Com óbvia influência da ficção-científica, era comum que até 15 ou 20 anos atrás nossas expectativas sobre “o futuro próximo” fossem misturadas ao medo de que a tecnologia viesse a arruinar drasticamente a sociedade mundial ou até mesmo destruir o mundo em que vivemos.
Felizmente, já passamos por uma década e meia do século 21 e ainda não há sinais de um panorama decadente com elementos cyberpunk ou de cidades exterminadas pelas máquinas. Muito pelo contrário, a tecnologia tem proporcionado várias soluções para melhorar a vida das pessoas, seja através da medicina, eletrônica, recursos digitais ou iniciativas sustentáveis.
Um exemplo disso foi visto durante a realização da 3ª edição da Conferência Internacional das Cidades Inovadoras, evento que dessa vez foi realizado junto ao fórum internacional iCities, durante os dias 7, 8 e 9 de maio, na Universidade Positivo, Curitiba/PR. Ao fim da programação, houve uma apresentação chamada Festival de Ideias, em que vários projetos inovadores foram apresentados, mostrando à plateia que a tecnologia está, sim, a serviço da comunidade.
Festival de Ideias
“Tragam soluções para melhorar a vida das pessoas na cidade”, disse Ike Weber, Diretor de comunicação do CICI, durante a divulgação do evento nos colégios e universidades. O convite resultou na inscrição de 352 ideias, vindas de mais de 40 municípios de várias regiões do Brasil, que foram divididas em seis modalidades: Mobilidade Urbana, Energia e Eficiência, Infraestrutura, Tecnologia Social, Viver a Cidade e Empreendedorismo.
Weber disse que um dos conceitos centrais do festival era promover o pensamento de que o envolvimento do cidadão é necessário. Para isso, houve uma motivação maior por parte dos organizadores para atingir os jovens. “O público jovem é mais conectado e é quem vai fazer o nosso futuro”, comentou.
Participantes dos 16 projetos durante a certificação durante o encerramento do Festival de Ideias
Das 352 ideias, 21 foram escolhidas para participar do evento. Os critérios de seleção foram: criatividade, inovação, originalidade e viabilidade de implantação. Um trabalho de curadoria uniu ideias semelhantes e por 20 dias houve um melhor desenvolvimento e amadurecimento das mesmas para serem apresentadas no CICI. No fim do processo, havia 16 equipes.
Os times apresentaram suas propostas em estandes durante os dois últimos dias da conferência. “Nós propiciamos um cenário para as pessoas exporem suas ideias. Não somos um grupo econômico, nós apenas criamos um palco”, explicou Weber.
O TecMundo esteve no evento e selecionou entre os incríveis projetos aqueles mais ligados à área de tecnologia. O conteúdo e utilidade pública de cada um deles você vê nesta minissérie que começa logo a seguir.
Circuito Eletromecânico Gravitacional Circunscrito
Daniel Carvalho em seu estande durante a Conferência Internacional de Cidades Inteligentes
Um pêndulo, apesar de balançar-se de um lado a outro, nunca chega a completar uma circunferência. Mas e se um pouco mais de energia cinética fosse investida no objeto quando ele chegasse ao seu ponto mais alto? Quanto de energia a mais ele produziria completando o giro completo? E tendo essa energia cinética, seria possível transformá-la em outro tipo de energia, como por exemplo... Energia elétrica? Ao que tudo indica, sim.
Elaborado por Daniel Carvalho, estudante de Engenharia de Controle e Automação na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, o projeto consiste na junção de um pêndulo com um circuito eletroeletrônico — composto por dínamos/alternador, motor de arranque, capacitor e circuito — que tem por objetivo transformar energia potencial cinética em eletricidade.
“Com isso, é possível construir uma máquina em que o rendimento obtido é de 30% de trabalho não conservativo eletromecânico e 70% trabalho conservativo puramente mecânico. De forma que não se trata de uma máquina que utiliza 100% de seu rendimento para si”, explica Daniel, que já tem três modelos industriais do protótipo. Para ficar mais fácil entender, caso ainda não tenha ficado claro, o vídeo abaixo ilustra a execução da tecnologia.
Benefícios e objetivos
Com o sucesso da ideia, será possível oferecer energia de forma autônoma para regiões onde impedimentos geográficos e distância são obstáculos para o desenvolvimento social. Além de também oferecer energia a custos mais baixos, sendo possível a integração do conceito com tecnologias sociais ligadas à mobilidade urbana e ao bem coletivo comercial e industrial.
Algumas páginas do esquema do Circuito Eletromecânico Gravitacional Circunscrito
Daniel comparecerá a várias feiras nacionais e internacionais entre este ano e 2015 para divulgar sua invenção, com foco em sua originalidade. Ele diz que o projeto é inovador porque “utiliza recursos há muito tempo conhecidos pelo homem, porém nunca utilizados em conjunto para realização de seu propósito. ”
O futuro engenheiro está em busca de recursos e financiadores para auxiliar no desenvolvimento do projeto em sua totalidade e, apesar de ainda não ter nenhuma página oficial no ar, pode ser contactado para esses fins através de seu perfil pessoal no Facebook.
Commun, o crowdfunding da comunidade
Ao perceber que o financiamento coletivo era uma ótima solução para boas ideias que até alguns anos atrás não eram implementadas por falta de investimento, o designer Guilherme Topanotti elaborou um sistema de crowdfunding que se focasse na busca de projetos da própria comunidade a fim de realiza-los em espaços públicos da cidade. Assim surgiu o proposta da plataforma online Commun.
Segundo Guilherme, o Commun serve como um canal para juntar duas coisas: projetos que melhorem a qualidade de vida das pessoas e financiamento vindo de usuários, empresas e do próprio poder público. A grosso modo, o cidadão apresenta na plataforma projetos para ajudar a comunidade e as pessoas ou organizações que gostarem da ideia doam dinheiro. É como um Kickstarter, mas com foco mais social.
Ele diz que, a curto prazo, o site auxiliaria na implementação de projetos mais simples, como hortas comunitárias, pequenos eventos e bicicletários, mas que com o tempo seria possível iniciativas mais ambiciosas, como a comunidade assumindo espaços públicos outrora abandonados, por exemplo.
Cidadãos ativos
“O que precisa ficar claro é que o Commun não irá servir para financiar projetos como por exemplo: novas linhas de ônibus, asfaltamento de ruas, escolas ou postos de saúde. Isto faz parte das responsabilidades do poder público, que tem uma melhor visão de onde deve ser feito este tipo de melhoria”, ressalta o designer. Para ele, a longo prazo, ocorreria uma mudança gradativa que transformariam as pessoas de simples consumidores do poder público a cidadãos ativos na sua cidade.
Guilherme foi motivado a criar o projeto pela firma onde trabalha, a Huna, empresa de tecnologia especializada em Experiência do Usuário. Ele está em busca de investidores para acelerar a estreia do site, visto que tem pouco tempo para trabalhar diariamente no projeto, e faz um convite: “Para aqueles que quiserem parar de reclamar dos problemas da cidade e começar a ajudar a resolvê-los através de produtos digitais, estamos sempre de portas abertas”.
Se você quiser ajudar, financiar ou participar da proposta, basta entrar em contato com o designer através dos contatos no site oficial da Huna.
No próximo episódio...
Conheça um aplicativo desenvolvido para resgatar de crianças de rua, criado por um trio de garotas do ensino médio, e a calçada que transforma os passos das pessoas em energia elétrica. Não perca na próxima quarta-feira a segunda parte de Ideias tecnológicas inovadoras que podem mudar o Brasil.
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