(Fonte da imagem: Divulgação/Ronaldo Buassali)
Se você acompanha os feitos da comunidade overclocker, certamente já conhece o nome de Ronaldo Buassali. O brasileiro, conhecido como rbuass, acaba de voltar de Taiwan com o título de campeão do Master Overcloking Arena, considerado o principal campeonato do mundo, em uma das categorias, a Free Style (em que é necessário quebrar o recorde mundial para ser o vencedor).
O Tecmundo conversou com o campeão para apresentar algumas curiosidades e tirar algumas dúvidas do público sobre o assunto. Confira a entrevista abaixo:
O que é overclocking?
Overclocking é a arte de se trabalhar com "eletrônicos" em performance superior às especificações de fábrica. No caso mais comum e mais utilizado trabalha-se com os desktops, mas é possível verificar a atividade em notebooks, smartphones e outros.
Quais as vantagens de se fazer o overclocking?
Basicamente é ter uma máquina mais rápida. Muitas vezes isso pode se traduzir em tempo e até em vantagem econômica para o usuário.
É bastante fácil de entender. Por exemplo, com um valor menor, alguém pode ter uma máquina mais rápida do que teria se tivesse gasto mais, ou mesmo um profissional pode traduzir o ganho de tempo em economia no caso de uma renderização de imagens, edição de vídeos e outros. Existem várias aplicações úteis para o overclocking.
(Fonte da imagem: Divulgação/Ronaldo Buassali)
Quais seriam as diferentes utilizações?
Poderia dar vários exemplos. Uma delas, muito utilizada, é a melhora da qualidade dos games. Muitas vezes, um gamer está no limite mínimo de "jogabilidade" em seu sistema (que ocorre em torno de 30 frames por segundo), então, como num passe de mágica, com o incremento de frequência de operação, este passa a fluir perfeitamente.
Outras aplicações importantes são a profissional, quando o overclocking é utilizado para acelerar trabalhos (edição, renderização, cálculo etc.), traduzindo-se em ganho financeiro (por exemplo, três máquinas fazendo o mesmo trabalho que quatro); a social, como a do projeto Folding@home, quando a utilização de poder computacional é realizada em prol de estudos pra a humanidade; e a esportiva, que é a simples competição, em vários níveis, pela simples conquista e prazer de ter uma máquina mais rápida (assim como ocorre no automobilismo, em que ninguém anda de Fórmula 1 na rua, mas pode-se ver carros "tunados" e diferentes categorias de competição).
Ouve-se frequentemente que o overclock diminui a vida do computador. Isso é verdade?
Se eu dissesse que não, estaria mentindo, mas de que vida estaremos falando? Se os próprios fabricantes definem tensões seguras de trabalho, e se podemos facilmente "overclockar" nossos sistemas com bastante eficiência abaixo delas, qual o risco de vida que corremos? O de um computador que normalmente duraria 15 ou 20 anos passar a durar 5 anos ou menos?
(Fonte da imagem: Divulgação/Ronaldo Buassali)
Isso que dizer que, se utilizamos um processador do ano de 2003 e este duraria até 2018, ele começaria a "morrer" neste ano (hipoteticamente falando). Mas quanto vale um processador comprado em 2003, mesmo que nesta data ele tenha sido o mais poderoso de todos?
Fica fácil de entender a mensagem, ou seja, o computador vai ficar obsoleto muito antes de ele morrer, portanto não se justifica deixar de ter mais performance durante todo este tempo. Performance já! Já no caso do overclocking extremo, o risco é muito maior. Quem se aventura neste mundo com certeza deve saber que a própria vontade de melhorar serve de incentivo.
Você diria que a mais importante categoria é a competitiva?
Não saberia responder se é a mais importante, mas com certeza a mais emocionante. Acredito que a busca maior é pelo fato de se poder ter uma máquina mais poderosa, mesmo se gastando menos.
Fabricantes cobram um valor significativamente mais alto por componentes poucos MHz mais rápidos e isto pode ser, muitas vezes, alcançado facilmente com a simples alteração de parâmetros que já estão inclusos nas máquinas. Muitas vezes, 5 minutos são suficientes para tornar injustificável uma compra (risos).
(Fonte da imagem: Divulgação/Ronaldo Buassali)
Quais são os componentes "overclockáveis" em um computador?
De uma forma geral, o processador, a placa de vídeo e as memórias. Fala-se de "overclocking de armazenamento" em especial de SSD, mas se isso ocorre, ainda não é significativo no mundo deste tema.
Como você poderia dividir o overclocking por níveis?
Entre os níveis, existe também os modos. Nos níveis, podemos separar as categorias entusiasta, extremo e profissional. Nas categorias, o que difere é o modo de refrigeração utilizado; por exemplo, não é permitido que na categoria entusiasta se trabalhe em temperaturas abaixo de zero grau.
Nos modos, temos o 2D e o 3D. O modo 2D é o processamento "puro" e o 3D, bastante mais complexo e técnico, ocorre quando, além dos parâmetros de processamento, temos também os gráficos inclusos. De uma forma geral, as pessoas iniciam no 2D, com o overclocking do processador, e no desenvolvimento natural vão absorvendo conhecimentos de memórias e vídeo, culminando no overclocking 3D.
O que difere a categoria entusiasta das categorias mais avançadas?
Acredito que todo overclocker inicia na categoria entusiasta com seu próprio computador, pois a maioria dos computadores permite isto, mesmo que em escalas muito baixas. A partir do momento em que surge ao usuário o interesse para o assunto, naturalmente este passa a procurar por dispositivos que possam aumentar sua margem de ganho. Melhores sistemas de refrigeração (uma vez que mais energia gera mais calor), coolers melhores, sistemas líquidos e por aí vai.
(Fonte da imagem: Divulgação/Ronaldo Buassali)
No meu caso, comecei com o cooler original fornecido com o processador. Em pouco tempo, já buscava refrigeração líquida e outras alternativas para melhorar meus resultados. O ápice da loucura de passar para a categoria extrema foi iniciado com uma bomba de aquário ligada a um block (dissipador líquido ligado ao processador), dentro de uma caixa de gelo com água, sal e álcool para atingir temperaturas abaixo de zero. A partir daí, dispositivos como chillers, phase change, gelo seco e nitrogênio líquido integraram minha vida de overclocker.
Como os resultados desses overclocks são medidos?
Tanto para os testes 2D quanto para os 3D, existem benchmarks (nome dado aos testes que medem e comparam os resultados) específicos. De uma maneira geral, os testes 2D medirão o tempo de processamento de cálculos, e os 3D incluirão a estes o desempenho gráfico em frames por segundo. É importante citar que existe uma liga mundial de overclockers na qual pode-se validar e comparar estes resultados; ela está hospedada no site hwbot.org.
Fale-nos um pouco sobre os seus resultados na liga mundial de overclock.
Recebi o título de "Overclocking Emperor" da liga mundial por ter chegado entre os três melhores overclockers do mundo na Liga Profissional em 2013. Neste ano houve modificações em relação ao ranking e foi extinto o ranking da "Pro League", pois acreditavam já há tempos terem os mesmos nomes no cenário, buscando novas alternativas.
(Fonte da imagem: Divulgação/Ronaldo Buassali)
Foi criada a Pro Cup, que são as competições que ocorrem agora entre times, com prazo trimestral. Estamos na terceira edição, e os planos da Liga quanto às mudanças e continuidade serão realizados após a avaliação dos três primeiros trimestres.
Você, como overclocker profissional, tem preferência por algum desses modos?
Gosto muito de overclocking de uma forma geral, e gosto também de "brincar" no modo 2D, mas não vejo mais muito sentido em continuar nisso.
Desde março deste ano, quando "terminaram" com a Pro League, alterei completamente o foco do meu trabalho no overclocking. Até então buscava, por necessidade ao ranking, os melhores resultados de testes 2D e 3D, mas após a alteração meu objetivo passou a ser apenas a quebra de Recordes Mundiais de performance 3D.
Os testes 2D dependem muito mais da qualidade particular dos processadores do que da capacidade do overclocker, pois mesmo sendo de modelos idênticos, cada chip tem a sua capacidade própria e isto é mandatório para se obter os melhores resultados.
Isso fica bastante claro em testes de frequência, como CPUz e Memory Clock (que são testes suicidas, nos quais nenhum trabalho de performance é necessário, e somente pequenos incrementos de voltagem e frequência alternados à tecla F7 são suficientes para rodá-lo).
Já no modo 3D, existe toda uma complexidade envolvida, que parte da preparação de um sistema como um todo (processador, memórias, gráfico, temperaturas e voltagens diversas) e tem o seu ponto mais alto nas modificações físicas (hardmodding), que muitas vezes são necessárias para se chegar ao máximo.
Também não vejo muito sentido em insistir com testes que necessitam ser corridos no Windows XP (a maioria dos testes 2D, para se obter melhores resultados, necessita desta plataforma), e os testes como o Cinebench e XTU, que são modernos testes 2D, não requerem muito do overclockers.
(Fonte da imagem: Divulgação/Ronaldo Buassali)
Como está o Brasil nesta área?
O Brasil teve um crescimento fantástico nos últimos anos. Atualmente somos um pais considerado e respeitado em todo o mundo. Não somente nas categorias superiores (que seriam a Fórmula 1 do overclocking) como também na liga entusiasta, mostramos ao mundo que não somos apenas o país do futebol e do Carnaval.
Talentos reconhecidos como o Jacson (schenckel bros) e Iuri (gnidaol) são apenas a ponta do iceberg que emerge desse mar. Acredito que em poucos anos seremos uma das mais poderosas nações do overclocking.
Você foi campeão da maior competição de overclocking do mundo. Fale um pouco sobre esta competição.
Felizmente neste ano, foi incluído no Master Overclocking Arena o modo Free Style, na qual para ser campeão é necessário quebrar o Recorde Mundial absoluto do determinado teste especificado.
Disputei o modo Clássico e o Free Style, mas desde que saí do Brasil estava preparado para o Unigine Heaven (benchmark 3D oficial da competição). Na batalha clássica houve um erro da organização, e os processadores que foram sorteados eram de batchs (fornadas) diferentes. Este em si não foi o erro maior, mas sim o de permitirem aos primeiros sorteados que escolhessem os processadores. Todos os overclockers que estavam na disputa são excelentes e obviamente, como penúltimo a escolher, não me sobrou muita chance (risos).
(Fonte da imagem: Divulgação/Ronaldo Buassali)
Entenda que isso não justifica a vitória, muito menos a derrota, mas apenas uma chance maior de se ter um processador melhor, pois nada é garantido. Não foi um dia de sorte para mim, mas como 60% dos testes do Clássico foram 2D, não me senti "chateado".
No segundo dia, no Free Style, a organização "se ligou" na falha e cobriu os processadores para que os equipamentos campeões do dia anterior não pudessem ser escolhidos. Mas nesta ocasião, para mim, pouco importava, pois estava mesmo preparado para a disputa e consegui quebrar o recorde mundial por cinco vezes. Foi a quinta final que disputei desta competição, mas teve um sabor muito especial para mim. É um campeonato fantástico.
Alguma dica para quem quer começar?
Acredito que a melhor maneira de começar é verificar as possibilidades do equipamento que você já possui. Isto pode ser um ponto de partida para o aprendizado. Também vale participar de websites e fóruns como o nosso Hardware BR ou mesmo de outros que falem também sobre o assunto, buscar informações e sair em busca de conhecimento.
Quem quiser tentar algo mais ousado pode começar com componentes e plataformas mais baratas, pois isso diminui os custos do aprendizado. Também preciso dizer para ter cautela, pois uma vez que o "bicho do overclocking" morder, é difícil de largar.
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