*Este texto foi atualizado às 12h57 do dia 25/10/2021.
No domingo (24), o Facebook tirou do ar uma live em que o presidente Jair Bolsonaro associa a vacina contra a covid-19 à Aids. No vídeo transmitido na quinta-feira (21), o chefe do Executivo afirma que pessoas do Reino Unido estão tomando vacina e adquirindo a doença causada pelo vírus HIV, informação que já foi desmentida por autoridades de saúde.
Após remover o conteúdo da rede, o Facebook explicou que as políticas da plataforma "não permitem alegações de que as vacinas de covid-19 matam ou podem causar danos graves às pessoas". O Instagram — que pertence ao Facebook — também removeu o vídeo.
A alegação de Bolsonaro foi refutada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e criticada pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Em comunicado, o Comitê de HIV/Aids da SBI afirmou: "Não se conhece nenhuma relação entre qualquer vacina contra covid-19 e o desenvolvimento de síndrome da imunodeficiência adquirida [Aids]".
Médicos, infectologistas e cientistas classificaram a fala de Bolsonaro como absurda. Nas redes sociais, os especialistas reforçam que não existe possibilidade de que uma das vacinas liberadas para uso contra a covid-19 cause Aids.
Não existe NENHUMA possibilidade de vacina causar AIDS. ZERO. Qualquer que seja a vacina. É isso que precisa ser divulgado de forma clara e direta.
— Daniel A. Dourado (@dadourado) October 23, 2021
"Não existe NENHUMA possibilidade de a vacina causar AIDS. ZERO. Qualquer que seja a vacina. É isso que precisa ser divulgado de forma clara e direta", escreveu o médico e advogado sanitarista Daniel Dourado.
O médico infectologista Gerson Salvador afirmou que a declaração do presidente pode atrapalhar a campanha de vacinação, que deve vencer a barreira daqueles que desconfiam — sem fundamentos sólidos — das vacinas.
Que tempos são esses em que é necessário desmentir absurdos?
— Gerson Salvador (@gersonsalvador) October 23, 2021
Vacinas contra a COVID-19 não transmitem HIV, quem divulga o contrário além de colaborar com a hesitação vacinal ainda amplia a estigmatização das pessoas que vivem com HIV, no Brasil mais de 900.000 pessoas - parem!
A SBI também reforça a importância da vacinação para pessoas que vivem com HIV. "Destacamos, inclusive, a liberação da dose de reforço (3ª dose) para todos que receberam a 2ª dose há mais de 28 dias", disse a sociedade médica.
Em março de 2020, a rede social tirou do ar um vídeo em que Bolsonaro promovia aglomerações em meio à pandemia. No entanto, esta é a 1ª vez que uma live semanal é removida.
De onde vem a informação falsa?
As supostas notícias lidas por Bolsonaro na transmissão afirmavam que relatórios do governo britânico indicavam que vacinados estariam com o sistema imunológico enfraquecido e adquirindo a síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids). Na verdade, os documentos fazem a vigilância dos efeitos das vacinas na população ao longo do tempo e não citam a Aids ou qualquer prejuízo causado ao sistema imune nos vacinados.
A agência de checagem independente aos fatos fez uma verificação completa (que pode ser confirmada pelo leitor aqui).
O atraso de 3 dias até que o Facebook decidisse tirar do ar o vídeo com a transmissão de Bolsonaro ampliou o estrago — milhares ou talvez milhões de brasileiros tiveram contato com uma informação falsa reproduzida pelo chefe do executivo e cabeça do governo brasileiro.
Até o momento, mais de 50% da população brasileira recebeu as 2 doses de uma das vacinas contra a covid-19, e vários outros países estão com taxas semelhantes de vacinação. Embora nenhuma vacina contra nenhuma doença ofereça proteção total e seja totalmente isenta de efeitos colaterais, assim como acontece com qualquer tratamento de saúde, os números da pandemia mostram que os imunizantes funcionam e são a melhor opção para combater a covid-19, além de evitar ainda mais mortes.
As vacinas causam alguma doença?
As vacinas não são feitas para causar doenças, mas sim para preveni-las. Para isso, elas usam um antígeno (um pedaço do patógeno ou ele inteiro e inativado) que ativa o sistema imunológico para produzir células de proteção contra um invasor específico.
Funciona assim: sempre que o corpo detecta um invasor que pode causar algum mal (bactérias, vírus etc.), inicia a produção de anticorpos e outras células de proteção voltadas para a eliminação do invasor recém-chegado. Assim, as vacinas apresentam ao corpo um pedacinho do vírus que funciona como uma identidade que permite reconhecê-lo (o antígeno). É como se a vacina dissesse ao corpo: "Está vendo esse cara aqui? Vai atrás e tira ele daqui!".
Quando a pessoa recebe a vacina, o corpo fica mais ágil e preparado para criar as células de proteção em massa e combater a infecção de uma maneira muito mais eficiente quando tiver contato com o vírus de verdade.
Mas e as pessoas que tomaram a vacina e tiveram febre e dores? Isso acontece porque vacina necessariamente induz uma inflamação leve para ativar o sistema imunológico e, assim, dores ou febre podem aparecer. Portanto, isso é um sinal de que o sistema imune funciona.
Categorias