Imagine a seguinte situação: você tem uma ideia bem legal e que pode fazer você ganhar muito dinheiro... Depois de organizar tudo o que é necessário, consegue criar um conceito no papel e depois parte para a fase de protótipos, tirando dinheiro de onde não pode para ter o que mostrar a possíveis investidores. Já está tudo pronto, você já tem até fotos profissionais, então é lançada uma campanha de arrecadação de fundos.
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Se sua ideia for muito boa, há grandes chances de ela se espalhar rapidamente pela internet e isso vai atrair mais e mais pessoas que queiram investir... Pode ser via Kickstarter, Indiegogo, Vakinha, Kickante ou qualquer outro. O seu sonho está cada vez mais perto de ser concretizado! Tudo indo muito bem, não é mesmo?
Mas aí você descobre que a sua ideia já está sendo vendida em todo o mundo!
Será que o seu projeto não era tão original assim? Bem, a verdade é que ele pode realmente ser o pioneiro, mas há chances de a ideia ter sido roubada e colocada no mercado antes mesmo de você arrecadar o que precisa! Triste? Pois saiba que essa não seria a primeira vez que algo assim acontece.
Cópias na velocidade da luz
Desde que somos crianças ouvimos as pessoas falando que a China é campeã em copiar produtos para vendê-los por preços mais baixos. Pois, para o mundo das startups e projetos de arrecadação de fundos, essa está se tornando uma triste verdade. Exatamente isso que você está pensando: empresas chinesas estão se especializando em roubar ideias de financiamento coletivo antes mesmo de elas terminarem suas arrecadações.
O Stikbox original
Um exemplo bem interessante disso está no Stikbox. Criado em Israel por Yekutiel Sherman, o projeto é composto por um case especial para smartphones. Além de proteger o celular, ele esconde uma estrutura dobrável que faz com que ele se transforme em um pau de selfie, o que é ideal para viajantes e pessoas que desejam levar os equipamentos para passeios, mas não querem ter que carregar itens adicionais. A ideia do criador era colocar os produtos no mercado por 39 libras (R$ 152).
Produtos mais baratos e menos seguros... Esse é o padrão das cópias
Mas pouco tempo depois já era possível encontrar projetos bem parecidos com o dele à venda na Amazon e em outros sites similares. Usando nomes semelhantes — incluindo o próprio Stikbox e Stick Stand Cover —, os vendedores estavam oferecendo um produto idêntico por preços próximos aos US$ 15 (R$ 47).
Cópias à venda na Amazon
Como mostra o Quartz, alguns dos financiadores descobriram o caso e reclamaram com Sherman: “Você está nos cobrando o dobro do preço das cópias e eu duvido seriamente que o produto final seja melhor do que elas”. É claro... Sem o custo de desenvolvimento ou mesmo os valores agregados ao tempo de conceituação, as cópias são muito mais baratas que o projeto original.
Não é um exceção
Além do Stikbox, outros produtos foram copiados e vendidos por preços muito mais baixos na China. Um exemplo que não pode ser esquecido é dos Hoverboards, que também ganharam versões claramente “inspiradas” no projeto original. O problema maior disso tudo — ainda maior que a pirataria — é a pouca segurança que os produtos oferecem.
Hoverboards também foram vítimas
É muito raro que algum produto pirata passe por testes de segurança. Quando isso envolve produtos elétricos e com baterias pesadas, a situação é de muito risco. E como a CNET mostrou em julho deste ano, as baterias desses produtos piratas estão causando explosões em muitos lugares.
Só precisa de Photoshop
Outro caso bem interessante é o do Pressy Button, apresentado no Kickstarter em 2013. A grande ideia desse dispositivo era adicionar botões físicos a smartphones, sendo conectado aos jacks de fones de ouvido e permitindo agilidade para capturar fotografias, acessar atalhos e outras funcionalidades.
O Pressy original do Kickstarter
Também não demorou para que o produto começasse a ser visto nos sites de vendas internacionais — incluindo o Aliexpress. Como lembra o TechNode, centenas de resultados eram retornados a cada pesquisa por “Pressy”... Nenhum deles era o do produto oficial. Só que a onda de cópias não parou por aí.
Logo em seguida, um produto chamado Quick Button surgiu em um financiamento coletivo chinês — o Demohour. Muito parecido com o Pressy, ele oferecia praticamente as mesmas funcionalidades, mas com algumas leves mudanças na forma como eram apresentados. Mas sabe qual é a parte mais bisonha de tudo isso? O Quick Button nem ao menos existia em protótipos.
O "Quick Button" da China
Exatamente... Tratava-se apenas de uma cópia descarada do Pressy, feita em programas de edição de imagens. Os criadores do projeto chinês ainda não tinham conseguido arrecadar fundos para que fosse possível dar forma ao protótipo da cópia de um sistema que estava quase no mercado. Cara de pau?
Cultura da pirataria: um problema histórico e mundial
Apesar de a ideia de financiamento coletivo ser relativamente nova, a cultura de cópias chinesas não é. E isso envolve desde cópias fiéis dos produtos mais conhecidos do mercado — como smartphones de alto nível — até aquelas cópias que nos fazem querer rir. É inegável que o mercado chinês criou uma cultura de pirataria, mas é o Ocidente que sustenta esse problema.
Nem sempre são cópias muito boas
São os chineses que copiam projetos do Kickstarter ou rapidamente descobrem os processos de fabricação de um produto já no mercado. Mas isso ocorre porque existe uma grande demanda por parte dos consumidores — boa parte deles nos Estados Unidos, na Europa e na América do Sul.
Boa parte da demanda por esses produtos falsos vem do Ocidente
Com preços mais baixos e padrões de qualidade menos confiáveis, esses produtos continuam crescendo em todo o mundo. São cópias que driblam processos de criação e ferem equipes inteiras de designers, projetistas, engenheiros e especialistas nas mais diversas áreas. Literalmente: produtos fabricados em cima de ideias roubadas.
Será que existe alguma solução definitiva para isso?