Uma jornalista alemã chamada Judith Duportail recebeu do Tinder nesta semana um documento de 800 páginas contendo seus “mais obscuros e profundos segredos”, como classificoa ela mesma. Duportail solicitou em março deste ano uma cópia de todos os dados que a rede social de encontros tinha a seu respeito depois de deletar sua conta. Ela utilizou o app por cerca de quatro anos, e o serviço gratuito coletou dados incrivelmente precisos sobre ela.
Em um artigo no The Guardian, Duportail explicou que, como cidadã alemã, ela fez a solicitação ao Tinder, dizendo que, de acordo com as novas diretrizes da União Europeia sobre proteção de dados, ela tinha direito de ter acesso a tudo o que qualquer serviço online tem de dados sobre si mesma.
Segundo ela, o documento que recebeu tinha precisão assustadora, incluindo a localização geográfica determinada por GPS de cada interação que ela teve no app e textos completos de todas as conversas realizadas com demais usuários. Ela também comentou que o Tinder rastreou todos as curtidas que ela deu no Facebook depois que conectou a rede social ao app de encontros. Fotos do Instagram ficaram armazenadas nos dados do Tinder mesmo depois de ela ter excluído sua conta da sincronização com o Tinder.
Foi necessário o envolvimento real de um ativista da proteção de dados e um advogado de direitos humanos para que eles respondessem
Mesmo com a nova legislação da União Europeia em vigor, o app tem feito o processo de obtenção de dados algo absolutamente difícil. “Foi necessário o envolvimento real de um ativista da proteção de dados (eu) e um advogado de direitos humanos para que eles respondessem”, escreveu no Twitter Paul-Olivier Dehaye, cofundador da PersonalData.io e pessoa por trás da liberação de dados de Duportail. Ele ainda comentou que foram necessárias duas reclamações judiciais, dezenas de emails e meses de espera para conseguir o material.
No total, o Tinder tinha em seu poder mais de 1,7 mil mensagens que ela enviou no curso de quatro anos de uso do app, e a jornalista ainda destacou que a segurança dessas coisas simplesmente não era garantida pelo serviço, como era possível ler em seus termos de uso: “Você não deve esperar que suas informações pessoais, mensagens e outras comunicações vão sempre permanecer seguras”. Mais recentemente, o segmento de texto foi removido dos termos e condições de uso.
Com isso, a jornalista, o ativista e o advogado tinham a intenção de mostrar o quanto serviços gratuitos exigem dos usuários. Em um primeiro momento, todo mundo acredita que, não devendo nada, não precisa temer. Mas mesmo Duportail não tendo o que temer, ela ficou assustada com a quantidade de informações que o app tinha sobre ela. Em essência, ela quer mostrar que, “quando o serviço é gratuito, o produto é o usuário”.
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