As fileiras da tecnologia de realidade virtual ganharam um reforço de peso com a criação do Oculus Rift, em 2012. Desde então, diversos desenvolvedores têm criado aplicativos e jogos para tentar extrair todo potencial do aparelho, incluindo as já manjadas demos com passeios em montanhas-russas, que produzem vídeos hilários – ou assustadores – no YouTube. Mas o que acontece quando você coloca o Oculus para funcionar em uma montanha-russa real? O alemão Thomas Wagner resolveu pôr a mão na massa e descobrir a resposta.
Professor da Universidade de Ciências Aplicadas de Kaiserslautern, na Alemanha, Thomas entrou em contato com uma das empresas mais tradicionais no ramo dos parques de diversões e montanhas-russas, a Mack Rides, para conseguir apoio ao seu projeto. Ele tinha em mente a possibilidade de substituir o ambiente real por uma versão virtual, sincronizada com a movimentação sentida pelo corpo do usuário do Oculus Rift, criando uma experiência ainda mais intensa do que a tradicional.
Jornada radical
Em fevereiro deste ano, com a ajuda de seus alunos, Thomas coletou os dados de direção e aceleração das montanhas-russas Blue Fire e Pegasus, do Europa-Park. Eles então começaram a criar demos que usavam como base o mapeamento obtido, desenvolvendo cenários como uma corrida fantástica em cima de uma carroça movida por cavalos voadores ou uma aventura no espaço, no meio de asteroides.
“Em 7 de abril, nos tornamos pioneiros no campo de corridas em realidade virtual – sendo as primeiras pessoas a experimentar o uso do Oculus Rift em uma montanha-russa real sincronizado ao seu trajeto”, conta o professor no site da VR Coaster. A partir daí, foram necessários vários meses e centenas de passeios nos dois brinquedos para poder acertar cada detalhe.
É preciso que uma espécie de copiloto vá junto da pessoa usando o Oculus, para certificar que tudo corra bem e fazer pequenos ajustes. Inicialmente, esse responsável precisava fazer ajustes para garantir a sincronia da experiência virtual com as variações em cada corrida nos percursos. Porém, conforme mais e mais testes foram feitos, um sistema automático de sensores que enviam dados para o computador, que então recalcula as mudanças, foi criado pela equipe.
Indo além nas descobertas
Por todo esse tempo de pesquisa, o time da VR Coaster fez os mais diversos tipos de experimentos para descobrir os limites dessa combinação de real e virtual e acabou chegando a algumas conclusões inesperadas até então. Uma delas – e a mais importante, para muita gente – é a de que o passeio com o aparelho de realidade virtual elimina a vertigem e o enjoo causados pelos movimentos rápidos e pela velocidade da montanha-russa.
Enquanto mesmo um passeio de montanha-russa virtual – com o usuário sentado na frente do PC, por exemplo – pode causar uma falsa sensação e uma confusão ao corpo do usuário, o retorno sentido fisicamente pelo participante no projeto da VR Coaster, em sincronia com o que é apresentado no visor, garante um senso aprimorado de equilíbrio e segurança. É possível mascarar as partes que dão mais medo, como é o caso da primeira e lenta subida do percurso, por algo mais tranquilo no mundo virtual.
Devido às nossas limitações em perceber com precisão a própria movimentação, pode-se também alterar a percepção de velocidade ou o ângulo das curvas, fazendo com que o trajeto pareça mais amplo e aberto, deixando um espaço bem mais livre para que a equipe criativa trabalhe no cenário e nos elementos do percurso. Outras pequenas descobertas foram feitas, como a possibilidade de usar pontos específicos da pista para induzir movimentação para trás ou o uso de controles como gatilhos para atirar durante a demo que se passa no espaço sideral.
Thomas usou o projeto para ensinar diversos conceitos aos seus alunos do curso de Design Virtual, que podem aplicar a experiência a diferentes ramos da indústria de entretenimento, como cinema 4D ou mesmo video games. Ainda que as patentes do projeto já estejam registradas e a parceria com a Mack Rides siga firme, não há nenhuma notícia sobre a versão comercial da experiência. Você toparia uma voltinha nessas montanhas-russas “tunadas”?
Fontes