utilização de cordas. Assim, resgatar pessoas de construções cujo acesso interno é comprometido torna-se muito mais simples e prático.
Outra funcionalidade que o dispositivo elétrico possui é de destruir. Em determinados casos a sucção do aparelho é tão forte que é capaz de deformar a superfície, de maneira semelhante quando você puxa o ar de um copo plástico. Uma luva equipada com esse tipo de tecnologia, por exemplo, poderia “explodir” uma porta facilmente.
Teia
Outra habilidade de nosso herói que sempre chamou a atenção da indústria fora dos quadrinhos é a teia que o Homem-Aranha utiliza para se balançar entre os prédios de Nova York e para lutar contra os criminosos da cidade.
Porém, há uma pequena divergência sobre a origem do fluido utilizado pelo Amigão da Vizinhança nas histórias em quadrinhos e nas versões adaptadas para o cinema.
Originalmente, Peter Parker criou um pequeno dispositivo que ele usava nos pulsos para disparar uma espécie de teia sintética. O problema é que ela era feita de um material resistente que nem mesmo o Exército dos EUA tinha conseguido reproduzir. Para evitar qualquer incoerência, adotou-se nos filmes o conceito de que a teia era produzida pelo próprio organismo do rapaz após o incidente genético.
Entretanto, oito anos após o lançamento do primeiro longa-metragem, a realidade é um pouco diferente. Apesar de ainda ser impossível recriar um elemento capaz de suportar o peso de um homem fantasiado de aranha, os avanços na criação de uma espécie de teia resistente já é algo próximo de sair das páginas das histórias em quadrinhos.
A empresa Nexia Biotechnologies misturou genes de uma aranha em uma cabra. O resultado foi a presença de um material no leite deste animal com resistência equiparável ao aço. Estima-se que ele seja capaz de suportar uma tensão de mais de 210 milhões de quilos por metro quadrado.
Batizada de “BioSteel” (algo como BioAço em uma tradução literal), a substância é semelhante à seda e, por incrível que pareça, parece ser compatível com o corpo humano. Por conta disso, estuda-se sua utilização em tratamentos fisioterápicos, principalmente com tendões e ligamentos.
Entre a ficção e a realidade
Entre os diversos super-heróis existentes nas histórias em quadrinhos, poucos possuem tecnologia correspondente a seus poderes no mundo real. No caso do Homem-Aranha, entretanto, realidade e ficção estão bem próximos.
Apesar disso, essas adaptações das habilidades do herói não significam que dentro de alguns anos vamos ver pessoas fantasiadas de aranha lutando contra o crime nas grandes cidades.
As histórias em quadrinhos servem como fonte de inspiração para que novas tecnologias sejam criadas, mas com novas finalidades. Com o Amigão da Vizinhança não é diferente, mas não seria uma má ideia termos nossos próprios Peter Parker.
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