Em janeiro deste ano, uma aquisição na indústria de aplicativos chamou a atenção do mundo. A startup Outfit7, criadora do app Talking Tom Cat, que ganhou o mundo em meados de 2010, vendeu suas operações para uma fabricante de químicos chinesa.
O valor do negócio? US$ 1 bilhão (R$ 3,2 bilhões na cotação atual). Ninguém entendeu nada.
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Em matéria publicada na última semana, a Bloomberg destrinchou a operação.
Como tudo começou
Um ano depois de Steve Jobs apresentar a Apple Store ao mundo, um casal de eslovenos largou o emprego para se aventurar no maravilho mundo dos aplicativos. Os cientistas da computação Samo e Iza Login acreditavam, assim como muita gente na época, que estavam apenas a uma ideia maluca de se tornarem milionários da noite para o dia.
Com US$ 250 mil (cerca de R$ 822 mil) que haviam economizado enquanto trabalhavam para empresas de TI, eles fundaram a Outfit7. Ao longo de seis meses, lançaram aplicativo atrás de aplicativo apenas para ver cada um deles fracassar na loja da Apple. Isso até meados de 2010, quando um gato falante mudou tudo.
O Talking Tom Cat é um aplicativo criado para crianças no qual um gato animado, Tom, repete tudo o que é dito no microfone do smartphone – numa voz tão fina que parece ser inspirada numa inalação de gás hélio. Outras interações são possíveis: se um usuário faz carinho debaixo do pescoço de Tom, ele ronrona; se recebe um peteleco no estômago, ele se queixa.
Os fundadores da Outfit7 lançaram diversos aplicativos antes de criar o Talking Tom Cat
O sucesso
Se o casal tinha qualquer dúvida sobre o potencial sucesso da plataforma, ela sumiu pouco tempo após o aplicativo estrear. Talking Tom Cat se tornou um hit quase que instantaneamente, chegando a figurar no topo da lista de downloads da Apple Store em mais de 100 países. Ainda hoje, mais de seis anos depois, quase 350 milhões de usuários ativos acessam o app todos os meses. Um canal oficial no Youtube, criado meses após o lançamento do aplicativo, acumula mais de dois bilhões de views e três milhões de assinantes.
Quase 350 milhões de usuários ativos acessam o aplicativo todos os meses
Diferente de tantos criadores de apps para smartphone, os Login provaram que é possível transformar popularidade em lucro. Com anúncios de ofertas de outros games que pulam na tela do usuário enquanto Talking Tom repete o que ouve, a empresa ganha mais de US$ 100 milhões (R$ 328 milhões) por ano. Logo no começo de 2016, contudo, o casal decidiu vender as operações e contratou o banco de investimentos Goldman Sachs para encontrar o acordo mais lucrativo.
A venda
Em questão de meses, um comprador em Xangai, na China, quis fechar um acordo. Curiosamente, não se tratava do dono de uma empresa de mídia ou um estúdio de games. O interessado era Zhejiang Jinke, fundador da Zhejiang Jinke Peroxide, uma indústria química especializada na fabricação de peróxido e outros agentes. E ele havia aceitado pagar US$ 1 bilhão pela Outfit7.
Ao que tudo indica, segundo a Bloomberg, a Zhejiang Jinke Peroxide nem tinha caixa para fechar o acordo. A empresa faturou US$ 133 milhões em 2016 e seu lucro bruto girava em torno de US$ 55 milhões. Jinke nunca disse de onde veio o dinheiro para comprar a empresa dos Login.
A fabricante de químicos chinesa aceitou pagar US$ 1 bilhão para comprar a Outfit7
O movimento da fabricante chinesa causou surpresa, mas não é nada novo no mercado. Segundo o banco de investimentos CODE Advisors LLC, 70% das aquisições de companhias de games pelo mundo foi feita por compradores da China. Nessas transações, é difícil saber a origem do dinheiro.
A compra da Outfit7 envolveu ainda uma terceira empresa. Inicialmente, a startup criadora do Talking Tom foi comprada pelo United Luck Group Holdings, uma companhia baseada nas Ilhas Virgens, um arquipélago do Caribe. Quatro dias depois, no entanto, a United Luck anunciou a venda da Outfit7 para a Zhejiang Jinke.
Outro fato torna a história ainda mais intrigante: a revista Forbes relatou que a Zhejiang Jinke havia comprado 10% do United Luck Group por apenas US$ 5 mil quatro dia antes.
Explicações?
Uma pessoa próxima à Jinke afirmou à Bloomberg que a nova estratégia da empresa é expandir para a área de games e tecnologia, que possuem taxas de crescimento maiores do que a indústria química. A Outfit7 não foi a única aquisição da empresa chinesa, segundo a fonte.
Sobre o envolvimento do grupo caribenho United Luck, a mesma pessoa explicou que a única intenção era fechar a operação fora da China. De acordo com a fonte, era mais fácil a transação ocorrer em outro país do que em território chinês.
Fontes