Edward Snowden é figura conhecida quando se fala em segurança digital. Ex-funcionário da agência de inteligência dos Estados Unidos, a CIA, ele foi um dos responsáveis por denunciar o esquema global de espionagem mantido pelo governo do país norte-americano. Agora, direto de seu asilo político na Rússia, ele endossa a campanha contra o Aadhaar, o maior sistema de identidade biométrica do mundo, em vigor na Índia.
O Aadhaar tem em sua base de dados informações biométricas de 99% dos residentes na Índia com mais de 18 anos. O programa visa comprovar residência no país e é criticado especialmente por obrigar o cadastramento para pessoas que utilizam serviços públicos. Sem isso, mais de 1 bilhão de pessoas pode ser proibido de comprar bilhetes para o trem, utilizar restaurantes do governo ou ter acesso a programas sociais.
No Twitter, Snowden compartilhou o texto de um ex-chefe de inteligência indiano no qual ele denuncia a utilização do Aadhaar por parte de bancos e empresas de telecomunicações. De acordo com a publicação, tais companhias estariam obrigando os seus clientes a fornecerem o seu número de identificação para ter acesso a serviços. Para o ex-funcionário da CIA, tal prática deveria ser “criminalizada”.
Rarely do former intel chiefs and I agree, but the head of India's RAW writes #Aadhaar is being abused by banks, telcos, and transport not to police entitlements, but as a proxy for identity–an improper gate to service. Such demands must be criminalized. https://t.co/rRSn42XLlQ
— Edward Snowden (@Snowden) 21 de janeiro de 2018
Além disso, Edward Snowden tratou do problema em sua rede social em outras oportunidades. No início de janeiro ele compartilhou dois textos sobre o tema: um sobre a jornalista que comprou facilmente dados do Aadhaar e outro criticando as investigações feitas pelas autoridades indianas sobre jornalistas que expuseram os problemas do programa.
Críticas
O Aadhaar consiste em uma identidade biométrica única de 12 dígitos e vem sendo bastante criticado por especialistas. O programa já foi denunciado após casos de vazamento de dados e também há relato de uma jornalista que alega ter pago menos de US$ 8 para comprar dados do Aadhaar de um vendedor anônimo no WhatsApp.
“E se uma conta no Facebook fosse obrigatória para usar a internet e o Facebook fosse propriedade do Governo dos Estados Unidos?”, questiona o pesquisador do Centro para Internet e Sociedade (CIS) e crítico ao Aadhaar, Sumandro Chattapadhyay, em entrevista ao The Guardian. “Construímos um sistema que decidirá qual criança vai comer e qual não vai baseado na qualidade de sua conexão com a internet e na limpeza de sua impressão digital.”
Além da parte ética, o programa desenvolvido e mantido pela UIDAI, órgão do governo indiano responsável pela identificação dos cidadãos, tem problemas também no que toca a privacidade. Chattapadhyay fala sobre preocupações envolvendo “o potencial uso não monitorado e não regulamentado desses dados” pelo setor privado.
Entram ainda no rol de preocupações situações envolvendo o vazamento de dados. Recentemente, denúncias apontaram para transações bancárias autorizadas utilizando dados do Aadhaar.
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