O Brasil é um dos países prioritários na moderação do Facebook, especialmente em período eleitoral. Essa é uma das revelações feitas pelo site The Verge como parte das reportagens The Facebook Papers, que analisa documentos vazados por Frances Haugen, ex-executiva da empresa.
Segundo os documentos, desde o final de 2019, 3 países foram classificados como "prioridade zero", ou seja, os mais importantes da lista. Brasil, Índia e Estados Unidos são aquelas regiões que recebem maior atenção em momentos possivelmente delicados, com o auxílio de inteligência artificial, além de equipes especializadas e dedicadas 24 horas por dia.
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Isso significa que, em períodos como o de eleições (mas não apenas neles), o Facebook tem uma série de painéis que monitoram constantemente a rede social no país, analisam publicações e coletam dados. Caso fraudes ou ilegalidades sejam detectadas, órgãos responsáveis são alertados para tomar alguma medida cabível.
Como a classificação funciona?
De acordo com o The Verge, a classificação acaba criando uma hierarquização que deixa muitas nações quase desprotegidas contra discurso de ódio, uso de bots e outras atividades ilícitas.
Abaixo do trio prioritário, estão Alemanha, Indonésia, Irã, Israel e Itália. Esses países são analisados de modo parecido ao da lista anterior, porém com menos recursos. Outros 22 países não nomeados ficam no terceiro pelotão, com ainda menos recursos e sem salas dedicadas para a nação em si.
Haugen começou a nova onda de denúncias contra a empresa.Fonte: 60 Minutes
Fora esses países, todo o resto do mundo não é monitorado com tanta intensidade pela rede social. Ela só passa a analisar um caso se um moderador local detecta um risco em potencial, comunica isso à empresa e é devidamente ouvido — o que pode acontecer só depois do pior momento da crise, sendo que a implementação de uma política interna ou melhoria de tecnologia pode levar meses.
Por que isso é um problema?
Sem tradução especializada para detectar discurso de ódio, parceiros de checagem de fatos com conhecimento local e demora para responder em caso de crises, situações de instabilidade política em Myanmar e Paquistão, por exemplo, foram supervisionadas de longe, apesar do alto número de desinformação circulando.
Os documentos batem com as primeiras reportagens sobre a atual nova crise do Facebook, que já relatavam a falta de ação da rede em determinados países, ou seja, a empresa tem os recursos e até a verba para fazer um monitoramento mais encorpado se quiser realizar remanejamentos. Entretanto, a companhia decide não priorizar todas as áreas e acaba deixando certas regiões desprotegidas contra mecanismos que propagam desinformação na rede social.
O que diz o Facebook?
Segundo o Facebook, os documentos vazados podem conter interpretações errôneas do cenário completo das operações da empresa, além de dizer que não coloca o lucro na frente dos usuários.
Ao site Business Insider, a empresa comunicou que "dedica equipes trabalhando para acabar com abusos" em países com alto risco de conflito e violência, além de ter equipes globais revisando conteúdo em até 70 idiomas e lidando com assuntos ligados a direitos humanos.
"Eles fizeram progresso ao lidar com desafios difíceis, como a evolução dos termos de discurso de ódio e construíram novas formas de resposta rápida a problemas quando eles surgem. Sabemos que esses desafios são reais e estamos orgulhosos do trabalho que fizemos até o momento", de acordo com o comunicado.
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