Não é de hoje que os preços dos smartphones da Sony são considerados altos no mercado brasileiro. Mesmo lá fora, os aparelhos da japonesa são normalmente mais caros que seus concorrentes diretos, mas, no Brasil, essa diferença se potencializa de uma maneira inimaginável.
Tem como pagar tudo isso em um smartphone mesmo que você tenha grana sobrando?
No ano passado, a Sony chegou a lançar o Xperia Z5 Premium por impressionantes R$ 4,7 mil. É inegável que a economia brasileira se encontrava em um momento mais delicado do que o atual, e o dólar também estava mais caro, mas é necessário colocar as coisas em perspectiva. Tem como pagar tudo isso em um smartphone, mesmo que você tenha grana sobrando? É muito dinheiro!
Uma pessoa que ganha um salário mínimo teria que gastar mais de cinco pagamentos inteiros só para adquirir esse aparelho. Claro que alguém nessa condição não compraria um dispositivo tão caro, mas dá para ter uma ideia de quão descolado da realidade esse smartphone está, não é?
O que a Sony está fazendo de diferente que torna seus aparelhos tão estratificados?
Atualmente, o preço do Z5 Premium (32 GB) é de R$ 4,3 mil, trezentos reais a mais do que o celular mais caro da Apple atualmente no Brasil: o iPhone 6s Plus de 128 GB. A comparação certamente não é perfeita porque o modelo da Sony tem uma tela 4K, mas de resto…
Mas, afinal, o que a Sony está fazendo de diferente que torna seus aparelhos tão estratificados? Por qual razão os smartphones da empresa têm preços tão altos no Brasil? Eu fiz um pequeno levantamento com algumas possíveis razões e também conversei com os representantes da marca para tentar descobrir.
Importação
A Sony diz que faz uma avaliação econômica antes de pensar em disponibilizar qualquer smartphone da linha Xperia no Brasil, uma vez que todos eles agora são importados. A empresa parou de fabricar localmente e resolveu trazer seus produtos da China e de outros polos de eletrônicos asiáticos.
Como já é de conhecimento de todos, importar não é uma coisa barata no Brasil, seja para vender ou para consumo próprio. Se você é uma pessoa física, pode pagar até 60% de taxa sobre o valor da nota fiscal que vem na encomenda. Isso não é muito diferente para empresas como a Sony, que traz eletrônicos do exterior para revenda aqui.
Xperia XZ
A companhia tem não apenas que pagar taxas de importação altas sobre o valor dos aparelhos trazidos da Ásia, mas também lidar com uma burocracia cara, além de cuidar da logística para distribuição em todo o país. Esta é uma razão para os preços altos.
Há ainda a faixa de lucro que a marca precisa colocar sobre cada modelo, e, posteriormente, o ganho dos revendedores
Fora isso, há ainda a faixa de lucro que a marca precisa colocar sobre cada modelo, e, posteriormente, o ganho dos revendedores. No segmento de smartphones, entretanto, a prática é menos agressiva nesse ponto do que em outros ramos de eletrônicos, mas ainda existe. Essa é outra razão.
No fim das contas, a gente acaba pagando de duas a três vezes mais do que as pessoas na China ou nos EUA em itens provenientes de outros países. Claro que nem metade disso é referente a impostos de importação, mas o governo até tem uma desculpa para tal. Vai de você achar justo ou não: a ideia é aumentar o preço dos eletrônicos vindos de fora para que o produto nacional tenha apelo comercial igual ou melhor a fim de proteger a indústria brasileira, que gera empregos localmente.
Contudo, existe um contra-argumento: as empresas realmente nacionais e as multinacionais possuem os mesmos incentivos para fabricar localmente, mas as brasileiras sofrem com isso, uma vez que precisam de gente para desenvolver seus produtos no Brasil.
Só montam seus aparelhos aqui, tendo menos investimento local e mais lucro
Outras marcas fazem isso no exterior e só montam seus aparelhos aqui, tendo, portanto, menos investimento local e mais lucro. Nesse caso, as taxas de importação realmente protegem a indústria nacional ou protegem o lucro das multinacionais ricas o suficiente para montar bases de produção no nosso país?
Existe ainda a teoria do impacto social que os altos preços provocam. A quantidade de empregos gerados pelas fabricantes de eletrônicos com operações nacionais realmente vale o impacto econômico em milhões de consumidores brasileiros que pagam tão caro por seus gadgets? Não parece haver dados precisos a respeito dessa perspectiva, mas é algo a se pensar.
Posicionamento da marca
Eu perguntei à Sony se a empresa pretende se posicionar no mercado brasileiro como uma marca mais premium, ou seja, mais cara, mas a companhia não confirmou isso de forma clara. Em vez disso, explicou que está interessada apenas nos segmentos intermediário e top de linha no que se refere a smartphones.
É neste segmento de mercado que a Sony entende que pode agregar mais valor ao consumidor
“A Sony trabalha com o mix de produtos da gama média a alta. É neste segmento de mercado que a Sony entende que pode agregar mais valor ao consumidor”, dizia o comunicado. Na minha opinião de jornalista que cobre o segmento mobile há algum tempo, essa declaração é basicamente afirmar que sim, a empresa quer se posicionar como marca premium e, por isso, cobra mais caro.
A Apple faz isso de forma não declarada (porém escrachada) e a Samsung também com seus top de linha. A ideia por trás disso é vender, além do hardware, um “conceito da marca”, uma “experiência”. Vai de cada consumidor querer ou não pagar por isso.
Preços caindo?
Nas últimas semanas, a Sony ainda lançou no Brasil o seu poderoso Xperia XZ, um smartphone de qualidade excelente e capaz de tirar fotos excepcionais nas mãos de uma pessoa com um pouco mais de paciência para focar e controlar a luz.
Na análise que eu mesmo fiz, foram destacados os atributos do aparelho em várias frentes, mas nada disso chegou a justificar o que é cobrado por ele. No fim, não dava para indicar o modelo para ninguém, já que existem outras opções melhores ou comparáveis com preços bem mais baixos.
Mas a Sony afirmou que está diminuindo o valor dos seus produtos. Não sabemos se isso é um reflexo do dólar mais barato ou uma tentativa de apelar mais para a concorrência de preços, mas a empresa nos disse o seguinte:
A Sony afirmou que está diminuindo o valor dos seus produtos
A Sony está constantemente avaliando o posicionamento dos produtos e os preços sugeridos ao consumidor. Por exemplo, recentemente, reduzimos o preço do Xperia X, de 64 GB, de R$ 3.799 para R$ 3.299. Além disso, vale mencionar que, quando comparamos os lançamentos dos flagships no Brasil em 2016 e 2015, tivemos uma redução. O Xperia XZ foi lançado por R$ 3.999 este ano, e o Xperia Z5 por R$ 4.299 no ano passado.
Essa redução é realmente interessante para os aparelhos da Sony, mas o XZ ainda foi lançado por um valor maior que o de todos os seus concorrentes de 2016. Nem o iPhone 7, que deve chegar em breve ao mercado nacional, deve custar tão caro em seu modelo com 32 GB de armazenamento.
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Na prática, isso significa que os smartphones da Sony vão continuar sendo os mais caros do Brasil por enquanto, mas existe uma tendência de queda, pelo menos o que dá para observar em relação ao aos dois top de linha, o de 2016 e o de 2015.
Dá para entender esses preços?
Não dá para entender muito bem o porquê dessa política de preços tão intensa, ainda mais diante da Apple, que também importa seus smartphones para o Brasil. Não existem informações recentes, mas a Foxconn fabricava celulares da Maçã no país até pouco tempo, mas só os modelos mais antigos, nada de top de linha do ano.
A Sony e a Apple enfrentam as mesmas questões de importação no Brasil e ambas querem se posicionar como marcas premium
Portanto, em termos práticos, a Sony e a Apple enfrentam as mesmas questões de importação no Brasil e ambas querem se posicionar como marcas premium e cobram mais caro por isso.
Acontece que a Apple tem mais justificativas (porém bem questionáveis) do que a Sony para fazer isso. A marca norte-americana não apenas constrói o hardware dos smartphones que vende, como também criou e dá suporte duradouro para o software que eles carregam.
O suporte para atualizações da Sony também está muito aquém do esperado
O máximo que a japonesa faz é otimizar uma interface sobre o sistema operacional que ganha de graça da Google. Atenção aqui para o software gratuito! O suporte para atualizações da Sony também está muito aquém do esperado, especialmente se comparado com o da Apple. E olha que a “mãe Google” vem lançando novas versões do Android cada vez mais cedo para facilitar a vida de fabricantes parceiras. Ainda assim, a Sony vende celulares por preços mais altos do que a Apple e todas as outras marcas no Brasil.
Por fim, este artigo sobre os preços da Sony é mais um apelo pessoal por preços mais justos do que uma reclamação, especialmente depois de ter testado e gostado bastante do Xperia XZ. É ótimo ter um aparelho como esse à venda no Brasil, mas é também uma tragédia ele custar tão caro. Ele simplesmente não vale R$ 4 mil. Há quem diga inclusive que nenhum celular vale tudo isso, e eu tendo a concordar com essa opinião.
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