Quando os primeiros testes com o rádio digital começaram no Brasil, em 2005, a perspectiva é que ainda naquele ano diversas emissoras estariam adaptadas ao novo sistema e já seria possível encontrar à venda aparelhos adaptados à tecnologia.
Fora algumas notícias pouco animadoras, pouco se ouviu falar de rádio digital até o ano de 2007, em que mais uma vez surgiu a promessa de que, em pouco tempo, as transmissões digitais já seriam algo comum. O que se seguiu desde então foi um longo período de testes, e mais um longo período sem que houvesse notícias sobre a implementação da tecnologia do país.
Apesar das perspectivas desanimadoras que a falta de notícias pode trazer, tudo indica que 2010 será o ano em que a rádio digital vai decolar no país. Foi o que anunciou no final de 2009 o ministro das Comunicações, Hélio Costa, em reunião com empresários e dirigentes de associações de radiodifusão. Segundo o ministro, até metade de fevereiro deve ser anunciado qual o sistema de rádio que deverá ser adotado pelo Brasil.
Problemas na definição do padrão
O principal obstáculo para a adoção do rádio digital em grande escala no Brasil está na definição de qual deve ser o padrão adotado pelas emissoras e fabricantes de equipamentos. Assim como aconteceu com a televisão digital, o governo tem a opção de adotar um entre diversos padrões de transmissão diferentes, cada um com pontos fortes e fracos que devem ser considerados antes de uma decisão.
Os principais concorrentes na briga para definir qual o padrão de rádio digital que deve ser implementado no Brasil são o sistema norte-americano IBOC (In-Band-On-Channel) e o europeu DRM (Digital Radio Mondiale). Apesar de em essência oferecerem os mesmos serviços para o usuário final, a diferença na qualidade de transmissão de sinais AM e FM ainda gera dúvidas e incerteza para as emissoras brasileiras.
Enquanto em 2007 tudo indicava que o IBOC seria escolhido por sua versatilidade, que permite enviar sinais analógicos e digitais de maneira simultânea, os testes realizados com o sistema mostraram que a qualidade das transmissões AM ficava aquém do esperado. Já o sistema DRM se mostrou competente na transmissão de ondas curtas, mas faltavam testes que comprovassem sua eficiência quando sinais FM são enviados.
Dessa forma, para que houvesse tempo de as emissoras testarem o padrão DRM, a decisão sobre o futuro das transmissões digitais no Brasil teve de ser adiada novamente. Após testes exaustivos, a expectativa é que em 2010 finalmente deve surgir a palavra final sobre o tema.
Quais as diferenças entre o IBOC e o DRM?
O IBOC, também conhecido como Radio HD, tem como principal atrativo a possibilidade de transmitir sinais híbridos, que transportam as informações tanto de maneira digital quanto analógica utilizando a mesma frequência. Ou seja, quem não possui um receptor digital poderá receber o sinal da emissora através dos velhos aparelhos que só trabalham com o sinal analógico.
A desvantagem do IBOC está na transmissão do sinal AM, que tende a apresentar uma série de ruídos, e na transição do sinal analógico para o digital. Como os aparelhos compatíveis com a tecnologia são compatíveis com os dois sinais, há uma troca automática para o sinal analógico quando há problemas de recepção do sinal digital.
O problema surge pelo fato de haver um intervalo de oito segundos entre a transmissão dos dois sinais. Ou seja, caso o usuário esteja captando o sinal analógico e mude para o digital, terá de ouvir novamente toda a programação transmitida nos últimos oito segundos, o que representa um grande problema em áreas de instabilidade da recepção do sinal.
O DRM é utilizado principalmente para a transmissão de sinais AM e apresenta ótimos resultados no que diz respeito à qualidade de recepção. Esta tecnologia também representa uma utilização melhor das frequências disponíveis, o que permite que mais emissoras transmitam programações diferentes no espectro de ondas disponível.
Assim como o IBOC, o DRM é capaz de transmitir tanto sinais analógicos quanto digitais de maneira simultânea, e tem como vantagem exigir menos investimentos por parte dos rádiodifusores para ser implementado. Porém, como é concentrado na transmissão de sinais AM, ainda há incerteza sobre a eficiência da tecnologia na transmissão de rádios FM.
Um fator que pode influenciar na decisão tomada pelo governo é o investimento feito por várias emissoras no padrão IBOC. Como desde 2005 tudo apontava que esta seria a tecnologia padrão adotada pelo Brasil, vários empresários quiseram se adiantar às novas transmissões e jáinvestiram nos equipamentos necessários para acompanhar a novidade.
Dessa forma, não será surpreendente se o padrão for adotado mesmo que o DRM se mostre uma alternativa viável para a transmissão de sinais FM. Isso porque a opção pelo formato europeu significaria que grupos poderosos teriam de investir novamente na compra de equipamentos, e todo o investimento feito no sistema IBOC teria sido em vão.
O que muda com a rádio digital?
Assim como acontece nas transmissões de televisão pelo sinal digital, a principal mudança que pode ser notada automaticamente pelos usuários está na qualidade do sinal recebido. Enquanto as transmissões de AM ficam com qualidade semelhante à das emissoras FM analógicas, é possível obter áudio semelhante ao de CDs nas transmissões de sinais FM pelo método digital.
Além de representar um ganho na qualidade de áudio, a transmissão de sinais digitais também pode representar o fim dos chiados e falhas. Ao contrário das transmissões atuais, que utilizam sinais analógicos deteriorados facilmente devido a interferências externas, o sistema digital divide o sinal enviado em várias porções, tornando-o mais resistente à ação de impedimentos como condições atmosféricas e obstáculos geográficos.
Além de permitir uma recepção mais clara das informações enviadas, a divisão dos sinais permite investir em diversas programações simultâneas transmitidas pela mesma frequência. Ou seja, o usuário poderia optar entre ouvir a transmissão de um jogo ou continuar ouvindo músicas, sem ter que trocar de rádios. Isso só para citar uma das possibilidades.
O sinal digital traz mais versatilidade para as transmissões radiofônicas tradicionais ao transformar o rádio em um meio multimídia, assim como a televisão ou a internet, por ser capaz de enviar textos e imagens para os aparelhos receptores. Dessa forma, enquanto o narrador de um programa fala sobre um acontecimento, podem-se ver fotografias tiradas no local, enquanto o leitor do aparelho mostra um texto com a previsão do tempo, por exemplo.
E o rádio analógico, como fica?
Mesmo representando ganho de qualidade na recepção da programação e uma maior diversidade de conteúdo, o rádio analógico ainda carrega alguns fatores que podem assustar quem pretende fazer a transição. Assim como na transição para a televisão digital, será preciso comprar aparelhos totalmente novos para receber os sinais radiofônicos digitais.
Como ainda se trata de uma tecnologia nova, naturalmente o preço destes aparelhos é proibitivo, ainda mais levando em conta que não são produzidos em território nacional. Como atualmente é possível comprar rádios do sistema analógico por poucos reais em qualquer estabelecimento, seria um verdadeiro tiro no pé realizar a transição de maneira descuidada.
Felizmente, o governo decidiu que a transição do sistema analógico para o digital não terá nenhum prazo máximo como acontece para os aparelhos de televisão, que até 2016 terão de obedecer ao novo padrão. Ou seja, não é preciso se preocupar em guardar dinheiro desde já para comprar um novo equipamento, já que as rádios analógicas tendem a permanecer no ar durante muitos anos.
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