De acordo com uma reportagem do The Intercept Brasil, a empresa por trás do app de rede social TikTok, abafou por quase um ano um caso de suicídio transmitido ao vivo por meio da plataforma. No dia 20 de fevereiro de 2019 um jovem de 19 anos avisou aos seus seguidores que faria uma aparição “especial” no dia seguinte. No dia 21 de fevereiro, às 15:23, o rapaz acabou tirando sua própria vida em frente ao celular. O caso ocorrido em Curitiba só se tornou público agora por que uma ex-funcionária da ByteDance, dona do app de rede social, vazou o caso.
Empresa se mobilizou para preservar a própria imagem
O suicídio do jovem foi assistido ao vivo por 280 pessoas, e gerou 497 comentários e 15 denúncias feitas por espectadores. A transmissão continuou por mais de uma hora e meia, com duas interrupções automáticas, devido à falta de movimento no vídeo.
Os funcionários da TikTok só tomaram conhecimento da tragédia às 17 horas. A partir daí, foi iniciada uma operação sem precedentes com o objetivo, não de avisar às autoridades ou à família de João, mas de manter intacta a imagem da companhia.
A equipe de moderadores responsável por monitorar as transmissões ao vivo trabalha na China. Eles só ficaram sabendo a respeito do suicídio após influenciadores da rede avisarem sobre o ocorrido em um grupo do WhatsApp.
Ao tomar conhecimento da transmissão, os funcionários do escritório da TikTok, em São Paulo, solicitaram a exclusão da conta, o que foi feito às 17:13.
Veja o roteiro de ações (em inglês), desde o início da transmissão até o contato realizado com a polícia de Curitiba.
A equipe de relações públicas produziu uma nota de pêsames que seria dirigida aos usuários e à imprensa, para amenizar as eventuais críticas à empresa, caso o suicídio se tornasse público. A nota nunca foi utilizada. Os esforços para resguardar a imagem da companhia foram tantos que a polícia só foi acionada duas horas e meia após a equipe de relações públicas.
“Não deixem viralizar”
O escritório brasileiro entrou em contato com Marta Cheng, líder da TikTok no Brasil e na América Latina. Era madrugada na China quando Cheng atendeu o telefone. “Não deixem viralizar essa história”, disse Cheng à equipe brasileira.
A TikTok não se comunicou com a família de João, que o encontrou já morto, em casa.
Abaixo, está a nota criada pela equipe de relações públicas:
Depois do suicídio, a companhia orientou seus funcionários no Brasil a monitorar as redes Twitter, Instagram e TikTok por 48 horas, a fim de acompanhar eventuais desdobramentos, o que não foi necessário. A ex-funcionária responsável pelas informações preferiu não se identificar.
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