Ferramentas baseadas em Inteligência Artificial (IA) estão se difundindo cada vez mais e já chegaram em diversas áreas como engenharia, programação, medicina e até nas artes. Neste último caso, a indústria fonográfica começa a enxergar os impactos da IA e debater sobre o assunto.
Nos últimos meses, quem acessa a internet deve ter se deparado com covers esquisitos feitos com IA de músicos famosos interpretando canções que jamais cantariam. Dentre estes casos está o da norte-americana Ariana Grande cantando "No dia em que eu saí de casa”, de Zezé Di Camargo & Luciano, e o rapper Kanye West cantando “How to Save a Life”, da banda The Fray.
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Com esse novo cenário que se apresenta onde praticamente qualquer coisa pode ser criada, qual o impacto da tecnologia especificamente no mundo do rock? A IA pode ser útil para criar novos hits e bandas de rock? O TecMundo aproveitou o Dia Mundial do Rock, que é celebrado nesta quinta-feira (13), para especular como o gênero pode ser alavancado com uma "mãozinha" da IA.
A IA já chegou no mundo das artes e está ajudando a criar não só imagens e textos, mas também músicas (Imagem: Shutthiphong Chandaeng/Getty Images)
A IA é uma inimiga dos artistas?
Para descobrir um pouco do futuro do rock nós conversamos com Pedro Anversi, coordenador de catálogo da Warner Music Brasil. Em primeiro lugar, ele fez questão de ressaltar que a indústria da música não deveria ter “medo” de IAs. Pedro defende que todos poderiam encarar este momento como uma janela para fazer negócios.
“Foi muito falado sobre um 'medo' da inteligência artificial tirar algo das gravadoras e artistas, mas a gente enxerga sempre como uma oportunidade. No mundo de hoje, a gente não pode lutar contra as novas tecnologias. Temos que nos aliar a elas e tentar extrair sempre o melhor possível”, defende.
Anversi cita que as IAs possibilitam, por exemplo, o resgate de clássicos musicais perdidos. Além de ser possível produzir novamente a canção antiga, as ferramentas permitem dar uma nova roupagem para músicas de sucesso do passado.
Como exemplo, ele lembra do comercial da Volkswagen que recriou digitalmente a cantora Elis Regina e a colocou para cantar junto de Maria Rita. Na ação publicitária, mãe e filha fizeram pela primeira vez um dueto, cantando “Como Nossos Pais”, de Belchior. O vídeo, que chegou a virar alvo do Conar, viralizou e emocionou bastante gente.
IA ajudando a criar hits de rock
Além das já citadas ferramentas de criação de novas canções e o próprio deepfake que trouxe Elis Regina “de volta à vida”, plataformas de IA também são utilizadas na análise dos sons e em apps de streaming.
Você já se recebeu sugestões de canções que você não conhece, mas que são bastante parecidas com o que normalmente escuta? Pois é, serviços como o Deezer e YouTube Music utilizam inteligência artificial para aprender o gosto do usuário e assim oferecer novas produções que ele possivelmente vai gostar.
Mas e para criar canções do zero, é possível? Será que uma IA pode criar melodia, letra e ainda cantar um hardcore ou um metal? “Provavelmente já temos canções criadas por IA que o público não sabe e a indústria está tentando identificar. Não somente músicas, mas bandas de rock criadas por IA também”, revela Pedro Anversi.
Em um futuro breve, podemos ter uma banda criada inteiramente por inteligência artificial (Imagem: Juan Hernandez Carmona/Getty Images)
E, de fato, o público já está tendo acesso massivo a produções sonoras que não foram desenvolvidas por músicos profissionais, mas sim por quem entende de programação. Este tipo de trabalho é realizado pelo Jukebox, por exemplo. A ferramenta desenvolvida pela OpenAI (criadora do ChatGPT) que tem redes neurais que conseguem se basear em um gênero ou estilo para criar um som inteiramente novo.
Além da melodia e instrumentos, até mesmo o canto e a letra podem ser criados do zero. O resultado é bastante impressionante e chega a assustar. Confira, abaixo, um áudio criado pelo youtuber MegaZombieman115. Ele utilizou o Jukebox para desenvolver uma canção no estilo grunge com uma pegada do Nirvana:
A IA pode ressuscitar o rock?
Roqueiros mais antigos se ressentem com a perda de espaço do rock no cenário mainstream da música. Considerado o principal gênero em décadas como 50, 60, 70 e 80, o estilo passou a perder espaço para o pop no cenário norte-americano, que tem a maior indústria do entretenimento do mundo.
No Brasil, o rock já não é mais o "gênero da juventude", tendo perdido espaço para produções mais nacionais como o funk carioca e o sertanejo.
Com esse cenário, muitos se perguntam se a inteligência artificial poderia ser uma aliada para ressuscitar o rock como o principal e mais inovador estilo musical. O coordenador de catálogo da Warner Music Brasil é um pouco cético quanto a isso.
A época do rock pode ter passado e é difícil saber se ele voltará a ser o gênero mais importante (Imagem: IllustratedFritz/Getty Images)
“Isso [tornar o rock o gênero mais importante] independe da tecnologia, já que a indústria fonográfica funciona a partir de ciclos como qualquer outra. Os gêneros vêm e vão. Temos a onda do pop, já tivemos a onda do pagode nos anos 90, as boy bands, o rock colorido e assim vai. As coisas funcionam desta forma porque as pessoas vão mudando”, argumenta.
Pedro Anversi admite que a IA até pode ajudar a revolucionar o rock e fazer com que ele seja o gênero mais ouvido nos streamings, mas ressalta que a indústria não se preocupa com isso.
“A tecnologia não vai ajudar só um estilo ou outro a bombar. Podemos até ter músicas viralizando com memes ou até eventos tecnológicos como uma volta dos Beatles. Mas se tivermos, serão sempre coisas pontuais”, finaliza.
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