A Cambridge Analytica, empresa de consultoria envolvida no escândalo de uso indevido de dados do Facebook, planejava entrar no mercado de criptomoedas, de acordo com uma reportagem do The New York Times. A ideia era permitir que usuários lucrassem com a venda de suas informações pessoais, mas o plano foi cancelado após o caso do Facebook ter vindo à tona.
As informações com nova revelação foram dadas por Brittany Kaiser, ex-funcionária da empresa. Em materiais de divulgação, ela era citada como “responsável por ajudar companhias de blockchain a utilizar modelos preditivos para alcançar investidores durante a venda de moedas virtuais”.
De acordo com a também consultora Jill Carlson, que chegou a participar de reuniões com a presença de pessoas da Cambridge Analytica, a empresa de consultoria sugeriu criar uma criptomoeda para pagar pessoas de cidades do interior do México por responder pesquisas. Os resultados seriam possivelmente utilizados por equipes de campanhas políticas do país.
Carlson disse que não concordou com o que ouviu, achando que a ideia iria contra tudo o que fez ela se interessar por moedas virtuais e projetos como o Bitcoin. “[A Cambridge Analytica] via tudo como uma maneira de infligir controle do governo e de companhias privadas sobre a vida dos indivíduos, o que apagava toda a premissa inicial dessa tecnologia em uma reviravolta bem distópica”, disse a consultora.
Brittany Kaiser, ex-funcionária da Cambridge Analytica que revelou o caso.
Mas a Cambridge Analytica chegou a conquistar clientes interessados na ideia, afirmou Kayser. No ano passado, a ex-funcionária esteve envolvida em negociações com os criadores da Dragon Coin, uma criptomoeda feita para ser utilizada por apostadores de Macau, uma das regiões administrativas da China que, assim como Honk Kong, tem mais autonomia em relação ao governo do país.
A empresa chegou a pagar viagens de luxo até Macau para quem demonstrasse interesse e tivesse condições de colocar dinheiro na ideia. Documentos enviados para possíveis investidores indicavam que o principal patrocinador da nova moeda seria Wan Kuok-koi, mais conhecido pelo apelido de “Broken Tooth Koi”, antigo líder da tríade 14K, uma organização criminosa chinesa que atua na região. Ele está fora da prisão desde 2012, quando foi solto após cumprir 14 anos de pena.
Questionados sobre a parceria com um conhecido criminoso, os criadores da Dragon Coin negaram a ligação. Um deles afirmou que teve o e-mail hackeado e por isso não reconhecia a lista de patrocinadores enviada pelo endereço dele. Os responsáveis pela criptomoedas dizem ter arrecadado mais de US$ 300 milhões, embora não tenham lançado nenhum dos serviços prometidos até agora.
Embora a Cambridge Analytica tenha continuado buscando empresas para trabalhar na futura criptomoeda, o projeto parece ter sido completamente engavetado, de acordo com Kaiser.
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