Underarmour E39: exemplo de computação vestível. (Fonte da imagem: Divulgação/Underarmor)
Pense naquela imagem dos computadores nas décadas de 70 e 80, antes de eles começarem a diminuir de tamanho e a se tornarem cada vez mais velozes. A ideia de vestir algo computadorizado naquela época parecia totalmente ilusória, coisa da ficção científica, de “2001”.
Pois as últimas décadas nos trouxeram computadores mais ágeis e cada vez menores, e hoje em dia você carrega dentro do seu bolso máquinas mais potentes do que aquelas de anos atrás. A evolução da computação não para e o passo atual está em máquinas que podem ser vestidas.
Óculos com realidade virtual, relógios multifuncionais, tecidos inteligentes e até mesmo pulseiras que geram estatísticas de exercícios físicos são alguns dos acessórios que se enquadram em um ramo relativamente recente da tecnologia, a wearing computing ou, em português, computação vestível.
E se para você isso parece uma visão de um futuro distante, saiba que atualmente vários projetos estão em fase de desenvolvimento e alguns inclusive já estão à venda em algumas partes do mundo.
Evolução natural
Um computador nada mais é do que um simulador ou, como levantou o pesquisador Alan Turing, “um tipo particular de máquina que funciona fingindo ser outra máquina”. Você pode ilustrar bem essa afirmação ao analisar a quantidade de dispositivos que estão “dentro” de um PC.
Se antes você precisava de um caderno para escrever seus textos, outro para criar planilhas financeiras e também uma calculadora para fazer suas contas, hoje todos esses dispositivos foram transportados para dentro de um único. A essa lista ainda se pode adicionar um rádio, uma televisão, álbum de fotografia e centenas de outros itens.
Eles já foram grandes, hoje cabem no bolso e logo você vai vestir um computador. (Fonte da imagem: Byronv2 (Flickr))
Com o tempo, aquela máquina que ficava sobre a sua mesa foi sendo reduzida e transportada para dispositivos portáteis, que cabem na palma da mão e oferecem basicamente os mesmos recursos que um computador de mesa. Ou seja, o “simulador de dispositivos” pode ser carregado dentro do seu bolso.
A “sequência natural” dessa evolução, que acabou por juntar PCs, telefones e câmeras, é partir para a criação de dispositivos muito mais casuais, como roupas e acessórios que podem ser vestidos. Depois de simplesmente usar, você começa a vestir a tecnologia, o que pode ser útil de diversas formas.
A realidade na lente
Ao que tudo indica, o produto com o maior número de apostas no mundo da computação vestível são os óculos. Do grande nome do gênero, o famoso Google Glass, até projetos menos conhecidos, esses acessórios parecem saídos de filmes de ficção científica e levam computadores para frente de seus olhos.
Inicialmente desenvolvido para a visualização de fotos e vídeos, o Google Glass deve ganhar mais funcionalidades, aproveitando ainda mais a possibilidade de se ter um computador pendurado em seu rosto. A expectativa em torno de seu lançamento é tanta que ele foi considerado pela revista Time como a invenção do ano em 2012.
Google Glass (Fonte da imagem: Divulgação/Google)
Mas a Google não está sozinha nesse ramo. A companhia Vunix também prepara seus óculos com suporte para realidade aumentada que utilizam uma versão modificada do Android 4.0 e podem se conectar com outros dispositivos via Wi-Fi e Bluetooth. Esse produto ainda oferece GPS e detector de movimentos.
Equipamentos do gênero já disponíveis no mercado, como o Silicon Micro Display ST1080, um modelo de óculos de visual futurista que reproduz vídeos em 1080p em uma tela de 100 polegadas diante dos seus olhos, e o Lumus, que faz o mesmo em uma tela de 87 polegadas, são exemplos do futuro que se avizinha.
Esses objetos nos mostram que óculos dotados de alta tecnologia podem, por exemplo, auxiliar motoristas durante o deslocamento de um local a outro ou mesmo dar uma boa incrementada na forma como você consome entretenimento. Quem sabe, além de filmes, você futuramente não possa visualizar livros e histórias em quadrinhos por meio de óculos especiais.
A tecnologia e o seu corpo
Outros acessórios que começam a se fundir com computadores são aqueles carregados presos ao seu corpo, como faixas, pulseiras e braceletes. O Adidas Micoach Heart Rate Monitor é um monitor de frequência cardíaca que fica preso em torno do tórax, medindo a variação das batidas do coração e enviando tais informações para o iPhone.
De forma automática e sem fio, o aplicativo instalado no smartphone envia os dados para uma página na web, que analisa as informações e funciona como um preparador físico virtual. Lá, você pode planejar seus exercícios, definir metas e tudo mais, mensurando tudo a partir de uma fita presa em torno do seu tronco.
Adidas Micoach Heart Rate Monitor. (Fonte da imagem: Divulgação/Adidas)
Na mesma linha estão as pulseiras Jawbone Up e o relógio Nike Fuel Band. Ambos se conectam ao iPhone para enviar dados relacionados a atividades físicas que você desempenha, tudo de forma discreta, sem fio e quase sem nenhuma necessidade de intervenção humana.
Vale lembrar ainda mais dois acessórios que podem ser incluídos nesta categoria. Um deles é o colar Novero Bluetooth Pendant, que conta com um fone para o ouvido e um dispositivo que capta a sua voz e fica pendurado na altura do peito, ou seja, você não precisa mais tirar o telefone do bolso para atendê-lo.
Outra possibilidade de wearable computing para dispensar de vez o ato de retirar o telefone do bolso ou da mochila, seja para atender uma chamada, acessar sua agenda ou ainda visualizar uma mensagem de texto, é o inPulse Smart Notification. Ele é um relógio aparentemente comum, mas que guarda em si todas essas funções e se conecta ao smartphone sem precisar de nenhum fio.
Roupas do amanhã
A tecnologia para se vestir pode vir também em roupas que você, de fato, veste. Um exemplo é o Fabrican, um tecido em forma de spray que, depois de seco, pode ser até mesmo lavado e reutilizado, pois usa polímeros que não se desintegram. Os gamers ganham um acessório de peso para sua jogatina: o 3rd Space FPS Gaming Vest, um colete equipado com compressor de ar que simula a força direcional de um dano sofrido dentro do jogo.
Tecido em forma de spray com polímeros que não se desintegram depois de secos. (Fonte da imagem: Divulgação/Fabrican Ltd.)
A Underarmour E39 é uma roupa que também se enquadra na computação vestível e trabalha de forma biométrica. Ela serve para monitorar sinais vitais, transferindo a informação para um portátil ou mesmo para um PC, agindo de forma semelhante a pulseiras e relógios high-tech.
E se suas roupas fossem à prova de corte? Assim funciona a PPSS Cut Resistant Fabric, capaz de resistir a investidas de vidros e lâminas, por exemplo. Além disso, na China, pesquisadores da Universidade de Xangai desenvolveram um tecido autolimpante, composto por algodão e uma camada de nanopartículas de dióxido de titânio, que quebram as moléculas de sujeira automaticamente.
E o futuro?
Computação vestível, realidade virtual e até mesmo inteligência artificial parecem elementos de uma mesma fórmula, que muitos apostam ser o futuro da humanidade. Esse tipo de tecnologia, que parece diretamente saído de livros e filmes de ficção científica, também aponta para um futuro distópico de nossa sociedade, algo também recorrente na literatura e no cinema.
Franquias como “Matrix” e “Exterminador do Futuro”, ou mesmo histórias como as de “Eu, robô” e outros escritos do ficcionista Isaac Asimov, “1984” ou “Admirável Mundo Novo”, mostram que o futuro do planeta cercado de tecnologia por todos os lados pode não ser algo exatamente livre e agradável.
Porém, para muita gente, a influência da tecnologia no dia a dia das pessoas vai aumentar de forma inevitável. Em março de 2012, a antropóloga Amber Case afirmou em palestra que computadores e smartphones já funcionam como nossos cérebros externos. “Somos todos ciborgues”, afirmou Case.
E como seria o futuro com absolutamente todos os nossos passos e tudo aquilo que a gente vê podendo ser registrados por gadgets, cada vez mais discretos e mais potentes?
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