O cenário parece cada vez mais promissor para os veículos autônomos. De um lado, a tecnologia evolui a passos largos, permitindo que os carrões da categoria se tornem absurdamente precisos ao passear por aí. De outro, a burocracia e a legislação que rege o setor parecem estar, pouco a pouco, abraçando a ideia de veículos inteligentes circulando pelas ruas. Alguns empecilhos no caminho, no entanto, podem dificultar o progresso dessa empreitada. Quais empecilhos? Aparentemente, os motoristas de carne e osso.
Entre os mais entusiastas das soluções completamente autônomas, um dos principais argumentos para que esse sistema seja aplicado em larga escala o quanto antes é o fato de ele ter o potencial de reduzir as mortes originadas por acidentes de trânsito em mais de 90%. Um objetivo bem nobre e humano, certo? O problema é que esse cenário costuma levar em consideração apenas o momento em que 100% das vias estiverem ocupadas apenas com automóveis que se guiem sozinhos, sem a presença dos condutores convencionais.
Não faltam sensores nos carros autônomos para evitar acidentes, mas os motoristas humanos podem ser imprevisíveis
Esse período de transição pode tornar esse sonho em um verdadeiro desastre
Infelizmente, de acordo com um estudo realizado pela Governor’s Highway Safety Association, nos EUA, todo esse período de transição pode tornar esse sonho em um verdadeiro desastre. “As pesquisas e a cobertura da mídia dedicadas aos veículos autônomos muitas vezes omite as implicações que uma mistura de carros operados por pessoas e por máquinas pode trazer à segurança”, analisa o doutor James Hedlund, um dos coautores do projeto. Para ele, ignorar a presença de humanos pode acabar neutralizando os benefícios trazidos pela tecnologia.
O estudo feito pela associação critica bastante o fato de muitos dos produtos em desenvolvimento aparentemente só se preocuparem com o que eles podem oferecer no futuro, mas sem dar detalhes de “como chegar lá”. Dados divulgados há alguns anos mostram claramente que essa deveria ser uma preocupação das empresas envolvidas com o setor, uma vez que vai demorar até que todos tenham cacife para bancar acessórios que tornem seus carros autônomos ou para comprar veículos que saem com o recurso de fábrica.
Um exemplo disso? A expectativa é que, em meados de 2025, optar por um automóvel autodirigível vai custar cerca de US$ 7 mil a US$ 10 mil adicionais ao bolso do consumidor – um valor que pode ser convertido, respectivamente, em R$ 21,8 mil a R$ 31,2 mil. Dez anos depois, esse valor deve cair para cerca de US$ 3 mil (R$ 9,3 mil). É algo mais em conta? Sim, com toda a certeza, mas ainda é um extra que nem todos podem ou querem ter. Isso significa que até 2035 ainda teremos uma boa quantia de motoristas nas ruas. Sentiu o perigo?
Observar, entender e agir
Pelos cálculos da Governor’s Highway Safety Association, essas duas realidades devem coexistir por pelo menos mais uma geração, e que, por isso, é preciso pensar em soluções para evitar acidentes ou confrontos entre ambas as frentes. “Conforme condutores humanos vão começando a compartilhar as vias com veículos autônomos de diferentes níveis, os estados deverão precisar se manter informados, pacientes e flexíveis”, acredita Jonathan Adkins, diretor da organização.
Assim, o grupo resolveu oferecer algumas sugestões que podem ajudar a minimizar o impacto dessa interação prolongada entre passado, presente e futuro. As recomendações vão desde educar o público, realizando campanhas para falar sobre os riscos e benefícios dos carros autônomos e como dividir espaço com eles, até utilizar os dados registrados por esses veículos para aprimorar o conhecimento das autoridades em cima do setor – ajudando a entender com muito mais detalhes as condições de um acidente, por exemplo.
A lei nos EUA ainda exige que haja alguém atrás do volante dos veículos autônomos
Outras diretrizes indicadas como responsabilidade do Estado é não se apressar para aprovar leis relacionadas aos carros autônomos – ou seja, pode ser melhor estudar bem todos os aspectos da categoria antes de fazer remendos à legislação atual – e incluir a polícia e os órgãos reguladores na equação, efetivamente aumentando a eficiência dos agentes para lidar com ocorrências envolvendo a tecnologia.
Ainda teremos bastante trabalho pela frente
Ao que parece, ainda teremos bastante trabalho pela frente até que os veículos inteligentes e capazes de circular sem um humano no comando se tornem o padrão no trânsito – sob o risco de vermos o “Dilema do Bonde” ocorrendo diariamente nas ruas. Consegue imaginar quanto tempo vai levar até que todas essas regras sejam colocadas em prática no Brasil e para que os brasileiros possam ter o seu carro autônomo “popular”? Deixe a sua opinião sobre o tema na seção de comentários.
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