Mark Zuckerberg passou algumas horas ontem em uma audiência no Congresso dos Estados Unidos respondendo a vários questionamentos de senadores de diversas comissões que queriam ouvir respostas sobre os recentes escândalos de privacidade da rede social. E muito do que se viu apenas comprovou que vários políticos não entendem muito de internet, tampouco do Facebook.
Em vários momentos, a fala de Zuckerberg mais parecia a de um neto tentando explicar para os seus avós como funcionam alguns dos serviços mais badalados da atualidade, como o WhatsApp e o próprio Facebook. Ao senador Brian Schatz, por exemplo, Zuckerberg explicou cuidadosamente que as mensagens do WhatsApp não podem ser lidas nem monetizadas pela empresa, afinal elas são protegidas com criptografia.
Mais dados
Ainda sobre os dados, muitos senadores podem ter perdido a oportunidade de se aprofundar em questões importantes sobre como funciona a relação do Facebook com os dados de seus participantes. Isso porque eles gastaram tempo perguntando sobre temas já conhecidos e que poderiam ter sido esclarecidos com um mínimo de pesquisa na internet.
Um desses momentos foi proporcionado pelos senadores John Cornyn e Richard Blumenthal, que questionaram se o Facebook permite o acesso de seus usuários aos seus próprios dados mantidos pela rede. Zuckerberg respondeu que sim, pois a sua plataforma já permite o download dessas informações por parte de cada participante.
Zuckerberg precisou explicar também como o Messenger se relaciona com a rede de telefonia móvel a fim de ler mensagens de textos dos usuários — para usar o app para enviar e receber SMS você, bem, precisa autorizar que ele leia essas informações. Mais ainda, ele precisou reafirmar que todo mundo que utiliza o Facebook autoriza a plataforma a coletar alguns dados pessoais. É justamente para isso que servem os termos de uso com os quais todos concordam quando assinam um serviço gratuito ou não.
Modelo de negócios
O modelo de negócio da empresa também foi discutido, e o fundador e presidente do Facebook precisou explicar que a sua plataforma não vende dados de seus usuários de forma explícita, ou seja, as empresas que anunciam na rede social não têm acesso direto às informações compartilhadas por você.
Além disso, Zuckerberg revelou que poderia considerar lançar uma versão paga do Facebook. Ele foi questionado sobre isso pelo senador Orrin Hatch, afirmando que a ideia poderia ser trabalhada a fim de evitar que as pessoas sejam alvos de anúncios publicitários. Apesar disso, o executivo garantiu que "sempre haverá uma versão gratuita do Facebook", ou seja, o modelo baseado em anúncios não será abandonado.
Qual é o grande rival do Facebook?
Outro momento curioso do depoimento foi proporcionado pelo senador Lindsey Graham, que perguntou ao executivo qual é o grande rival do Facebook. Batendo na tecla do tamanho da rede social, que seria um monopólio, o político insistiu para que o executivo nomeasse um único grande rival à sua empresa.
“Nós temos uma série de rivais”, disse Zuckerberg. “Eu não tenho certeza de que posso dar a você apenas um, posso dar vários? Há três categorias que eu focaria. Uma é a de outras plataformas de tecnologia: Google, Apple, Amazon, Microsoft. Nós nos sobrepomos a elas de diferentes maneiras.”
Para Zuckerberg, o domínio do Facebook não representa um monopólio no ramo das redes sociais
Quando o senador usou a indústria automobilística como exemplo e afirmou que “se eu compro um Ford, e ele não funciona bem, eu não gosto dele, eu posso comprar um Chevrolet. Se eu estou chateado com o Facebook, qual é o produto equivalente no qual eu posso me inscrever?”, Zuckerberg novamente tentou falar das categorias de negócios para reafirmar o seu ponto.
Em suma, o executivo tentou explicar que a sua empresa compete com diferentes companhias em diferentes setores, que o Twitter faz parte do que o Facebook faz e que há rivais específicos também no âmbito dos mensageiros. Questionado sobre uma possível regulamentação do setor, ele se mostrou favorável, desde que seja feita “a regulamentação certa.”
De qualquer maneira, é a partir dessa conversa que se desdobrarão as próximas medidas tomadas tanto pelo Facebook quanto pelas autoridades dos Estados Unidos (e possivelmente de outros países) para tentar controlar os problemas de vazamento de dados na rede social. É fato que ainda estamos distantes de uma solução.
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