Documentos obtidos pelo The Verge e entregues ao The New York Times revelaram que os funcionários da Boeing discutiam sobre problemas relacionados com a aeronave 737 Max muito antes dos acidentes que ocorreram em março e outubro de 2019. São mensagens de bate-papos e emails internos que incluem diálogos como este abaixo:
- Funcionário 1: “Você colocaria a sua família dentro de um avião cujo piloto foi treinamento no simulador Max? Eu não o faria”...
- Funcionário 2: “Não”.
Em outra conversa de 2018, outro funcionário se lamenta com um colega, dizendo: “Deus ainda não me perdoou pelo que acobertei no ano passado”. Esta conversa, provavelmente, ocorreu após um dos acidentes.
A ordem era economizar
As mensagens mostram que a Boeing tentava reduzir o tempo de treinamento exigido pela Federal Aviation Administration (FAA) para habilitar os pilotos para operar o 737 Max.
Um dos documentos revela um diálogo entre o piloto-técnico chefe (não identificado) da Boeing e uma empresa aérea cliente (não divulgada), em que ele argumenta: “Não há nenhuma razão apara exigir que seus pilotos, que já pilotam o 737, treinem novamente”. Na mesma conversa, ele emendou: “A Boeing não entende o que deve ser ganho em uma sessão de simulador de 3 horas”.
A aeronave 737 Max foi a última atualização do original 737, que já está em atividade há muitos anos. Havia pressa para a companhia habilitar os pilotos para o novo avião, pois o principal concorrente do 737, o A320neo, da Airbus, consome muito menos combustível. Por esse motivo, a Boeing tentava vender a ideia de que não era necessário treinamento extra, já que as aeronaves eram semelhantes. Caso algum cliente insistisse em treinar seus pilotos, esse treinamento deveria ser limitado, pois o tempo na sala de aula e o simulador possuem custo muito alto.
Posteriormente, o piloto-técnico chefe da Boeing dialoga com outro funcionário da companhia, dizendo que seu “truque mental de Jedi” funcionou novamente, já que ele conseguiu convencer o cliente de que treinamento extra não era necessário.
Os acidentes com o 737 Max que ocorreram em março e outubro de 2019 mataram 346 pessoas ao todo.
Na terça-feira (07), a Boeing disse que vai voltar a recomendar o treinamento completo para os pilotos, como preparativos para a volta à atividade das aeronaves 737 Max.
Fontes