E-voto: votar pela internet pode ser seguro e confiável?

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O desenvolvimento da internet trouxe consigo diversas outras práticas que vão além de comunicar-se rapidamente com pessoas espalhadas pelo seu bairro ou em um país do outro lado do mundo. Agora você pode realizar tarefas importantes e que envolvem dinheiro como movimentações bancárias e compras, tudo sem sair do conforto do seu lar.

Mas e que tal se, em breve, além de gastar e mexer com dinheiro, nós pudéssemos também eleger nossos representantes nos Poderes Legislativo e Executivo pela internet? Isso parece muito prático, não é mesmo?

Seria o fim das justificativas de voto por não estar na sua residência eleitoral e também dos adiamentos de viagens por causa da eleição. Você só precisaria se dirigir a qualquer local de votação, apresentar documentos e votar nos candidatos de sua predileção.

Votar pela internet pode ser uma realidade em breve!

Apesar de parecer maravilhoso, este sistema pode conter falhas. Se por um lado, há universidades trabalhando em cima de sistemas de voto online, por outro, existem muitas vozes  que se levantam contra este tipo de votação, apontando de maneira contundente várias de suas falhas. Apresentaremos agora pontos positivos e negativos destes sistemas, vamos lá!

Sistema Helios

Uma ferramenta gratuita (um software livre de código aberto), segura e que permite o acompanhamento do voto por cada eleitor: este é o Sistema Helios, desenvolvido em pela Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, em parceria com pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Ainda incipiente, o sistema foi utilizado na eleição de reitor na universidade Belga.

Voto onlineSegundo Ben Adida, um dos idealizadores do projeto, este sistema “permite que qualquer participante verifique se seu voto foi capturado corretamente, e que qualquer observador verifique se todos os votos foram contados corretamente”, o que significa que além dos próprios eleitores, o trabalho de observadores também seria facilitado no acompanhamento dos votos computados.

Isso é o que eles chamam de “eleição de auditoria aberta”, pois o processo de auditoria dos votos estará aberto e disponível para qualquer um, possibilitando que cada cidadão e observador verifique os votos computados.

Além disso, este sistema permite ao eleitor ter a certeza de que seu voto foi computado, pois ele disponibiliza uma chave para este acompanhamento que pode ser utilizada posteriormente.

Para não ter problemas com segurança, o Helios utiliza avançadas técnicas de criptografia, codificando o voto e somente desfazendo esta decodificação em seu destino final, no momento da contagem. Esta técnica é conhecida como criptografia de chave homomórfica, onde uma chave pública é utilizada para criptografar alguma informação (neste caso o voto).

Além de manter o sigilo, estes códigos utilizados são provas matemáticas de que o voto foi computado corretamente, colaborando para diminuir o número de fraudes. A eleição através deste sistema se dá em três etapas:

1) O eleitor recebe um código, para rastreamento do seu voto, que é codificado antes mesmo de deixar o seu navegador;

2) A segunda etapa consiste no acompanhamento do voto pelo eleitor através do código recebido anteriormente, pois uma lista é publicada com todos os números computados antes da totalização dos votos.

3) Por fim, eleitores e observadores podem verificar se os números publicados após a contabilização dos votos conferem com a lista com os números computados. Em tese, isso tudo deve diminuir o número de fraudes.

Segurança de verdade?

Aqueles que se posicionam contra este sistema também estão com razão, afinal, um sistema totalmente online estaria muito mais vulnerável a ataques de hackers e – o que é pior – a manipulação de resultados em eleições. Se tomarmos como parâmetro de comparação bancos e lojas virtuais, que trabalham com dinheiro e normalmente são locais seguros para a tarefa que realizam, até seríamos capazes de vislumbrar algo seguro quanto aos votos online.

Porém, eleição e movimentações financeiras são coisas diferentes e que exigem procedimentos diferentes por parte de seus gerenciadores. Quando você realiza uma compra pela internet, o seu pedido é rastreado e acompanhado por pessoas especializadas, o que acaba por garantir, em partes, a efetividade da segurança do sistema (afinal, mesmo assim ainda  pode hever problemas com fraudes e roubo de informações sigilosas).

Já com um voto as coisas não são assim tão simples, pois ele é secreto e seu sigilo deve ser mantido a qualquer custo. Assim, já se deixa de lado a possibilidade de rastreamento e acompanhamento direto por parte de auditores, afinal, isso seria um crime eleitoral. Além disso, supondo que qualquer sistema eleitoral fosse invulnerável a ataques externos, não poderíamos deixar de lado os ataques internos, partindo de pessoas envolvidas no processo de computação dos votos.

Essa discussão coloca em voga outro assunto bastante polêmico, principalmente no Brasil, que é o uso de urnas eletrônicas nas eleições. Isso já levou o deputado João Hermann a solicitar à ONU a presença de observadores internacionais nas eleições de 2002. Na Holanda, as urnas eletrônicas foram proibidas por não possuírem garantia de inviolabilidade em seu sistema. Enfim, são problemas muito próximos e que precisam ser resolvidos.

A urna eletrônica é realmente segura?

Foto: Agência Brasil

Vale a pena?

Fazendo um balanço geral de prós e contras, a resposta é não! E isso não é nada paranoico do tipo “não metam tecnologia onde ela não é chamada!”, mas sim por uma questão de credibilidade. O Sistema Helios (e nenhum outro do tipo) provavelmente não será utilizado em uma eleição municipal, estadual ou federal, afinal, por mais que seus desenvolvedores garantam sua segurança e credibilidade, as possibilidades de fraudes ainda são grandes.

Além disso, a possibilidade de um código que seja um comprovante de em quem você votou pode permitir uma intensificação ainda maior de troca de favores em épocas eleitorais, onde votos são vendidos por dentaduras, sacos de farinha e cadeiras de roda, pois com o código será possível comprovar quais são os seus candidatos, acabando com a privacidade do voto. Por mais que a tecnologia se desenvolva diariamente, algumas práticas manuais ainda deveriam ser mantidas, isso pela garantia e segurança da democracia.

Agora é sua vez, não deixe de registrar nos comentários a sua opinião, caro leitor. O que você pensa sobre votações pela internet? Consegue identificar mais vantagens e desvantagens destes sistemas? Expresse-se!

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