Digital. Nenhuma palavra define — ou começa a definir — melhor a maneira como qualquer tipo de conteúdo atinge um maior número de pessoas em um curto espaço de tempo. Uma atividade desafiadora, porém igualmente prazerosa, é analisar as novidades tecnológicas e prever o que pode ou não cair nas graças do público.
Muitos entusiastas da tecnologia apostam que 2010 é o ano dos e-readers, os leitores eletrônicos. Motivos para tamanha confiança, eles têm de sobra. Basta falar do sucesso do Kindle, leitor da Amazon, e do lançamento do iPad da Apple.
Sempre quando o assunto é leitura digital, um velho conhecido da humanidade é posto no paredão e seu futuro começa a ser discutido. É um tal de papel e o “papel” que ele exerce atualmente. Estará o papel, as revistas, os jornais — enfim, o mercado editorial — condenado a acabar?
Palavras em bits
De uma maneira geral, o tom é otimista entre jornalistas, escritores, editores e outros profissionais envolvidos neste mercado. Trata-se de um período com mais oportunidades do que riscos.
A geração consumidora de mídia atual é exigente, sabe suas escolhas e pensa em todas as opções que pode ter para satisfazê-la. Quem não gosta de carregar uma revista ou sujar os dedos com um jornal certamente tem bons olhos para uma alternativa mais cômoda.
Imagine então que, além da leitura, o consumidor pode navegar pelas páginas de uma revista ou livro e observar imagens com recursos 3D. Em resumo, a história passa a ser multidimensional e o leitor é mais atraído por ela.
A revista estadunidense Wired Magazine, que aborda assuntos referentes à tecnologia e como eles afetam culturas, tem um modelo de publicação totalmente digitalizado. Faltava a ferramenta capaz de levar este conteúdo ao público. Não falta mais com o anúncio do iPad. Outra publicação de sucesso também tem edições digitais. a Sports Illustrated.
Scott Dadich, diretor de criação da Wired, dá um bom parâmetro para o debate: “Ainda haverá a narrativa rica, mas será possível criá-la em filmes curtos, em imagens de 360°, e a habilidade para virar um produto e ver todos os lados dele”.
É mais, nunca menos
As possibilidades são muitas, tanto para quem produz conteúdo quanto para quem banca. Seja qual for a plataforma, o escritor, autor, repórter, etc., sempre será parte chave do processo. Do mesmo jeito, anunciantes podem aproveitar os recursos e causar mais impacto. São mais escolhas tanto para um quanto para outro, além do leitor, é claro.
Em entrevista à revista Época Negócios, Roberto Irineu Marinho, das Organizações Globo, afirmou que a “adaptação de determinados modelos de negócios é inegável, assim como o potencial de surgimento de modelos inéditos”. Na mesma publicação, Roberto Civita, da Editora Abril, afirmou que “a curto prazo, eles [e-readers] nos obrigam a repensar — e rápido — o negócio como um todo e investir tempo, dinheiro e talentos na busca de soluções digitais."
Com base nessas declarações e tomando outros exemplos de inovação, é possível concluir que o mercado editorial não está condenado, mas precisará de um choque criativo e de habilidade para encontrar fórmulas rentáveis para o negócio.
Adapte-se ou diga adeus
Tomemos como exemplo a música, que começou no vinil, passou por fita magnética até chegar no CD e ser finalmente digitalizada. O MP3 abalou gravadoras e também foi considerado como algoz do CD. A Apple, com o iTunes, encontrou uma maneira para manter o usuário interessado em pagar pelo conteúdo digital, com os atrativos de organização do software e com o conceito de micro pagamento, ou seja, de pagar por somente aquilo que interessa.
Como toda tecnologia que colocou em cheque um padrão já consolidado, é inegável que nem todos os mercados editoriais sairão ilesos. Muitas ideias surgirão, e certamente muitas não vingarão.
A chave do sucesso, com base nas declarações de editores de conteúdo, é oferecer conteúdo rico, mas não imediatamente. O período agora é de adaptação, de pensar em um mundo de texto digital. Editorias ainda exercerão papel fundamental no processo como o elo entre quem cria e quem consome o conteúdo.
O preço a ser cobrado por isso gera outra discussão. Quanto vale um livro digitalizado em relação ao impresso? Qual o atrativo para o leitor pagar conteúdo, sendo que é possível encontrar tudo online na web?
Qualidade. Leitura é uma paixão. Leitores certamente pagam pelo que acham bom. Lutar contra isso, como o mercado editorial tenta fazer na França, pode ser um tiro pela culatra. Para a tamanha exigência do público, só há uma arma igualmente grande: a criatividade de quem fornece conteúdo.
Este é só o começo do debate, não chega nem a ser a ponta do iceberg. Queremos agora ouvir a sua opinião, caro usuário. Participe, deixe seu comentário sobre os rumos dos mercados editoriais em meio à profusão dos e-readers.
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