Conforme cresce a parcela de pessoas totalmente vacinadas contra o coronavírus, uma nova dúvida surge no horizonte: vamos precisar de novas doses para combater o vírus?
Muito provavelmente sim, dizem os especialistas. E pessoas mais vulneráveis à infecção e com maior risco de morte devem ser, novamente, as primeiras da fila.
Mas, como tudo na ciência, ainda são necessários mais dados para avaliar quando e como a continuação da campanha de vacinação deve ser feita.
“Ainda é uma pergunta sem resposta definitiva", afirma ao TecMundo Filipe Piastrelli, médico infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, de São Paulo. Segundo o especialista, a chegada de novas variantes é um dos principais fatores que complicam o combate à pandemia.
“Percebemos que há uma redução da eficácia da vacina, principalmente da primeira dose, diante da variante delta”, afirma Piastrelli. Assim, a hipótese de que uma terceira dose pode reforçar a proteção contra o vírus e suas variantes vem ganhando força entre os cientistas.
"Mas ainda não há uma evidência robusta na literatura científica que garanta que essa [terceira dose] é uma medida necessária", completa o infectologista.
Idosos recebem vacina contra a covid-19 em Londrina, no Paraná (crédito: Isaac Fontana/Shutterstock)
“Com o conhecimento adquirido nos últimos oito meses, desde o início da vacinação no Reino Unido em dezembro de 2020, nós sabemos que a vacinação com duas doses, independente do fabricante do imunizante, tem perda de eficácia ao longo dos meses para as pessoas mais vulneráveis à doença, que têm o maior risco de adoecimento grave e morte", diz a infectologista Raquel Stucchi, professora na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Para Stucchi, que também é consultora da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), os primeiros grupos vacinados no início da campanha de imunização (profissionais de saúde e pessoas mais velhas), deveriam ter a prioridade para receber a dose extra.
“A dose adicional é um reforço, como já fazemos com outras vacinas, que leva a um aumento na produção dos anticorpos e, portanto, da proteção”, explica a médica.
Mulheres recebem vacina contra a covid-19 no Cristo Redentor, no Rio de Janeiro (créditos: Photocarioca/Shutterstock)
“A dose adicional pode trazer um estímulo para potencializar a memória imunológica do organismo, aumenta o número de anticorpos e faz com que, diante de um contato com o vírus, seja desencadeada a resposta imune de uma maneira mais rápida e eficiente", acrescenta Piastrelli.
Segundo o infectologista, a queda de anticorpos observada alguns meses depois da vacinação não significa necessariamente uma queda da imunidade como um todo, pois o objetivo principal da vacina é gerar uma memória para que, quando o organismo entrar em contato com o vírus, possa iniciar a produção de anticorpos e combatê-lo.
Nesta quarta-feira (18), a administração do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou que, a partir de setembro, os norte-americanos poderão receber uma terceira dose da vacina. O reforço será oferecido às pessoas que receberam os imunizantes da Pfizer e da Moderna oito meses após a aplicação da segunda injeção.
Nos Estados Unidos, a chegada da variante delta do coronavírus SARS-CoV-2 levou a um aumento de casos de covid-19. Mais de 90% das pessoas que morreram ou foram hospitalizadas com a doença não estavam com a vacinação completa.
No Brasil, um estudo da USP (Universidade de São Paulo) e da Unesp (Universidade Estadual Paulista) mostrou que os não vacinados representaram 96% das mortes por covid-19 no país entre os meses de janiero e julho deste ano.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse em encontro com a imprensa nesta quarta que a terceira dose deve começar pelos grupos prioritários que já são seguidos na campanha de vacinação em andamento. Assim, profissionais da saúde e os mais velhos devem receber o reforço primeiro.
O ministro, porém, não informou a data em que o novo ciclo de vacinação deve ser iniciado.
Campanha de Vacinação
Mais de 50 milhões de pessoas estão com o esquema vacinal completo no Brasil até esta quarta (18), segundo dados das secretarias estaduais de Saúde coletados pelo consórcio de veículos de imprensa. No mundo todo, os completamente vacinados já passam de 1,86 bilhão.
São consideradas totalmente vacinadas as pessoas que receberam as duas doses de algum dos imunizantes com uso liberado pelas agências de saúde ou que tomaram a dose única da vacina da Janssen, que foi desenvolvida para ser aplicada em uma dose apenas.
A resposta imunológica fica mais robusta pelo menos duas semanas depois da última (ou única) injeção — este é o tempo médio que o corpo leva para produzir anticorpos e outras células de defesa, e varia de acordo com o organismo.
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